quinta-feira, 23 de julho de 2009

Capítulo XXXII - Quase

Marcelo estava há quase 10 dias ligado no computador e nada de Bia, de ana e nem de Marinis. Mais uma vez estava ficando de fora das investigações. Era como pensava Marcelo naquela tarde quando pegou o telefone para ligar para Marinis. Alô, respondeu Marinis. Oi Marinis, é o Marcelo. Tudo bem? e antes de Marinis responder que sim ele continua, Eu tô bem também, tó ótimo sabe. Mas e a assassina? Novidades. Marcelo! Interrompe Marinis. Marcelo se cala e pede desculpas. Marinis retruca, te disse que nem escirto e nem dito, e telefone é pra conversas rápidas, não é mesmo? Eu estou chegando de viagem agora e estou um pouco cansado. Se puder, conversamos depois. Marcelo retruca. Mas doutor, sempre depois. Marinis lhe responde: Sério Marcelo, depois conversamos. Estou chegando de viagem agora. Até mais. E desliga no meio do tchau de Marcelo. Marcelo intrigado com a forma com que Marinis lhe cortou liga o telefone e começa a discar de novo para ele. Antes de terminar de discar diz em voz alta: Assassina! E desliga o telefone. Pensa que ter mencionado a palavra assassina pode ter causado aquela reação em Marinis. Abre um resto de vinho, acende um cigarro e vai para a varanda. Leva seu computador e suas histórias. Escreve um pouco menos que mais e fica divagando sobre como as histórias de duas vizinhas assassinadas se cruzavam justo ali, na sua rua, a altura de seus olhos. Na internet nada de novo. Levanta da cadeira da varanda, deixa o computador ali e deita no sofá na sala. Adormece lentamente. Antes de dar um primeira roncada é acordado com a campainha tocando. Marcelo acorda assustado e logo imagina algo suspeito. Se levanta devagar e caminha lentamente até a porta. Antes de chegar, a campainha toca outra vez. Ele pergunta: Quem é? Juliana, respondeu do outro lado. Irmã de Marina, completou depois de um silêncio de Marcelo. Ele então abriu a porta. Desculpando-se pede a Juliana que entre. Ela aceita o convite e entra. Carrega nas mãos um pote redondo. Marcelo observa com indiscrição e Juliana diz: É por isso mesmo que estou aqui. Conhecia muito bem minha irmã e sempre fomos grandes amigas. Eu sabia de você e da viagem que planejavam fazer. Marcelo interrompe e pergunta: Tudo? Juliana descontrai e responde: Tudo que era para eu saber. E os dois acham graça e riem. Juliana volta a falar. Sei que minha irmã lhe tinha muito apreço, carinho e quem sabe até amor. Sei também que sua recíproca me parece verdadeira. Então venho lhe convidar para ir comigo à México, espalhar as cinzas de minha irmã? Marcelo responde assustado: México? Cinzas? Juliana explica a ele que se tratava de um pacto que as duas haviam feito. Que as cinzas de uma e de outra deveriam ser espalhadas no México. Passei as duas últimas semanas cuidando de burocracia e de papelada de bens e de négocios que se transferiam e se doavam. Dinheiro que ia e vinha. Entre esse tempo, tive a oportunidade de ver que Marina estava adiantada com sua agente de viagens. Tinha já agendado passagens e hospedagem em Cuba e México. Acabei cancelando a ida a Cuba, mas sigo com México pelo roteiro. De lá vou direto para Europa. O México é um sonho antigo de minha irmã, vamos? Marcelo diz que não pode. Juliana diz que ele não deve se preocupar com o dinheiro, que ele teria a viagem toda custeada. Marcelo agradece e mais uma vez reclina o convite. Explica a Juliana que sua mãe encontrava-se em um mal estado de saúde e que ele não poderia realizar uma viagem internacional naquele momento. Juliana entende e o abraça. Quando se soltam, ela abre o pote e joga um punhado de cinzas no ar dizendo: Um pouco dela por aqui. Sorri. Dá um abraço em Marcelo, lhe dá um beijo, se despede e sai. Marcelo, meio chapado da tarde não entendeu muito bem o porque dela ter ido tão depressa. Com tudo! Disse em voz alta. Voltou até a varanda e meia taça de vinho de ontem esperava Marcelo. Bebeu e achou bom. Foi até a cozinha buscar um pouco de água. No caminho o telefone tocou. Era Marinis: Oi, Marcelo! Tudo bem? Marcelo respondeu que sim. Que, que, que rápido você me ligou, hein, doutor? Riem da gaguejada de Marcelo. Marinis continuou. Aquela nossa conversa, ainda tá de pé? Marcelo tomou um gole de água e disse: Claro, Marinis. Na hora que você quiser. Marinis retruca: Que tal agora, Marcelo? Marcelo ri e responde com outra pergunta: Agora, Doutor? Mas aonde? E Marinis sugere que seja na casa de Marcelo. A não ser que o jornalista já tenha algum outro compromisso? Marcelo hesita por alguns segundos e convida a Marinis que venha. Marinis agradece o convite e diz estar estacionando o carro perto da casa de Marcelo. Marcelo se supreende e se dá conta de que Marinis havia ligado para sua casa e não para seu celular. Desliga e dá uma limpada na varanda. Coloca água para esquentar para um café e vira o resto do vinho dizendo que é pra não desperdiçar. Toma mais um copo de água quando a campainha soa. Marcelo sai gritando sozinho: Mas num tem mais porteiro nesse prédio não? Abre a porta e está Marinis sem entender a Marcelo lhe explica que o porteiro havia lhe reconhecido e deixado que subisse. Marcelo diz que ele entendera errado, mas que não vazia diferença. É um longa história. Marinis disse que adorava longas histórias, dá uma fungada e diz: Ainda mais com café novinho! Marcelo acha graça dele enquanto ele entra. Caminha até a bancada da cozinha e se senta. Que história é essa, Marcelo? Visitas inesperadas? Marcelo acha engraçado a expressão de Marinis e ri. Sim, e não, doutor! Era a irmã de Marina, Juliana. Veio me trazer cinzas e uma viagem para o México. Marinis o interrompe: Você vai para o México? Marcelo diz que não e antes de explicar porque, Marinis continua: Por que você não pode sair do país não! Marcelo revida assustado: Eu não posso?! Marinis recoloca: Não, na verdade você pode sair sim. Você não é mais um suspeito. Marcelo respira aliviado e pergunta a Marinis: Mas então posso saber porque o senhor queria me ver tão rápido? Marinis lembra a Marcelo do nem escrito e nem dito e lhe conta que acabava de voltar de viagem de Pouso Alegre, no sul. Havia uma coincidência de duas mortes estranhas na cidade também. Fui até lá e descobri que essa assassina ou é de lá, ou passou por lá. Mas fiquei sabendo da morte de duas jovens. E vendo que Marcelo estava ansioso por histórias policiais, tamanha era a cara de satisfação que se abria enquanto Marinis lhe falava, seguiu dando mais detalhes. Uma delas era guitarrista de uma banda e teve os tímpanos estourados antes de morrer enforcada nas cordas da própria guitarra. Um enforcamento, ou um outro enforcamento. Dependendo do ponto de vista. E a outra morte também foi bem estranha. A menina era a mais bonita da escola. Foi encontrada com o rosto todo cortado, seios mutilados, pernas com riscas de um possível bisturi. Morreu de tanto perder sangue, amarrada a um cadeira. Descubriu-se depois que ela, filha de dentista, havia feito quadro cirurgias plásticas. Acabei achando tudo isso muito estranho e fui até lá verificar um pouco a história. Temos já várias possibilidades sobre essa possível assassina. Suspeita-se que ela não seja de Pouso Alegre, visto que não há graus de parentesco e nem de amizade. Talvez uma forasteira? Mas que importa! O importante é que vamos pegá-la. Marcelo se assusta e pergunta: Pegá-la, Marinis? Eu quero ir junto! Eu posso ir junto? Ah, deixa, Marinis? Deixa, vai! Ô, doutor! Marinis acha engraçado o jeito afeminado como Marcelo fala e começa a rir. Marcelo ri também. Marinis, para desviar o assunto conta a Marcelo que quando chegou de viagem, haviam encontrado um outro caso em Belo Horizonte. Encontramos uma cabeleireira no bairro Floresta. Enforcada com secador. O rosto e os braços queimados com chapa alisadora de cabelo. As unhas arrancadas e o cabelo cortado com vários cortes na cabeça. A polícia suspeita que o couro cabeludo também tenha sido queimado antes da vítima morrer. Não se sabe? Marcelo interrompe e diz: Como assim, a polícia? Você está a frente desse caso, não é Marinis? Marinis disse que infelizmente esse da Floresta ele não teve como acompanhar. Marcelo se adianta e diz: Ah, já sei. Foi enquanto você tava viajando, não foi? Marinis ri e diz: Não, Marcelo. Não foi. Na verdade, foi antes até da Lady Mary. Mais precisamente, vinte e três dias antes. O que me uniu a esses outros três casos é uma suspeita, a total falta de pistas para o assassino e a forma como todas as vítimas sofreram torturas antes de sertem mortas. E Marinis continua. Apesar de vivermos num país em desenvolvimento, tratando-se de segurança, a tecnologia e a inteligência são de primeira linha. Já temos algumas informações cruzadas entre todos esses casos, acessos a internet, e suspeitas, e não suspeitos, se me permite assim dizer? Marcelo concorda e pergunta em seguida: Mas ainda não entendi o que você veio buscar aqui Marinis. Marinis ri e diz: Vim conversar, Marcelo. Só conversar. Não estou aqui como policial. Estou aqui como civil. Marcelo se alegra e volta a perguntar: Mas a história de pegá-la? Eu quero participar disso aí, Marinis! Sempre quis ser reporter policial. É minha grande chance, vai! Marinis acha graça e diz: Não dá, Marcelo. É perigoso. Marcelo insite que ele conte pelo menos o que planeja. Marinis cede e conta a Marcelo que desde a última conversa dos dois eles haviam montado uma equipe que estava enviando spams de e-mails a ana_._@live.com no qual em alguns deles eles adicionavam um coincidência que ele havia descuberto naquela última vez na casa de Marcelo. Todas as vítimas tinham algo de mari, mary ou marys no seu e-mail. Então enviamos alguns e-mails que monitoramos. Acredito que ela seja uma sociopata e não uma psicopata, entende? Marcelo acena com a cabeça sorrindo como que sim e diz: Uma serial killer, né doutor?! Marinis acha graça e diz que também. Que o importante era que ela havia mordido a isca. Agora era Ana Clara e convesava com uma suposta fotógrafa profissional, uma detetive do departamento de inteligência. E logo logo nós vamos pegá-la. Marcelo aproveita: Nós, Marinis? Marinis ri e diz: É, Marcelo, nós. Vamos pegá-la!