domingo, 3 de maio de 2009

Capítulo XXV - Virada

Alguns dias se passaram e Marcelo nem havia se dado conta do passo tempo. Foi trabalho em cima de rotina, festas, fotos, textos, bebida, prazos, ressacas e o tempo que lhe sobrava, somente queria dormir. Quando se deu conta, fazia muito tempo que havia falado com Marinis pela última vez. Ele não tinha dado mais nenhuma notícia. Não tinha ligado e nem desvendado o caso, pois o único hábito que Marcelo conseguia manter mesmo quando o trabalho apertava era ler todo o jornal todos os dias. E no jornal, a seção que mais lhe interessava nem mesmo era a sua, essa ele via só mesmo para se orgulhar e conferir se estava tudo correto. A parte que Marcelo lia primeiro era sempre a de Polícia. Pegou o telefone para ligar para Marinis. Enquanto buscava o nome do delegado, Marcelo se lembrou que tinha um coquetel para ir naquela segunda-feira. Era um vernissage de um talentoso artista da capital, e Marcelo nem precisava muito ir, pois sua equipe poderia cubrir tranquilamente o evento, mas ele, particularmente, gostava do trabalho do jovem artista. Antes de chegar no nome de Marinis, Marcelo desistiu e pensou: Melhor amanhã, pois hoje chego cedo, não bebo muito, e amanhã e depois é folga, finalmente! Pegou o laptop e ligou no som, colocou uma música brasileira suave. Começou a cantar junto. A letra falava de um amor impossível entre pessoas totalmente diferentes, de mundos opostos, mas que insistiam em buscar alguma forma para que se entendessem e ficassem juntos pois se amavam. Marcelo começou a pensar na letra da música e lembrou de Marina. Ficava se recriminando em pensamento por ser uma relação hetero, mas ele sentia um carinho especial por Marina, ela despertava nele confiança, inteligência e algo de libído. Marcelo se explicava o que estava acontecendo para poder se justificar porque estava sentindo aquilo por uma mulher. Já faz algum tempo que não saio com um bofe, deve ser isso! Falou Marcelo abrindo o msn. Entrou e viu Marina, ocupada, como sempre. Logo ficou on line e começou a conversar com ela. Conversaram por mais de hora. Entre eles a conversa fluia, iam de um assunto ao outro com facildiade, discutiam, polemizavam, se entendiam, explicavam-se, e até sonhavam. Marcelo, no meio da conversa pediu licença a Marina que seu telefone estava tocando e era do trabalho. Marina disse que ele tomasse o tempo que precisasse, que ela também tinha que enviar uns e-mails ali. Marcelo estava mentindo. O telefone não tocava nada e ele foi para a varanda fumar um cigarrro. Acendeu o cigarro e sentou olhando para a janela de Pietra. Lembrou um pouco mais das cenas que havia visto. Notou que com o passo do tempo, era cada vez menos claro na sua memória o que tinha visto. Que aos poucos uns detalhes iam se perdendo. Já não lembrava muito bem com que mão havia sido dado o tapa, se com a esquerda ou com a direita. Quando estava quase terminando o cigarro, Marcelo lembrou de porque havia dado um tempo fumando. Era mais que matar seu vício, era para pensar sobre Marina. Marcelo pensou por quase vinte minutos e decidiu que se deixaria levar por isso que estava sentindo por Marina, que se tudo talvez fosse absolutamente e totalmente diferente, poderia funcionar. Lembrou da música e cantarolou um trechinho que falava que eram de mundos diferentes. Voltou ao computador pensando que se arriscaria antes por aqui do que em uma viagem no México, pois estava realmente determinado a ir com Marina à Cuba e México. Tinha muita vontade de conhecer o México por conta de um sonho que tinha tido quando era adolescente. Sonhou que era membro de uma tribo Maia, um membro com um certo perstígio, talvez um sacerdote. Quando abriu o msn outra vez, ele já estava ausente. Marina também estava ausente. Ele a chamou e ela não respondeu. Ele então lhe fez um convite para que ela o acompanhasse no vernissage que ele tinha para ir naquela noite. Sabia que um convite como esse ela não poderia recusar, pois o que mais atraia Marcelo, era como Marina utilizava sua inteligência para consumir cultura. Mas Marina não respondeu. Marcelo esperou por mais um tempo. Nada de Marina. Olhou para o relógio e se aproximava das seis da tarde. Foi até a cozinha e colocou uma água para fazer café. Voltou e não havia nenhuma resposta de Marina. Pensou, se o coquetel começa às oito, melhor eu falar com ela agora. Marcelo escreveu no msn: Marina? Se levantou, abriu a porta e bateu a campainha do apartamento de Marina. Ela demorou para atender, e depois da segunda vez que Marcelo chamou ela abriu a porta. Marcelo olhou para ela e sorriu: Ei, você gostaria de ir a um vernissage comigo hoje? Preciso saber pois preciso pedir para colocar seu nome na porta. Marina, sem fôlego, sorriu e acenou com a cabeça positivamente. Perguntou gaguejando: Que, que, é... que horas que é? Marcelo riu e disse que às oito. Mas quanto tempo você precisa pra se arrumar? Marina disse que não muito. Marcelo disse podemos beber um vinho lá em casa antes de irmos então. Te espero às sete, pode ser? Marina disse: Ahãm!Quero dizer, sim, às sete. Marcelo achou graça e voltou para sua casa. Marina fechou a porta e saiu correndo. Marcelo pode ouví-la correndo antes de fechar sua porta. Desligou a àgua fervendo e passou o café. Saiu do msn e viu que Marina havia lhe respondio: Ei, Marcelo, desculpa, tava no banho. Banho!?, pensou Marcelo. Mas é hoje que vamos dar a virada. Aumentou o som, tomou o café e foi tomar um banho. Saiu do banho e colocou uma garrafa de vinho na geladeira. Vestiu roupa, preparou um cigarro e foi fumar na varanda. Passavam poucos minutos das sete quando a campainha tocou. Marcelo apagou o cigarro, deixou o cinzeiro na varanda e abriu a porta. Era Marina. Estava linda em um vestido que valorizava suas curvas e ainda era super moderno. Tinha um laço na cabeça e uns sapatos que pareciam de personagem de desenho animado. Estava uma típica cult da arte. Marcelo convida ela para entrar e diz que ela está linda. Ele dá um beijo no rosto dela e sente que ela leva um perfume delicado e suave. Ela olha para a porta da varanda e comenta: Você tem varanda aqui, né? Que bom que é esse seu apartamento. Marcelo agradece: Ah, obrigado. Eu gosto muito dessa varanda mesmo. Tem tanta história. Ainda te conto. Ele abre a geladeira e tira um queijo da gaveta. Coloca sobre uma tábua na bancada que divide a sala da cozinha e pega uma faca na gaveta. Corta um pedaço e prova. Hum, está bom! Você aceita? Marina, que estava analisando a sala de Marcelo diz que sim. Ai, eu adoro queijo. Marcelo diz: Então, aproveite, que esse tá uma delícia. Marcelo pega o vinho dentro da geladeira enquanto fala: E para beber, um delicioso vinho chileno. Coloca a garrafa sobre a bancada e busca pelo abridor na pia. Acaba encontrando ele em cima do microondas. Abre a garrada de vinho e serve um pouco na taça para Marina. Ela levanta a taça contra a luz e a balança levemente, coloca o nariz dentro do copo e cheira, depois degusta o vinho. Está muito bom, pode servir. Diz Marina. Marcelo levanta as sobrancelhas e comenta: Vejo que você entende bem. Ela, ficando um pouco envergonhada, responde: É, pois é, minha mãe sempre fez muita questão que fosse bem educada culturalmente. Marcelo serve uma taça para ele e volta a encher o copo de Marina, que havia bebido a anterior muito rápido. Marina estava nervosa por estar ali com Marcelo e mais ainda por ele ter dito que iria colocar o nome dela na porta e não ter perguntado o nome dela. Quando o vinho já estava quase acabando, Marina perguntou a Marcelo: Foi fácil colocar meu nome na porta? E Marcelo, percebendo o jogo dela, respondeu somente que sim. Olhou no relógio e já passava das oito horas. Acho melhor irmos, disse Marcelo. Já tá na hora. Marina deu um grande gole na sua taça de vinho e levantou de uma vez. Deu uma balançada, desequilibrou e Marcelo lhe ajudou, segurando pelos braços. Eles tiveram a boca bem próxima nesse momento. Marcelo a olhou nos olhos e ela olhou de volta. Quando ela tentou fixar o olho em Marcelo, seus olhos viraram e ela desmaiou. Marcelo a deitou no sofá e correu até a cozinha. Encheu um copo de água, pegou o saleiro e uma pedra de gelo na geladeira. Passou a pedra de gelo nos pulso e na nuca de Marina. Ela abriu os olhos e Marcelo lhe disse: Você levantou muito rápido e desmaiou. Sua pressão deve ter caído, toma uma pouco de sal. Marcelo colocou um punhado de sal dentro da boca de Marina e disse: Engole que vai te fazer bem. Marina fez uma careta e disse: Credo, fiquei com a boca toda salgada. Marcelo lhe deu o copo de água. Ela tomou todo o copo e se levantou devagar. Marcelo a acompanhou até a cozinha onde ela tomou mais dois copos de água. Marina estava melhor e foram para o vernissage. Marina desceu no elevador abraçada a Marcelo. Chamaram um táxi e foram. Quando chegaram lá, Marina já estava melhor. Se recompôs e se apresentaram na portaria. O segurança logo identificou Marcelo. Oi, Marcelo tudo bem? Marcelo respondeu que estava tudo ótimo. O segurança olhou na lista e disse, você deve ser Marina, certo? Marina assustada respondeu que sim. Entraram e Marina ainda tentou colocar o assunto a Marcelo sobre ele saber o nome dela, mas lá dentro, Marcelo não parava por um único segundo. Eram fotos, abraços, beijos, conversas, comentários sobre as obras. E somente algumas taças de champagne depois e assuntos esgotados, foi que Marcelo consegiu apreciar as obras, Marina, já tinha visto e feito suas considerações sobre todas elas. Viu Marcelo olhando um quadro que ela havia gostado muito. Chegou até ele por trás e disse: Tão simples e carrega uma mensagem tão bonita. Marcelo respondeu sem virar para trás: Tem toda a razão! Tem toda a razão. Virou-se e viu Marina. Ela levanta a taça e oferecia um brinde. Você gostou? Marcelo disse: Desse mais que todo o resto. Ela comentou: Eu também. Agora me responde uma coisa? Como você sabia meu nome? Marcelo olhou para ela, sorriu e disse: Ora Mari, não temos mais tempo para perder, não é verdade? Ela olhou para ele e sorriu. Ele sorriu para ela também. Seus rostos se aproximaram e se beijaram. Marcelo abriu os olhos, olhou para os lado e interrompeu o beijo. Mari, acho melhor irmo embora. Tô cansado desse lugar, o que você acha de tomarmos uma última champa lá em casa. Marina pensa por um tempo. Olha para o quadro e volta a olhar para Marcelo, que já está conversando com o garçom pedindo uma garrafa de champagne. Marina chegou até o artista e voltou a fazer uma outra proposta para comprar aquele quadro. Durante a noite já havia feito uma proposta mais barata pagando a vista e ele havia recusado. Voltou e pediu apenas 15% de desconto e disse que queria muito aquele quadro. O jovem viu que deveria ser realmente importante para ela e aceitou a oferta de Marina. Ela pegou o cartão dele e disse que entraria em contato no dia seguinte. Quando Marina voltou, Marcelo já estava ao lado da porta com duas champagnes em uma sacola. Pegaram um táxi logo na porta e rapidamente chegaram em casa. No trajeto, nenhuma palavra. Quando entraram no elevador, Marcelo dirigiu-se a Marina e disse: Me desculpe, não sei porque eu fiz aquilo lá. Marina olhou assustada para Marcelo e respondeu: Tudo bem, não se preocupe. O elevador chegou e Marina foi em direção ao seu apartamento. Marcelo lhe interrompeu. Você não quer vir aqui, tomamos essas duas champagnes e conversamos mais um pouco. Marina, confusa, disse que achava melhor que não. Marcelo lembrou do que havia pensado pela tarde e que se jogaria na da Marina. Foi até ela, a segurou pela cabeça e lhe deu um beijo. Eles entraram no apartamento de Marina mesmo. Depois de beberem um das champagnes, já estavam pelados na cama de Marina. Marcelo fez sexo com Marina de maneira carinhosa e ela de forma selvagem, ambos gostaram do que tiveram do parceiro. Após terminarem abriram a outra garrafa e conversaram, esclarecendo a história da internet e Marina assumindo que era sua timidez que a fazia se esconder atrás do computador. Conversaram também sobre a opção sexual de Marcelo e a conversa chegou em um momento que ambos decidiram que deveriam esquecer o passado e se concentrar no presente. Antes mesmo de terminarem a segunda garrafa já estavam transando novamente. Quando terminaram, pelados, dormiram na cama de Marina.