O dia amanhecia tarde na manhã seguinte. Marcelo tinha muito o que fazer, material de fofoca para se inteirar, pois havia dado uma sumida do seu trabalho e da noite de belo horizonte, como ele mesmo sempre chamava, bh night. Levantou, tomou um banho, e foi até a padaria. No elevador, Marcelo encontra com Marina que também descia. Ele não tirou os olhos dela no elevador pois vestia vestido leve e sandálias. Não tinha cara de quem ia trabalhar. Ouvia um rock argentino alto nos fones do celular e não dava a menor atenção a Marcelo. Ele a olhava e pensava: Eu sei que é você. E pensava mais um pouco. Oi, Marina. Ei, Mari, melhor. E quando vai falar o elevador para e a porta abre no terceiro andar. Entram um casal de avós e uma netinha. Eles os espremem no fundo do elevador e Marina encaixa os seios no braço de Marcelo. O avô não tomava muito banho e cheirava mal. Marcelo teve vontade de comentar e olhou para Marina. Ela viu que ele segurava o riso e acenou negativamente com a cabeça. Mexeu o nariz e acenou positivamente com a cabeça e depois sorriu. Marcelo segurou a risada que saia junto a um maldoso comentário que soltaria de fifi que era. Se recompôs e voltou a pensar. Que sorriso lindo. Que olhar encantador. Que perfume gostoso. Que corpinho.. Marcelo?!, se recrimina a si mesmo. Olha para o lado e Marina está olhando para ele. A porta do elevador se abre, Marcelo olha para a porta e a netinha também está olhando para ele. Ele volta se recompor e imagina se deveria ter feito alguma careta ou alguma coisa enquanto pensava em Marina. Quando se dá conta, todos já desceram do elevador e Marina se ofereceu a ajudar os avós a sairem do elevador desgrudando-se de Marcelo. Ela olha para trás e diz: Você não vem? Ele pensa: Oi, meu nome é Marcelo. E o seu? a porta do elevador começa a fechar e ele diz: Oi, eu me chamo Marcelo, e você como se chama. Vai ficando cada vez mais distante as palavras de Marcelo a medida que a porta do elevador terminava de fechar e ele começava a subir. Foi até o oitavo andar. Entra um senhor de terno com cara de advogado. Bom dia, disse Marcelo. Bom dia, quase boa tarde. Respondeu o homem que tirou o celular do bolso e começou a mexer nele. O elevador chegou até o térreo e nem sinal de Marina. Marcelo saiu e foi até a padaria. Padaria que era uma mercearia de tanta variedade de produtos. Desde produtos pra cachorro no caixa, a estante de shampoo. Marcelo comprou o café da manhã e carne para o almoço. Cigarro, e refrigerante. Voltou para casa e no caminho, que era perto, pensou onde estaria indo Marina tão à vontade. Sair para passear no centro não era o mais agradável a se fazer. Barulho e poluição são os ingredientes dessa aventura, pensa Marcelo. Opa, mais história pro livro, comenta em voz alta. Se assusta, dá uma risada e segue até o prédio. Entra no elevador e sobe sozinho até a sua casa. Coloca as compras de uma mão no chão, abre a porta, entra e coloca sobre a bancada a sacola. Volta até a porta e olha para a porta de Marina. Vou tocar lá pra ver se ela está lá, pensa. Pega a sacola, coloca sobre a bancada, volta e toca a campainha. Toca uma, duas, quatro vezes. Acena negativamente com a cabeça e joga as mãos pro alto. O elevador desce. Marcelo olha para o elevador e corre pra dentro de casa. Fecha a porta e cola o olho no buraco da porta. O elevador desce até o térreo. Marcelo se impacienta e olha para as sacolas que colocou sobre a bancada. O elevador está parado no térreo. Marcelo corre até a bancada e pega um pão com queijo e recheio de presunto, seu predileto na padaria. Dá uma mordida e serve um pouco de café na xícara. Volta até a porta e olha outra vez. O elevador está parado, mas parece que é no oito, pensa Marcelo. Dá mais uma mordia no pão. Olha outra vez e o elevador já passa do décimo. Chega no seu andar, a porta se abre, Marina está falando ao celular. Ô, mana, vamos sim. Vai ser muito bom! Traz na mão uma sacola da padaria e entra rápido em casa.
Logo que o elevador fechou e Marina ouviu Marcelo se apresentando, ela entrou em um leve estado de euforia e nervosísmo pois não sabia se estava preparada para se apresentar para ele. Saiu do prédio, correu até a padaria e comprou um saco de quinhentos gramas de pão de queijo. Correu para o outro lado da rua e se escondeu atrás de um carro. Comeu um pouco do pão de queijo e ficou ali escondida olhando para a porta de seu prédio. Viu Marcelo sair e ir até a padaria. Dois adolescentes passaram por ela e começaram a mexer com ela, pois agachada, Marina mostrava muito mais do seu corpo naquele vestidinho. Ela se levantou e se enfezou com os dois rapazes e foi para o outro lado da rua. Entrou no seu prédio e desceu até a garagem. Da garagem, havia uma grade para circular o ar que ela podia ver a rua. Ficou ali, escondida e vigiando o Marcelo. Ai, ai, ai. Tenho que ter coragem, tenho que ter coragem. Repetia para si mesma, Marina. Avistou Marcelo saindo da padaria com duas sacolas, uma em cada mão. Caminhou por quase todo o quarteirão, passou por ela e entrou no prédio. Marina, correu até o elevador. Viu que estava parado no E, onde estava. Marcelo chamou o elevador, ele subiu. Marina subiu de escadas até o térreo. Olhou e viu que era realmente Marcelo quem subia. O elevador parou no décimo segundo. Marina decidiu que ia esperar alguém chegar para ela subir junto. Não demorou muito o mesmo homem de terno que havia descido com Marcelo chega e chama o elevador. Você vai subir? Ele pergunta pra Marina. Vou sim, ela responde, tava só pensando uma coisa aqui, emenda e tira o telefone celular de um bolso no vestido. Coloca os fones e começa a buscar por um contato. O elevador chega e o homem entra. Ela, comendo um pão de queijo, entra no elevador. Alô?! Quem fala? Marina começa a falar no celular. O homem, fingindo-se de planta, dá as costas para ela, olha para a frente e fica somente escutando a conversa dela. Ei, mana. Tudo bem com você, Marina continua. Você nem acredita o que eu tô comendo. Dá uma risada e diz: Isso mesmo! Ai, lembrei de você e decidi te ligar. Uma saudade tão grande. O elevador para no oitavo andar. O homem desce. A porta se fecha e Marina segue. Ju, agora é sério, tô indo naquela viagem pro México que a gente sempre falou. Vamos? Juliana reclama: Será? Ah, não sei. Marina abre a porta e diz: Ô, mana, vamos sim. Vai ser muito bom! Juliana responde que não tem como decidir isso agora, tem uma exposição itinerante em nove cidades européias e que haviam sondado dela criar algo para o tema nove artistas com o nove. Marina entrou rápido em casa escutando a irmã contar do convite e ficou cheia de orgulho dela. Sentou no sofá com o saco de pão de queijo e ouviu Juliana contar do que estava pensando em criar para a exposição. A conversa durou pouco mais que o saco de pão de queijo de Marina, que se despediu insisitindo: Mana, tenho que ir, pensa na viagem do México. Vai ser legal! Juliana disse: Tá, vou pensar. Tchau, beijo, disse Marina. Beijo minha irmã, disse Juliana, se cuida. Desligaram e Marina ficou emocionada, chorando um pouco. A campainha de sua casa tocou. Ela abriu e era Marcelo. Ele viu que ela chorava e ficou calado por alguns segundos e disse: É, acho que não cheguei numa boa hora. Aconteceu alguma coisa? Posso te ajudar? Marina responde que não, Tá tudo bem. É que tava falando com minha irmã no celular. Mas o que posso te ajudar? Já sei, outra xícara de açucar? Marcelo responde que não e gaguejando diz: É, sabe o que é, é que, tava pensando, a gente é vizinho, né? E quem sabe se a gente almoçasse junto, é, um dia desses aí. Marina ri e diz: Hum, eu adoraria. Mas hoje eu não posso. Tenho uns compromisso inadiáveis. Marcelo entende e diz: Claro, um dia desses, como disse. E volta para o seu apartamento. Marina fecha a porta e dá uma risada.
Marcelo termina de comer o pão e a xícara de café pensando: Vou lá e vou me apresentar e acabar logo com isso. Que coisa estranha, conversa um mundo de coisas comigo na internet, quer ir pro México comigo e não fala nada comigo no elevador. Eu sei que é ela. E até que se for ela eu encaro, hein? Mas vou tirar essa história a limpo, e vai ser agora. Abre a porta de casa e vai até a porta da casa de Marina. Toca a campainha e ela abre a porta com lágrimas nos olhos. Marcelo ia puxando um 'Ei' cheio de simpatia quando viu o choro na cara de Marina e ficou sem palavras. Pensou, Ops, acho melhor não provocá-la. E disse: É, acho que não cheguei numa boa hora. Aconteceu alguma coisa? Posso te ajudar? Marina explicou que era por causa de sua irmã e perguntou o que ele tinha ido fazer ali. Marcelo pensando em um resposta rápida, já que havia sido desarmado pelas lágrimas de Marina acaba convidando ela pra almoçar. Marina aceita o pedido, mas não para aquele dia. Marcelo volta até a sua casa. Fecha a porta e pensa: Ela atua muito bem. Mas eu sei que é ela. E se ela quer ir pela internet, vamos pela internet. Vamos ver no que vai dar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário