segunda-feira, 29 de junho de 2009

Capítulo XXX - Suspeitas

Durante o final de semana em Ouro Branco, a rotina era discussões e recordações dos irmãos, visitas ao hospital e comida. O médico suspeitava que o fogão a lenha era o possível catalisador da insuficiência respiratória associada a idade avançada juntamente com o abatimento psicológico após a morte do marido. Gabriela havia conseguido uns dias de folga e passaria a semana cuidando da mãe e depois a levaria para passear alguns dias na praia. Agora, mais que nunca os filhos precisavam reunir forças para ajudar sua mãe. Ricardo, deu a idéia e os três compraram um fogão à gás excelente e se propuseram a todos convecerem à mãe que teria que cozinhar muito menos no fogão à lenha. Ela foi relutante no primeiro dia que lhe falaram, no Domingo. Na segunda-feira pela manhã ela já estava a caminho de casa. Quando ela chegou apresentaram para ela a idéia do fogão, mostraram o modelo e Marcelo e Gabriela pediram que ela pensasse mais na sua saúde. Ela acabou aceitando sorrindo para os filhos. Ricardo compraria por internet em Belo Horizonte e mandaria entregar em Ouro Branco. A previsão era de dois dias úteis. Uma tia levaria a comida nos primeiros dias, Gabriela ficaria até levé-la ao Rio. Ricardo voltava com Marcelo para Belo Horizonte logo depois do almoço. Seu vôo era no começo da noite. No ônibus, os dois dormiram. Quando chegaram, Ricardo não tinha muito tempo considerando a ida ao aperoporto mais o tempo de chek in. Convidou Marcelo para tomarem um café e comer um pão de queijo. Marcelo convidou ele para ir a sua casa. Ricardo lhe explicou que seu tempo era curto e logo o café e o pão de queijo foi o da rodoviária mesmo. Conversaram um pouco sobre o trabalho e ficou nisso. Da rodoviária pegaram um táxi, Marcelo ficou no seu apartamento e depois Ricardo seguiu para o aeroporto. Marcelo olhou para cima e pensou em Marina. Pegou o telefone e olhou as últimas chamadas. Havia ligado para ela diversas vezes no final de semana e ela não atendia. Na rua haviam dois carros parados em local proibído e duas viaturas policiais. Marcelo logo pensou no seu livro e entrou correndo pelo saguão do prédio. Quando entrou viu Marinis conversando com o porteiro. O porteiro apontava para Marcelo quando Marinis se virou para ele. Marcelo! Disse Marinis. E Marcelo respondeu: Marinis? Você por aqui? Novidades do caso da Marisa Prieta? Marinis franze a testa e puxa Marcelo. Entre os dentes, Marinis fala com Marcelo: Tome cuidado na frente de quem fala! Esse porteiro aqui está me dizendo que você ligou para ele na Sexta-feira pedindo o telefone da sua vizinha, Marina? Verdade? Marcelo respondeu assustado se defendendo: Eu?! Pedi sim! Por que? Qual o problema? Marinis olha para Marcelo e diz: Pois é, Marcelo, agora você passa a ser o suspeito número um. Suspeito número um, Marinis? Pergunta Marcelo, que se confunde ao continuar: No caso da Marina Prieta? Marinis lhe corrige: Marisa Prieta, Marcelo! Dela não, mas o de Marina Goulart. Marcelo para por alguns segundos e pergunta Marina Goulart, Marinis? Minha vizinha? Marinis diz que é ela mesma. Marcelo desmaia e Marinis o segura. Com a ajuda do porteiro colocam Marcelo sentado. Após algum tempo Marcelo volta e Marinis olha para ele esperando que diga algo. Marcelo permanece em silêncio e depois diz: A Mari, doutor, morreu? E começa a chorar. Marinis não entende a reação de Marcelo e completa: Você é o principal suspeito de ter matado ela e você fica aí chorando? Marcelo olha para Marinis e diz entre lágrimas. Eu, suspeito! Eu passei o final de semana todo em Ouro Branco, com minha mãe. Marinis suspeita dele e emenda: E que claro você pode provar, né? Marcelo tira os bilhetes do bolso e joga no peito de Marinis. Marinis pede desculpas por desconfiar dele e lhe pergunta qual a relação que ele tinha com sua vizinha. Marcelo lhe explicou que haviam saído e que estavam planejando fazer uma viagem juntos. Mas que ela havia brigado com ele na Sexta-feira. Marinis franziu novamente a testa e repetiu: Brigado? Como assim? Você esteve com ela na Sexta-feira? Que horas? Marcelo diz que não esteve. Até marcamos, sabe Marinis, mas eu atrasei no serviço aí liguei pra ela. Como eu não tinha o telefone dela, liguei para a portaria pra pegar o telefone dela. Aí ela ficou brava comigo porque eu me atrasei pro nosso encontro. Marinis questiona Marcelo: Mas se vocês saíam juntos e são vizinhos, como você não tinha o telefone dela? Marcelo, vendo que estava sendo interrogado e sua verdade sendo colocada a prova contou a Marinis: Olha, Marinis, assim, ó. Eu fazia muito tempo, mas muito tempo mesmo que não saía com uma mulher, aí, a gente começou a conversar por internet. Depois eu descubri que ela era minha vizinha e era tímida. Depois superamos essa fase inicial e saímos. E foi ótimo. Depois conversamos mais por internet e íamos nos encontrar de novo na Sexta, na lan house aqui pertinho de casa. Eu, ela e a Bia, mas minha mãe passou mal e eu tive que ir pra Ouro Branco. E até tentei ligar pra ela várias vezes, mas o telefone chamava até desligar. Marinis olha para Marcelo lhe diz: Então acho melhor você não subir agora. Vem cá comigo, por favor? Você conhece esse porteiro? Marcelo acena positivamente com a cabeça. Os dois vão até o porteiro e Marinis lhe pergunta até que horas ele trabalhava. O porteiro respondeu que variava, tinha dia que era até às oito e meia e tinha dia que largava às sete meia. Dependia das trocas que vaziam entre os porteiros. Marinis lhe pergunta que horas ele largou o serviço na Sexta. O porteiro assustado, responde ao delegado: Olha, doutor, vou falar a verdade pro senhor, na Sexta eu tinha combinado de sair daqui com o outro porteiro às sete e meia, ele atrasou, e eu tinha que buscar minha sogra na rodoviária e saí daqui era vinte pras oito e ele ainda não tinha chegado. Marinis olha com reprovação ao porteiro e volta a lhe perguntar: E esse porteiro, que horas chega hoje? O porteiro disse que era no horário normal. Marinis olhou para o relógio e ainda faltava algum tempo. Se convidou a tomar um café na casa de Marcelo. Marcelo, sem escapatória disse que sim apesar do cansaço da viagem. No elevador, Marcelo disse à Marinis: Marinis, eu quero vê-la, por favor? Marinis comentou com Marcelo: Olha só, eu acho melhor não. A Marina morreu enforcada e antes foi presa, amordaçada e torturada com queimaduras na pele. Marcelo se assustou com a descrição do delegado. Quando chegaram no seu andar. Marcelo viu a faixa listrada na porta do apartamento de Marina. Do lado de dentro alguns peritos tiravam fotos e comentavam sobre o que encontravam. Marinis volta a chamar a atenção de Marcelo para seu apartamento: Marcelo, e o nosso café? Marcelo respondeu instintivamente: Quê? Café? E Marinis continou enquanto puxava Marcelo para o seu apartamento: Foi a assistente dela que ligou dizendo que tinham um compromisso no Sábado de um trabalho que estavam finalizando para entregar na Segunda-feira. Enquanto Marcelo fazia o café conversaram mais a respeito de Marina. Marinis pediu a Marcelo que contasse mais sobre ela. Ele contou sobre a forma como se conheceram, a viagem que fariam juntos, sobre a noite que passaram juntos e mostrou-se bastante apaixonado por ela. Marinis ia anotando algumas informações no seu bloco de notas. Quando se deu conta já passavam das oito e Marinis disse que tinha que ir. Marcelo pediu mais uma vez para ver Marina. Marinis insistiu que se tratava de um assassinato muito estranho e que a cena chocaria muito a ele. Marinis lembrou dos textos que lera de Marcelo e resolveu dar a ele a chance de ir com ele falar com o porteiro: Marcelo, vou ali conversar com o porteiro que cubriu o outro turno. Ela morreu, Marcelo, era entre três e quatro da manhã. Marcelo se assustou e aceitou o convite. Desceram o elelvador e foram até o porteiro. Quando chegaram, Marinis conduziu novamente a situação. Se apresentou como delegado e foi logo perguntando ao porteiro se ele lembrava de alguém indo ao apartamento 1202 na Sexta-feira. Ele pensa muito pouco, pois já havia sido advertido pelo colega sobre o porquê da polícia ali e diz: Não, ninguém! Marinis acha a resposta do rapaz muito rápida e insiste em lhe perguntar se havia acontecido alguma coisa estranha naquela noite? Ele insiste que não. Marinis segue pressionando até que o porteiro olha para Marcelo e diz: Teve uma moça procurando ele. Lembro porque foi a primeira pessoa que chegou logo depois de mim. Eu cheguei era umas oito e ela chegou falando no celular com o Marcelo e disse que ele tava esperando, no 1201. Eu olhei a caixa de correspondência e a do 1201 era do Marcelo mesmo e tava vazia. Imaginei que ele já tinha mesmo chegado. E ela já foi logo chamando o elevador, e subindo. Logo depois chegou a dona Celeste com seus dois cachorros e fizeram cocô bem aqui na porta. É isso, lembrei doutor! Isso foi bem estranho. E eu tive que limpar porque de noite já não tem mais faxineira. Marinis escuta tudo com atenção. Marcelo emenda uma pergunta: E com o cocô do cachorro e o trabalho de limpar você não lembrou de me interfonar e dizer que essa moça estava subindo? O porteiro se sente culpado e diz que não. Me desculpa, senhor. Mas é que com essa confusão toda eu me esqueci mesmo. E depois a mulher não desceu mais. Sempre vem tanta gente esquisita nesse apartamento seu. Marcelo retruca: Meus convidados não são gente esquisita nada. Tem uns excêntricos, mas esquisito não tem nenhum! Marinis intervém e diz: Gente esquisita? Você se lembra de como ela era. Lembro pouco, doutor. Lembro que era grande e gostosa. Marinis olha em volta e pergunta: E o nome dela? E porteiro diz que não perguntou. Marinis vê um livro de registro de visitantes sobre a mesa e olha há algumas mulheres na Sexta-feira. Ah, ela assinou o livro também! Disse o porteiro se lembrando. Lembro até que foi por isso que não chamei o Marcelo pelo interfone. Marinis pega seu bloco de notas do bolso. Olha, folheia algumsa páginas e depois pergunta o nome do porteiro. Pega o telefone e diz que ele é uma testemunha. Chama Marcelo para subirem. No elevador, Marcelo pergunta a Marinis o que ele havia encontrado no livro e Marinis lhe revela que havia uma Beatriz entrado no prédio com o número de outro apartamento. Se despede de Marcelo e volta as suas investigações. Marcelo pede a Marinis para participar mais da investigação. Marinis lhe responde: Você já está participando, Marcelo. Muito mais do que você pensa. Agora vai descansar um pouco e deixa eu fazer meu trabalho. Depois conversamos mais. Tá? Marcelo foi obrigado a concordar com Marinis o levando até a porta de sua casa. Quando fechou a porta, Marcelo colou o olho no buraco da porta e viu Marinis voltando até a casa de Marina e chamando um detetive para conversar. O detetive sai e Marinis fica observando o que seria Marina morta na sala. Caminha lentamente até a porta e a fecha. Ainda com a mão na maçaneta, Marcelo vira de costas para a porta e agacha chorando por Marina.

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