quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Capítulo XVII - Tecnologia

Fazia alguns dias que o celular de Marcelo estava tocando com um som meio estranho. Ele atendia sem conseguir ver quem era. A tela já não acendia mais nenhuma luz depois do banho que o celular tomou dentro do vaso sanitário da casa de Marcelo em uma de suas últimas bebedeiras. Alô, Marcelo? E ele respondeu que sim. E do outro lado Marinis disse: Quanto tempo! Como está? Nem me respondeu a última mensagem que te enviei. O que foi que houve? E Marcelo tratou de pegar uma mentira pra ele em que num dia de bebedeira, achava que tinha mesmo recebido uma mensagem importante, mas não se lembrava de quem pois tinha bebido muito. Tanto que no dia dessa bebedeira, o celular caiu no vaso sanitário e ficou com um som estranho, meio metalizado e sem nenhuma informação na tela. Pela meia verdade de Marcelo. Marinis entendeu que sim. Convidou Marcelo para tomar um café no final da tarde. Marcelo disse que teria muito prazer em tomar, e que inclusive tomaria um chá da tarde, mais apropriado. Marinis segurou o riso do outro lado. Mas hoje não posso!, disse Marcelo. E completou: Tenho uns dias de trabalho pela frente. Muita coisa por preparar, vários eventos e festas acontecendo em diversos segmentos. Tenho que concentrar um pouco no trabalho, doutor. Marinis entendeu que sim. Marcelo lhe pediu o número de seu telefone para que ligasse para ele tão logo tivesse terminado esses compromissos com o trabalho. Nisto ficaram.
Tenho que levar esse celular pra consertar logo. Pensa Marcelo enquanto reacende o cigarro. Como só trabalhava em um turno, Marcelo criava uma rotina de trabalhar sempre pelas manhãs. Dar-se a tarde livre para estar descansado para eventuais baladas na noite. E no começo da tarde não era hora de ninguém falar com Marcelo um assunto sério porque esse momento é só dele. Com as pernas esticadas pra cima, ele escuta o barulho que vem da rua sentado na varanda. A janela à frente de Marcelo o convidava a lembrar novamente da cena do strip tease que tanto o intreteve. Marcelo tem flashs de memória e algumas imagens vem e vão na sua cabeça. Acabado o cigarro, ele resolve colocar uma música. Em baixo volume, ele se estica no tapete da sala. Ali adormece por uma hora. Acorda, estica o braço e puxa o computador. Abre seu e-mail e realmente há muito trabalho por fazer nos próximos dias. 5 festas entre quinta-feira e sábado. Todas com seu merecido direito de serem comentadas na página de Marcelo. Muito trabalho! Pensa Marcelo. Abre o msn ainda off line vê que o e-mail que adicionara algunas dias atrás tinha agora sido substituído por um nome, e ali ele lia Marina. Uma mulher, claro. Comenta consigo mesmo Marcelo. Ri de si mesmo e diz: Isso tá virando um hábito. Muda seu status de off line para on line. Passam-se 10 minutos e o nome de Marina muda de disponível para ausente. Marcelo clica sobre o nome dela e imediatamente uma janela se abre. Começa a digitar, apaga e fecha a janela. Quem será essa mulher? Será aqui do prédio? Ah, mas nem. Que preguiça. Com tanto gato por aí vem justo uma gata. Sai do msn. Aumenta o som da música se levanta e vai arrumar um pouco seu apartamento. Dançando ele dá uma meia faxina na casa. Antes que a tarde termine, Marcelo leva seu telefone celular até uma loja de assistência técnica muito próximo na Afonso Pena. O rapaz diz a Marcelo que o problema não vai ser tão fácil assim de ser consertado e que por isso mesmo vai ficar caro. Mas ao mesmo tempo em que Marcelo pensava que o técnico queria ser oportunista, esse mesmo técnico lhe deu uma dica de ligar para a operadora e como falar com o antendente, ameaçando trocar de operadora, que na loja mesmo da assistência técnica, a atendente, do outro lado da linha estava prometendo uma máximo de 3 dias para que o novo e mais recente lançamento celular de Marcelo chegasse na sua residência. Marcelo saiu satisfeito da assistência técnica. Voltou pra casa, tomou um de seus banhos de banheira de horas. Se aprontou e foi para um coquetel de lançamento de um longa-metragem todo realizado na cidade.

Um microfone inalámbrico instalado no agente da corregedoria estava sentenciando dois policiais em um churrasco na cobertura de um deles. Ali estavam os companheiros da Narcóticos fortalecendo seu laço de irmandade entre eles, dando as boas vindas ao mais novo integrante. Um deles, mais bebado que todos os demais deu a ficha toda, confessando inclusive que tinha ido junto, dirigido, colocado as algemas nos pés e empurrado o Naldo ladeira abaixo. Faltava só o outro depoimento. Mas isso era relativamente fácil de conseguir.
No dia seguinte pela manhã, Marinis aguardava a chegada dos dois detetives. Os dois receberam a notícia do seu delegado que eles deveriam entregar as armas, os distintivos e que eles estavam temporariamente suspensos. Breno foi o que esteve mais fora de si. Mesmo contra sua própria vontade, cumpriram as ordens de seu superior. Ao sairem da sala, foram agarrados por um grupo de 8 policiais, que os algemaram e levaram para salas distintas. Em uma delas, Marinis tenta convencer Breno a assumir sua parcela de culpa, chegando a forçá-lo a falar mostrando o diálogo de seu companheiro, entregando ele. Na outra sala, não tiravam nenhuma informação do companheiro de Breno. Marinis usou a mesma gravação e mentiu dizendo que Breno já havia confessado. E nesse jogo de empurra dali e empurra daqui, os dois acabam que se entregam. Nesse momento, Marinis os coloca frente à frente um com o outro, e ambos escutam uma gravação do outro assumindo o crime e entregando o parceiro. Marinis sai da sala e deixa os dois aí. Eles brigam por uns 5 minutos. Alguns machucados a mais, uns dentes a menos e a camisa branca tinjida de vermelho. Marinis entra na sala, os algema junto com 3 agentes e ordena que sejam levados à penitenciaria. Marinis se dá por satisfeito. Volta a reler tudo o que escreveu a respeito do caso Marisa Prieta. Relê também o texto de Marcelo e começa a fazer suposições fora da sua lógica. Há algumas coisas que não se encaixam no texto de Marcelo. E isso era algo que tinha que resolver diretamente com ele. Olha para o relógio e vê que o tempo está perdido até às 19 horas, quando termina seu expediente. Abre o arquivo do livro que Marcelo está escrevendo e vai ler. Em vinte minutos já está envolvido na história. Tem mais de cem páginas naquele arquivo. Marinis lê tudo por mais de uma vez. É impressionate como é estranha a cabeça de um artista. E esse Marcelo escreve bem. Pensa Marinis. Depois de terminado, cansado e com uma dor de cabeça progredindo, toma um remédio e vai para casa. Encarar, se muito, umas duas cervejas e um amendoim para beliscar enquanto se estirava no sofá. Ali, Marinis dormia mais que na sua cama.