Era uma vez um blog... Um espaço onde o autor escreve um livro on line. Livro: Pela Janela - Romance Policial .. Os capítulos estão à direita dessa página..
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
Capítulo IX - Colarinho
Estava entre abrir a terceira cerveja para aquele estranho senhor quando ele lhe interrompeu: Você se lembra de mim na outra noite? O garçom, um rapaz magrelo de seus 40 anos tinha um bigode e alguma pasta que deixava o cabelo sempre alinhado e penteado para trás, abriu a cerveja, anotou em um papel logo embaixo do balcão, na direção de Marinis o terceiro palito da conta. Pensou, olhou para Marinis por um momento e disse que não, que não se lembrava dele. Parece difícil, doutor, mas eu me lembraria do senhor. Ainda que aqui venha muita gente, do senhor eu me lembraria. Não é o tipo que vem aqui com muita frequência. Marinis interrompe ao garçom justo no momento em que parava para respirar e lhe pergunta: Mas você trabalha aqui toda noite, não? E com o sim e um pouco mais de prosa fiada, Marinis já tinha conseguido nova informação. Kim tinha saído porque sua mulher reclamava de dores e um possível parto prematuro de seu primeiro filho. E uma porção mais, por conta da casa, doutor! E Marinis perguntou: Mas porque me chama só de doutor. E o garçom espontâneamente responde que ele tinha toda pinta de doutor e de polícia. Um detetive ou mesmo um delegado. Marinis ficou instigado com tamanha perspicácia do garçom. E mudou para o assunto que lhe interessava, se o garçom sabia alguma coisa daquela madrugada de quinta e descubriu que ele descansava nas segundas ou nas terças e seu turno o da noite e da madrugada. Muito cheio de dedos, Marinis lhe perguntou se lembrava de alguma briga que rola por causa da bebedeira e ele disse que sim. Em um quinta feira, de madrugada, faz alguns dias e lhe contou sobre o golpe da puta e do cafetão. Que fazia quatro semanas que rolava e que aquilo já o incomodava. Marinis logo se enterou do golpe pelos relatos do garçom. E entendeu tudo o que havia passado.(.)(.) E logo se deu conta que o garçom conhecia o tal do Renato que mencionara o nome e teria sido detido naquele dia. Estranha história., lhe disse Marinis dizendo que não havia nenhum registro na polícia dessa prisão. E lhe servindo a saideira, o que faltava para Marinis terminar de juntar um dos quebra-cabeças. Renato é irmão de um doutor igual o senhor. , lhe respondeu o garçom. Marinis surpreso com a informação perguntou o nome do rapaz. Giuliani. Respondeu. Marinis pediu a conta e foi a banheiro. Quando voltou estava Giuliani na parte de dentro do balcão onde o atendia. Aqui esta sua conta, senhor. Marinis pagou e saiu. Quando saiu escutou "arrivederci". Entrou no carro, parou por alguns segundos e viu um pequeno filme passar entre imagens e sons a sua cabeça. Um colarinho levava uma bandeira do Brasil e o outro uma da Itália. Giuliani. Não demorou muito para entender que ele falava italiano e portugês. Voltou do carro e perguntou porquê. aproveitou da sua embriaguês e lhe chamou e perguntou com alguma cerimônia: Desculpe a pergunta, mas você é uma garçom bilíngue? E Giuliani respondeu que sim. Filho de mãe e avós italianos aprendeu as duas línguas desde novo e que ele usar aqueles dois pins dava crédito para o bar. Igual Ramón, um uruguaio que falava portugês e espanhol. Levava suas 4 estrelas com muito orgulho pelo grande esforço de toda a equipe. Marinis se pôs pensativo. Pediu uma água e sentou. Giuliani trouxe a água e perguntou se sabia mais alguma coisa de Renato. Giuliani se surpeendeu que ele gaurdara o nome do rapaz mas disse que sim. Renato era playboy. Estudava em faculdade e era cada vez frequentador mais assíduo do bar. Umas vezes vinha o irmão dele busca-lo, mas nunca com carro de polícia. Com o carro, aquele dia tinha sido a primeira vez. Marinis perguntou: Então você sabe quem é o irmão de Renato? E Giuliani disse que o irmão não sabia o nome, mas a prostituta conitnuava fazendo ponto na região, e que quando vinha no bar estava sempre sozinha. Que o nome dela ele descobriría fácil. Marinis agradeceu e disse que voltaria em alguns dias. Foi até o carro e quando entrou sentiu novamente o empesteante perfume de Marcelo. Abriu os vidros, aumentou o volume e resmungando do cheiro no carro foi para sua casa.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
Capítulo VIII - No interior, em casa
Já fazia algumas horas que Marcelo havia chegado a sua antiga casa em Ouro Branco. Sua irmã ainda não tinha chegado. Estava no Rio de Janeiro e vinha de carro. Ele não conseguia entender qual era o motivo da morte de seu pai. Ele o tinha visto no final de semana, no dia anterior e sim que ele estava estranho, como nunca. Mas não parecia débil de sua saúde. Fumava mais que o de costume. Também tossia e pigarreava mais vezes, mas nada que o matasse tão da noite pro dia assim. A cabeça de Marcelo dava voltas tentando entender a causa. Lava as mãos e olha no espelho para perguntar a si mesmo um vez mais: De quê? Ao sair do banheiro se encontra com sua tia que o pergunta onde tem mais pão ou biscoito. Marcelo não tinha nem idéia de siquer se teria. E pôs-se a buscar pela casa nos possíveis lugares. E depois de uns vinte minutos encontrava o que queriam. Mas agora era o último do que tinha para servir aos vistantes que vinham prestar seu luto. Marcelo tinha passado o final da madrugada procurando copos. água, café, biscoitos e pão e nem mesmo teve tempo de entender como poderia descobrir o motivo da morte de seu pai. O doutor Fernandes. O médico de seu pai certamente saberia o motivo de sua morte. Marcelo tinha que sair para comprar alguns biscoitinhos e algum refresco para o dia. Uma de suas primas já estava se apresentando à cozinha para fazer uma torta e um bolo para um café da manhã pouco comum. Marcelo percorreu a casa e não encontrava o doutor Fernandes. Certamente não estava ali, afirmou a doutora Débora. Débora era doutora há uns quinze anos ou menos, Marcelo não se lembrava. Era mais nova que ele, mas frequentava a noite de Ouro Branco quando jovem. Noite essa que ele frequentava em demasia. Marcelo acreditou sem hesitar. Até mesmo porque Débora comentou que o doutor Fernandes havia pego o turno depois do plantão dela naquela noite. Marcelo perguntou se ela tinha carro e se poderia levá-lo para comprar algo de comer e beber. Ela disse que seria uma prazer e saíram. Enquanto saíam, Marcelo já pensava na volta que teriam que fazer para passar pelo hospital e conversar com o doutor Fernandes. Ao sair pela porta encontra com sua irmã que lhe pergunta o que tinha acontecido. Marcelo respondeu que não sabia, mas estava indo tentar descobrir naquele momento e que iria comprar algo de comer também. Nesse momento Débora interviu e disse que iria sozinha comprar algo de comer e uns refrescos. Marcelo meio confuso entre o não saber a causa da morte de seu pai e a chegada de sua irmã abraçou seu cunhado e chorou ao ver sua irmã chorando recebendo um abraço e os cumprimentos de Débora: "Meus sentimentos, Gabriela." Direto ao caixão de seu pai Gabriela o olhou por alguns segundos. Virou de costas e tentou sorrir. Seu marido lhe deu um abraço enquanto olhava ao caixão de seu sogro. Chorava e soluçava como um bebê nos braços de Gabriela. E ainda que fosse uns 30 centímetros maior que ela, parecia estar sendo carregado. Gabriela tentava conter as lágrimas e via a Marcelo que a olhava com um choro pouco contído nos olhos. Depois de algum momento com sua mãe, Gabriela e seu marido estavam de volta ao velório. Ele chorava muito e se emocionava quando ouvia ou contava uma caso do seu Gerson. Gabriela percebeu que Marcelo estava inquieto e estranho. Não sabia que ele havia estado ali no fim de semana até que o chamou no quarto e foram conversar. Ele lhe contou do que tinha visto no fim de semana, mas que tão pouco notara algum sinal de uma saúde tão fatal em seu pai. Contou que queria falar com o doutor Fernandes e também do hospital e os biscoitinhos. Gabriela também estava intrigada com a história e disse: "Vamos no meu carro? ... Agora! Sem pensar Marcelo se levantou e foi atrás de sua bolsa. Gabriela atrás da chave do carro. Em poucos minutos estavam de saída. Ao passar pela cozinha, Débora acabava de chegar com uma dúzia de biscoitos, pão de queijo e alguns pães. Disse sorridente: "Passei na padaria, tava saindo um pãozinho quentinho, aí eu trouxe." Marcelo pegou alguns pães de queijo e um dos biscoitos e saiu. Gabriela pegou uma garrafa de água e foi atrás.
Entraram no carro e sairam em direção ao hospital enquanto Marcelo devorava os pães de queijo em sua mão a um velocidade pouco comum. Gabriela achou graça daquilo e disse: "Calma, mastiga antes de engolir." E deu uma risada. Marcelo se deu conta que estava gulosmente matando sua ansiedade. Lhe pediu desculpas e ofereceu um pão de queijo. Ela disse que não, mas aceitava um biscoito. Ele sorriu e abriu o pacote de biscoitos para ela. Enquanto tomava um gole de água, Garbriela pensou e perguntou a Marcelo se o doutor Fernandes estava de turno agora pelo começo da manhã, não haveria de ter sido ele que atestou o óbito de seu pai. Tudo aquilo fazia sentido para Marcelo, mas ele não sabia para onde ir para tentar obter teal informação que não fosse o hospital. Apesar da teimosia inútil de sua irmã em resmungar por desabafo, chegaram ao hospital alguns biscoitos depois. Quando chegaram não conseguiram falar de imediato com o doutor Ferndandes. Ele estava atendendo uma criança com suspeita de cachumba. No balcão do hospital Marcelo se apresentou a enfermeira como filho do seu Gerson e queria saber se ele tinha passado pelo hospital. Para sua pouca surpresa ela disse que sim. Sua irmã de longe perguntou:"Quê?" e calou se aproximando. Ele perguntou onde poderia ter acesso ao atestado de óbito. A enfermeira disse que melhor que eles conversassem com a doutora. Que ela podia explicar melhor o motivo da morte. "Mas que doutora, se nós viemos aqui atrás do doutor Fernandes!", disse Gabriela. Marcelo olha para a enfermeira e pergunta a que horas seu pai tinha falecido e ela diz que havia sido no dia anterior pela manhã. Marcelo fala com Gabriela que o turno deveria ser o do doutor Fernandes mesmo e pergunta a enfermeira: "Que doutora é essa então?"E a enfermeira respondeu um pouco surpreendida: " A doutora Débora Magalhães, ela que era a médica do seu pai há uns dois anos já." Marcelo e Gabriela se olharam e sem demorar muito agradeceram a enfermeira e correram em diração ao estacionamento do hospital. Já no carro o pessimismo da ida muda de assento e Marcelo devolve a pergunta a Gabriela: Mas se a Débora tava de plantão de noite, deve ter sido o doutor Fernandes mesmo que o atendeu." Gabriela retrucou dizendo que melhor saber da médica dele a causa da morte e também o motivo dessa causa. Em um trajeto de mais biscoitos e cigarros, chegaram rápido ao velório. Quando chegaram Débora estava de saída. Pedia desculpas pelo cansaço e que voltaria no final da manhã. Marcelo e Gabriela a interromperam e pediram para falar com ela em particular. Vendo a seriedade com que eles lhe falaram, Débora logo se deu conta que eles talvez não soubessem da grávidade da situação do pai. De portas fechadas em um quarto Débora pôs-se a explicar quando assumiu o pai deles como paciente. Ele levava três anos sem consultar com o doutor Fernandes e com muita insistência do tio de Débora, muito amigo do velho Gerson, ele passou a consultar com ela. Logo ela descobriu que ele tinha sérios problemas cardíacos, o pulmão não funcionva bem, assim como o fígado. Ela o havia advertido que deveria mudar os hábitos de vida, alimentares e de vícios. Fazer mais atividade física, comer coisas mais saudáveis e de fácil digestão e diminuir o cigarro e a cachaça. Mas Ficou seis meses sem aparecer no consultório. Até que uns dias antes do natal marcou uma visita ao consultório da doutora. Débora lhe pediu todos os exames de rotina para acompanhar como estava, mas o que mais lhe preocupava era da dor que Gerson dizia sentir no braço esquerdo. Com medo de um infarto, ela o advertiu dessa possibildade e de como reagir. Mas depois disso, Amanda, mãe de Marcelo e Gabriela, havia procurado a doutora Débora para saber o que estava passando com o marido dela. Débora disse que não podia dizer por questões éticas e agora se arrependia. " Faz cinco dias ela esteve no meu consultório." Marcelo tenta consolar-la e diz que não mudaria nada em cinco dias. Mas enfim que o pai tinha morrido de uma parada cardíaca. Sua saúde vinha mal há mais de cinco anos e ele fazia questão de não dividir essa informação com ninguém. Quando se afastou das sessões com a doutora Débora piorou muito seu estado, e quando voltou a vê-la tinha piorado muito. Nesse momento entra no quarto sua mãe e Ricardo, seu irmão que acabara de chegar de ônibus de São Paulo.
Entraram no carro e sairam em direção ao hospital enquanto Marcelo devorava os pães de queijo em sua mão a um velocidade pouco comum. Gabriela achou graça daquilo e disse: "Calma, mastiga antes de engolir." E deu uma risada. Marcelo se deu conta que estava gulosmente matando sua ansiedade. Lhe pediu desculpas e ofereceu um pão de queijo. Ela disse que não, mas aceitava um biscoito. Ele sorriu e abriu o pacote de biscoitos para ela. Enquanto tomava um gole de água, Garbriela pensou e perguntou a Marcelo se o doutor Fernandes estava de turno agora pelo começo da manhã, não haveria de ter sido ele que atestou o óbito de seu pai. Tudo aquilo fazia sentido para Marcelo, mas ele não sabia para onde ir para tentar obter teal informação que não fosse o hospital. Apesar da teimosia inútil de sua irmã em resmungar por desabafo, chegaram ao hospital alguns biscoitos depois. Quando chegaram não conseguiram falar de imediato com o doutor Ferndandes. Ele estava atendendo uma criança com suspeita de cachumba. No balcão do hospital Marcelo se apresentou a enfermeira como filho do seu Gerson e queria saber se ele tinha passado pelo hospital. Para sua pouca surpresa ela disse que sim. Sua irmã de longe perguntou:"Quê?" e calou se aproximando. Ele perguntou onde poderia ter acesso ao atestado de óbito. A enfermeira disse que melhor que eles conversassem com a doutora. Que ela podia explicar melhor o motivo da morte. "Mas que doutora, se nós viemos aqui atrás do doutor Fernandes!", disse Gabriela. Marcelo olha para a enfermeira e pergunta a que horas seu pai tinha falecido e ela diz que havia sido no dia anterior pela manhã. Marcelo fala com Gabriela que o turno deveria ser o do doutor Fernandes mesmo e pergunta a enfermeira: "Que doutora é essa então?"E a enfermeira respondeu um pouco surpreendida: " A doutora Débora Magalhães, ela que era a médica do seu pai há uns dois anos já." Marcelo e Gabriela se olharam e sem demorar muito agradeceram a enfermeira e correram em diração ao estacionamento do hospital. Já no carro o pessimismo da ida muda de assento e Marcelo devolve a pergunta a Gabriela: Mas se a Débora tava de plantão de noite, deve ter sido o doutor Fernandes mesmo que o atendeu." Gabriela retrucou dizendo que melhor saber da médica dele a causa da morte e também o motivo dessa causa. Em um trajeto de mais biscoitos e cigarros, chegaram rápido ao velório. Quando chegaram Débora estava de saída. Pedia desculpas pelo cansaço e que voltaria no final da manhã. Marcelo e Gabriela a interromperam e pediram para falar com ela em particular. Vendo a seriedade com que eles lhe falaram, Débora logo se deu conta que eles talvez não soubessem da grávidade da situação do pai. De portas fechadas em um quarto Débora pôs-se a explicar quando assumiu o pai deles como paciente. Ele levava três anos sem consultar com o doutor Fernandes e com muita insistência do tio de Débora, muito amigo do velho Gerson, ele passou a consultar com ela. Logo ela descobriu que ele tinha sérios problemas cardíacos, o pulmão não funcionva bem, assim como o fígado. Ela o havia advertido que deveria mudar os hábitos de vida, alimentares e de vícios. Fazer mais atividade física, comer coisas mais saudáveis e de fácil digestão e diminuir o cigarro e a cachaça. Mas Ficou seis meses sem aparecer no consultório. Até que uns dias antes do natal marcou uma visita ao consultório da doutora. Débora lhe pediu todos os exames de rotina para acompanhar como estava, mas o que mais lhe preocupava era da dor que Gerson dizia sentir no braço esquerdo. Com medo de um infarto, ela o advertiu dessa possibildade e de como reagir. Mas depois disso, Amanda, mãe de Marcelo e Gabriela, havia procurado a doutora Débora para saber o que estava passando com o marido dela. Débora disse que não podia dizer por questões éticas e agora se arrependia. " Faz cinco dias ela esteve no meu consultório." Marcelo tenta consolar-la e diz que não mudaria nada em cinco dias. Mas enfim que o pai tinha morrido de uma parada cardíaca. Sua saúde vinha mal há mais de cinco anos e ele fazia questão de não dividir essa informação com ninguém. Quando se afastou das sessões com a doutora Débora piorou muito seu estado, e quando voltou a vê-la tinha piorado muito. Nesse momento entra no quarto sua mãe e Ricardo, seu irmão que acabara de chegar de ônibus de São Paulo.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
Capítulo VII - Viação Morte
A mochila era pequena. Levava um par de roupas, um livro sobre espiritismo e outro do Ferreira Gular, presente que seu pai lhe dera no último natal. Agenda, discman, celular e cuecas na bolsa. Marcelo saiu tão atônito de sua casa que não se deu conta que tinha colocado os livros na mochila e as cuecas na bolsa. Quando já sentado dentro do ônibus a caminho da estrada para Ouro Branco, buscando pela antologia poética de Gular se deu conta de que havia trocado os obejtos de lugar. Olhando para o que sobrava na bolsa, agenda, celular e discman, só lhe restava uma opção. Discman. A viagem não era muito longa, mas levava seu tempo, pouco mais de uma hora. No discman um único cd. O da volta da viagem do fim de semana. Mas passadas três faixas, a quarta começava e não conseguia adormecer Marcelo. Sua cabeça tentava entender o que podia ter passado. Ainda que de nada adiantava. Assim como também não adiantava seu saudosismo dos momentos com seu pai. Mas seu saudosimo não era de lamento, e ainda que lhe trouxesse saudades antecipadas. Era um lembrança que lhe fazia misturar sorrisos e lágrimas. Ao notar que a música lhe parecia bastante dispensável, tirou os fones do ouvido e pôs-se escutar o ruído do motor do ônibus enquanto subia a estrada. Após alguns minutos, Marcelo se deu conta de que acabava um faixa e começava outra no discman. Olhous para suas mão e percebeu a altura do volume que saia dos fones de ouvido. Abriu a bolsa e em meio a umas cuecas encontrou o discman. Mais ao lado estava a agenda. Desligou o discman e pegou a agenda. Abriu a agenda, pegou uma caneta e anotou o dia da morte de seu pai. Fechou a agenda. Passou alguns segundos com as mãos sobre a agenda pensando. Lembrava outra vez de seu pai e sorria. Abriu a agenda e rabiscou o que tinha escrito. Enquanto rabiscava viu escrito sobre o encontro com o detetive pela tarde e se conectou na outra visita da morte, uma à sua casa e outra à sua janela. E Marcelo distraiu seu pensamento sobre seu pai e voltou a pensar em Marinis e tudo aquilo que presenciara desde sua janela, e ainda que Marinis não soubesse, ele tinha muitas informações do caso. A mulher que ele vira. Mais ou menos a hora. Se podia ajudar, estava mais que nunca seguro que sim. Era a hora em que se envolveria em um caso sério de polícia. "Mórbido, tratando-se de uma morte", pensava Marcelo se autorecriminando,"mas assim é a vida". Se autorespondia. Em uma curva, a agenda em seu colo cai no chão e caem alguns papéis junto. Marcelo junta todos e coloca no meio da agenda. Guarda a agenda na bolsa, pega uma cueca, coloca entre o vidro e o assento, encosta a cabeça e em poucos minutos começa a relaxar. Já acostumado com a estrada há anos, Marcelo tinha sua técnica de relaxar na estrada. Conseguia não olhar para a paisagem e sim inventar algo para contar pelo caminho. E ao invés de carneiros contava, carros, postes, motos, montanhas, nuvens e o que mais lhe convinha. Relaxava e adormecia. Dessa vez não foi diferente. Quando o motorista o chamou e disse: Senhor, ô senhor não vai descer? Marcelo acordou assustado e com a cara amassada e os olhos inchados pergunta: Quê? E olha ao redor vendo que está na rodoviária de Ouro Branco. Desceu, pegou a mochila e pegou um taxo até sua casa. O velório ia ser na própria casa, como de antigo costume do interior. E o enterro no dia seguinte. Pela tarde. Marcelo não gostava da idéia de ser assim, mas era assim. Em sua casa tias, tios, primos, amigos e conhecidos toda à madrugada. Chegavam sem parar. E Marcelo não conseguia se comunicar com sua mãe. Ela chorava compulsivamente. Suas tias não sabiam explicar o motivo da morte de seu pai. Ele não entendia. Seu irmão chegaria pela manhã e sua irmã a qualquer momento.
Na delegacia um telefone toca. Marinis atende: Pode passar! e do outro lado escuta: Doutor Marinis, sou o Kim. Lembrei de uma coisa. Naquele mesmo dia teve uma briga aqui na porta do bar. Sei lá, tô ligando porque o senhor perguntou se eu lembrasse de alguma coisa suspeita, e o senhor sabe, né? Isso não é suspeito, se teve até viatura de polícia. Marinis acena com a cabeça tomando nota e agradece a Kim. Pelo computador busca o boletim de ocorrência pela data e pela rua. Não encontra nada. Pede a um colega que verifique a informação e ele também não encontra nada. Marinis se põe a tentar entender porque Kim mentiria para ele. Já era tarde, mas nunca tarde demais para uma passada ao butequim mais famoso da capital. Já era hora de ir para casa e tentar descansar um pouco. Marinis se despede de poucos, como sempre, e sai como gosta da delegacia, a francesa. Em poucos minutos já está no seu carro a caminho do ButeKuim. Quando coloca a mão atrás do banco para buscar um cd, sente o perfume de Marcelo, exagerado para seu gosto e se lembra que se não é por Kim, por Marcelo esse caso demora para se resolver. Sem nenhum suspeito até agora. O porteiro disse que não viu ninguém. Na rua, no centro e de noite, está todo mundo e ninguém. Marcelo tinha se mostrado muito interessado no caso, mas Adriano já havia alertado a Marinis da vontade de Marcelo ser repórter policial. Marinis tinha ali suas dúvidas de que se Marcelo poderia mesmo ajudar. Era intuição dele e nada mais. Adriano tinha dito que o cara morava no prédio da frente, era colunista social. No caminho do café, Adriano conversando com Marinis sobre Marcelo conta a ele que Marcelo queria ser repórter policial e que seria importante ter cuidado com a empolgação do rapaz. Marinis percebeu que Marcelo estava estranho no café e pensava que era por ansiedade. Tanto que quis ir ver a vista que Marcelo tinha de sua janela. Mas em meio a tudo isso morre seu pai e explica todo seu estranho estado que julgava ser ansiedade. "Com o pai no leito de morte deve ser difícil estar em um estado normal", pensava Marinis enquanto chegava ao ButeKim antes de achar o cd que buscava. "Marcelo estava estranho por seu pai, mas queria falar comigo para me dar informação ou quer receber informação?" Com essa dúvida estaciona o carro e caminha em direção ao bar, olhando o paredão de prédios que fazem a rua parecer um grande corredor. Já no ButeKim, Kim não está. Recebeu uma ligação e saiu. Marinis senta em um banco no balcão e pede uma gelada. Relaxa a gravata, olha o relógio e toma um gole. O garçon pergunta se ele quer comer alguma coisa e ele pede uma porção. Quando o garçom volta com sua porção, Marinis pede outra cerveja e já tem uma expressão mais relaxada. Tinha pensado enquanto esperava a Kim que o melhor era tentar relaxar um pouco para a cabeça tentar encontrar outras saídas para o caso.
Na delegacia um telefone toca. Marinis atende: Pode passar! e do outro lado escuta: Doutor Marinis, sou o Kim. Lembrei de uma coisa. Naquele mesmo dia teve uma briga aqui na porta do bar. Sei lá, tô ligando porque o senhor perguntou se eu lembrasse de alguma coisa suspeita, e o senhor sabe, né? Isso não é suspeito, se teve até viatura de polícia. Marinis acena com a cabeça tomando nota e agradece a Kim. Pelo computador busca o boletim de ocorrência pela data e pela rua. Não encontra nada. Pede a um colega que verifique a informação e ele também não encontra nada. Marinis se põe a tentar entender porque Kim mentiria para ele. Já era tarde, mas nunca tarde demais para uma passada ao butequim mais famoso da capital. Já era hora de ir para casa e tentar descansar um pouco. Marinis se despede de poucos, como sempre, e sai como gosta da delegacia, a francesa. Em poucos minutos já está no seu carro a caminho do ButeKuim. Quando coloca a mão atrás do banco para buscar um cd, sente o perfume de Marcelo, exagerado para seu gosto e se lembra que se não é por Kim, por Marcelo esse caso demora para se resolver. Sem nenhum suspeito até agora. O porteiro disse que não viu ninguém. Na rua, no centro e de noite, está todo mundo e ninguém. Marcelo tinha se mostrado muito interessado no caso, mas Adriano já havia alertado a Marinis da vontade de Marcelo ser repórter policial. Marinis tinha ali suas dúvidas de que se Marcelo poderia mesmo ajudar. Era intuição dele e nada mais. Adriano tinha dito que o cara morava no prédio da frente, era colunista social. No caminho do café, Adriano conversando com Marinis sobre Marcelo conta a ele que Marcelo queria ser repórter policial e que seria importante ter cuidado com a empolgação do rapaz. Marinis percebeu que Marcelo estava estranho no café e pensava que era por ansiedade. Tanto que quis ir ver a vista que Marcelo tinha de sua janela. Mas em meio a tudo isso morre seu pai e explica todo seu estranho estado que julgava ser ansiedade. "Com o pai no leito de morte deve ser difícil estar em um estado normal", pensava Marinis enquanto chegava ao ButeKim antes de achar o cd que buscava. "Marcelo estava estranho por seu pai, mas queria falar comigo para me dar informação ou quer receber informação?" Com essa dúvida estaciona o carro e caminha em direção ao bar, olhando o paredão de prédios que fazem a rua parecer um grande corredor. Já no ButeKim, Kim não está. Recebeu uma ligação e saiu. Marinis senta em um banco no balcão e pede uma gelada. Relaxa a gravata, olha o relógio e toma um gole. O garçon pergunta se ele quer comer alguma coisa e ele pede uma porção. Quando o garçom volta com sua porção, Marinis pede outra cerveja e já tem uma expressão mais relaxada. Tinha pensado enquanto esperava a Kim que o melhor era tentar relaxar um pouco para a cabeça tentar encontrar outras saídas para o caso.
sábado, 23 de dezembro de 2006
Capítulo VI - Imprevisibilidade
Após alguns 2 minutos, Marcelo já havia queimado a boca com o chá quatro vezes tamanha era sua ansiedade. Pensava que como ele estava atrasado os dois já teriam ido. Mas que se pensava assim, porque estava ali tomando aquele chá se tinha pago o taxi com umas poucas moedas que inha na bolsa. Parecia que o tempo passava mais rápido para chegar ao futuro, mas não chegava. E tome outra queimadura na boca. E esse chá que não esfria. Então um sombra para ao lado de Marcelo. Outra vindo de trás pousa em seu ombro e um voz de timbre forte pergunta: Senhor Marcelo? E Marcelo com as mãos na xícara se queima com o susto no chá quente. Olha para o lado e viu que conhecia o vulto que fazia sombra, e entre um misto de dor e tranquilidade, grita: Au! Sou si.. oi, Adriano, tudo bem?. E Adriano abre um sorriso e também o cumprimenta. Apresenta o delegado, doutor Marinis e sem muita cerimônia sentam com ele depois de apertos de mão muito simpáticos. Os dois não pareciam policiais e olharam o menu enquanto Adriano começava uma conversa fiada.: E aí Marcelo, e Ouro Branco, faz muito tempo que você não vai lá? Marcelo se assutou com um pergunta que tinha uma reposta tão recente que demorou não pra responder, mas sim pra entender qual era daquela pergunta que o detetive tinha lhe feito. Foi quando tomou um gole do chá, controlou a sua ansiedade e viu que os dois estavam quietos olhando o cardápio. Que depois de dizer esse fim-de-semana, nenhum dos dois disse mais nada. Ele achou estranho tão súbito interesse por Ouro Branco que Marcelo demorou para entender que eles estavam disfaraçando. Doutor Marinis fala com Adriano tranquilamente, melhor conversarmos em um lugar mais reservado. Marcelo entende o que havia passado com um encontro em um lugar tão público para falar de um tema desses. E reponde: Concordo, porque não vamos a minha casa? O garçom chega e pergunta: E os senhores, o que vão querer? Adriando pergunta a Marinis: Você viu se tem shake de capuccino gelado? Marinis balança a cabeça negativamente fechando o cardápio e colocando-o na mesa. Pergunta ao garçom que diz que não. Diz que não quer nada. Adriando faz o mesmo. O garçom recolhe os três cardápios que estavam sobre a mesa e quando estava já de saída escuta Marcelo resmungando pedir a conta: Ah, não, se vocês não vão beber nada eu também não vou. Garçom, a conta por favor. Marcelo abre a bolsa e se dá conta que tinha esquecido a carteira no jornal. Doutor Marinis, astuto saca dois e cinquenta do bolso deixa sobre a mesa e se levanta. Seguido por Adriano e Marcelo que simpáticamene agradece a Marinis, fecha a bolsa se levanta e vai com eles. Entram no carro de Adriano e vão em direção a casa de Marcelo. Chegam em poucos minutos. Marcelo passa, cum primenta o porteiro e sobem. No elevador, Marinis nota que Marcelo aperta o 12. O elevador é antigo e sobe devagar. Adriano pergunta a Marcelo se ele morava ali há muito tempo. Marcelo se pôs a fazer contas com as mãos e enquanto ia dizendo os anos. E disse: Ah, dois anos depois que sai da faculdade! E Marinis comenta com educação: Já fazem 23 anos então que mora aqui. E Marcelo reponde que sim abrindo a porta do elevador e saindo em direção a porta de seu apartamento. Os dois vem atrás e vêem que Marcelo se coloca procurar a chave em sua bolsa. E depois de alguns segundos Marcelo diz que não encontra a chave e que igual a carteira devem ter ficado na sua gaveta no jornal. Marinis pergunta: O Jornal de MInas Gerais? e Marcelo reponde que sim e pergunta se ele lia sua coluna. Marinis disse que não e que o Jornal Minas Gerais era muito perto e eles estavam de carro. Poderiam levá-lo lá para que ele buscasse a carteira e as chaves. Marinis ficou intrigado em saber o que Marcelo poderia contar, mas não poderia crer em Marcelo antes de ver a vista que ele tina do 1102. Voltaram no mesmo elevador, Marinis volta a perguntar a Marcelo se o apartamento era algudo ou dele quando o celular de Marcelo começa a tocar uma das sinfonias de Bethoven. Marcelo diz: Bethoven, minha família! Atende e diz: Alô, oi Mãe? e depois de alguns segundos o elevador chega ao térreo e Marcelo segue perguntando: Tia, fala comigo? Chama o Bernardo aí, tia! Desliga o telefone e chora. Segue até a portaria chorando e diz: Espera, eu preciso que vocês me levem até o jornal. Tenho que pegar chave de casa e carteira. Meu pai morreu. Terminando de falar já com a voz trêmula, volta a chorar. Marinis lhe dá uma abraço e diz: Meus sentimentos. Adriando também o abraça e lhe dá os sentimentos. Levam Marcelo até o jornal para pegar o que precisava. Quando Marcelo chegou ali, viu que também havia esquecido a agenda. Colocou tudo na bolsa, olhou em volta para ver se não esquecia nada e saiu. Antes de sair Marcelo escreveu no verso de uma publicidade de um self-service novo um recado para seu chefe comunicando o falecimento de seu pai e que iria a Ouro Branco. Quando chegou na rua, viu o carro de Adriano e Marinis de pé do lado de fora do carro. Você quer que te levemos à rodoviária? Disse Marinis em tom educado a Marcelo que queria uma carona sim, mas para casa. Que não poderia ir a Ouro Branco sem antes passar em casa e pegar algumas roupas. Os dois policiais deixaram Marcelo na porta do edifício se despediram rápido e deixaram que ele tivesse seu tempo. Ele saiu do carro, se depediu e foi em direção ao porteiro. parou, virou de costas e disse: é, até breve. Passou pelo porteiro com um seco oi e subiu ao seu apartamento.
sábado, 19 de agosto de 2006
Capítulo V - Atipicos dias - familia, morte e fofoca.
Depois de um dia cheio de trabalho, escreveu para todo o fim de semana e por boa política com seu chefe, ficou de enviar algumas notas que sairiam na segunda-feira por internet. O fim de semana era morno, nada de agitos pós carnavalescos na cidade. Sem Pierrots, confete e menos ainda champagne dos patrões, Marcelo aproveitou o fim de tarde de verão e foi a Ouro Branco visitar seus pais.
Da janela do ônibus, com ar condicionado que fazia esquecer o calor que fazia do lado de fora, Marcelo via um jovem em seu carro conversível colocar um cd e subir o volume. O rapaz começou a cantar e sacudir a cabeça de um lado ao outro. Marcelo não escutava nada e tentava adivinhar que música ele poderia estar escutando. Coisa de futriqueiro - pensou Marcelo e pôs a mão tapando os olhos se auto-recriminando. Quando tirou as mãos, viu que o tipo olhava para um linda garota que passava pela calçada. Um freiada alguns segundos depois e já tinha uma batida de carros ao lado. Marcelo ainda teve tempo de ver quem foi aquela mulher causadora da batida do conversível enquanto o ônibus arrancava em passo mais lento. E viu que era uma mulher com um olhar encantador. Marcelo viu que o rapaz tinha uma boa razão pra não estar olhando pra frente quando o sinal se pôs verde. Pé na estrada, e enquanto o ônibus subia a 040, um discman adormecia Marcelo em poucos minutos. A verdade é que perdeu um lindo pôr do sol na estrada.
Como se tivessem passado minutos. Ouro Branco. Para casa da mamãe. Comer comida feita com carinho e não fazer nada. Teoricamente. Marcelo se desentendia em suas filosofias de vida com seus pais e muitas vezes discutiam por nada. Passavam boa parte do dia discutindo política, sociedade, economia e umas quantas bobeiras em que não se entendiam. Sua mãe aglumas vezes se metia também discutia muito. Pensavam muito diferente. Mas naquele fim de semana em especial, Marcelo percebeu que seu pai não estava para muita prosa. na verdade tinha um olhar perdido e distante como nunca. Fumava seu ciagrro de palha na varanda sozinho. Tossia até engasgar. Tomava um pouco de chá e passava. Mas não olhava muito para ninguém. Marcelo percebia que estava sendo observado por ele quando não o olhava. Quando voltava o olhar a seu pai, ele disfarçava, fazia um piadinha, fingia que estava buscando algo ou pedia ajuda para alguma coisa. Não queria muita prosa. A mãe de Marcelo parecia que tinha envelhecido algunos anos depois do Natal. Estava preocupada com a mudança tão sem explicação de seu marido e não sabia como reagir a isso. Marcelo viu que a coisa não ia muito bem por ali. Mas não sabia muito bem o que fazer. Seus pais eram pouco abertos a conversas pessoais e não lhe davam muita possibilidade de diálogo. Marcelo passou um fim de semana inquietante. Um ruga de preocupação voltou com ele em sua testa naquele domingo de noite. No ônibus de volta não conseguiu descansar um só segundo por tão atípico que tinha aquele final de semana em família. Desconectado da capital e sem conseguir conectar-se a sua família, a cabeça de Marcelo vôou em um fim de semana de muito agito na porta da sua casa.
Pela manhã, entre um bom café da manhã cheio de frutas, a cabeça de Marcelo ainda ia pela preocupação com o estranho final de semana em família. Quando corria o ollho no jornal, se assutou quando viu em sua seção favorita o nome da rua onde morava. E umas poucas linhas abaixo a referência a cercania ao automóvel clube. Se despertou do estado de transe que aquele torpe fim de semana tinha lhe causado e voltou ao começo da notícia. Mulher assassinada em edifício de luxo no centro. E a matéria seguia com todo um relato de um porteiro do edifício que encontrou " uma mulher que tentava por quatro dias seguidos chamar em seu apartamento e ninguém respondia". Uma amiga tentava falar por telefone e passou os quatro dias por ali até que no quarto pressionou o porteiro e ao chegarem à porta sentiram um cheiro insuportávelmente estranho. "Depois de chamar por mais de meia hora, ele correu até a portaria e pegou uma maleta de ferramentas e tratou de abrir a porta." Quando entraram viram a dona do apartamento 1102 nua na cama cheia de sangue e alguns mosquitos que sobrevoavam a difunta. A polícia e a perícia estiveram ali no mesmo dia pela tarde. E apesar de estar nua na cama, constaram que ela não tinha tido nenhum tipo de relação sexual antes de morrer.
Marcelo levantou de uma só vez da mesa e foi atrás do celular perdido em algum lugar da casa. Meia hora depois encontrou o aparelho entre duas almofadas do sofá da sala. Buscava o telefone de um velho amigo da delegacia de polícia perto de sua casa. Um detetive da seção de homicídios que Marcelo fazia questão de conservar para estar sempre perto de sua verdadeira paixão jornalística. Por um desses acasos do destino, não era ele quem cuidava do caso e sim um colega. Mas que poderia apresentar a Marcelo sem problemas. O feeling jornalístico incomodava como nunca. Marcaram um café pela tarde com o delegado e o detetive seu amigo. Marcelo disse que morava em frente e o delegado se interessou em conhecê-lo.
Antes de sair para trabalhar, Marcelo reunia uma duzia de coisas na mão buscando sua bolsa. Enquanto buscava viu sobre a estante da entrada o bilhete sem assinatura que lhe esperavam no terraço do prédio. Como a cabeça esteve envolvida com tantas coisas nos últimos dias, acabou se esquecendo do misterioso encontro e ficou com aquilo na cabeça. Quem poderia ter enviado tão intrigante convite? Juntou todas as coisas na bolsa e colocou em meio a sua agenda aquilo que nem sabia a procedência e que bem podia ser uma brincadeira sem nenhuma graça de algum vizinho machista com ressaca de carnaval.
Foi trabalhar com a cabeça dando voltas e voltas sobre o estranho fim de semana. Uma família com um comportamento anormalmente preocupante e um assassinato perto da sua casa. Falar da pouca vida social de um fim de semana sem agito na cidade era resgatar velhas histórias de figurões e fazer fofoca. E isso ele fazia muito bem. O trabalho passou voando e quando se deu conta já estava atrasado para o encontro com seu amigo detetive e o delegado. Saiu apressado do jornal, deixando carteira, agenda e chave de casa pra trás. Chamou um taxi e pediu pressa para chegar ao Café que se encontrava na metade do caminho entre o jornal e sua casa. Um trânsito inexplicável fez com que ele chegasse 10 minutos atrasado. Quando chegou, não viu seu amigo e nem sabia a cara que tinha o tal delegado. Sentou, pediu um chá e pôs-se a esperar.
Da janela do ônibus, com ar condicionado que fazia esquecer o calor que fazia do lado de fora, Marcelo via um jovem em seu carro conversível colocar um cd e subir o volume. O rapaz começou a cantar e sacudir a cabeça de um lado ao outro. Marcelo não escutava nada e tentava adivinhar que música ele poderia estar escutando. Coisa de futriqueiro - pensou Marcelo e pôs a mão tapando os olhos se auto-recriminando. Quando tirou as mãos, viu que o tipo olhava para um linda garota que passava pela calçada. Um freiada alguns segundos depois e já tinha uma batida de carros ao lado. Marcelo ainda teve tempo de ver quem foi aquela mulher causadora da batida do conversível enquanto o ônibus arrancava em passo mais lento. E viu que era uma mulher com um olhar encantador. Marcelo viu que o rapaz tinha uma boa razão pra não estar olhando pra frente quando o sinal se pôs verde. Pé na estrada, e enquanto o ônibus subia a 040, um discman adormecia Marcelo em poucos minutos. A verdade é que perdeu um lindo pôr do sol na estrada.
Como se tivessem passado minutos. Ouro Branco. Para casa da mamãe. Comer comida feita com carinho e não fazer nada. Teoricamente. Marcelo se desentendia em suas filosofias de vida com seus pais e muitas vezes discutiam por nada. Passavam boa parte do dia discutindo política, sociedade, economia e umas quantas bobeiras em que não se entendiam. Sua mãe aglumas vezes se metia também discutia muito. Pensavam muito diferente. Mas naquele fim de semana em especial, Marcelo percebeu que seu pai não estava para muita prosa. na verdade tinha um olhar perdido e distante como nunca. Fumava seu ciagrro de palha na varanda sozinho. Tossia até engasgar. Tomava um pouco de chá e passava. Mas não olhava muito para ninguém. Marcelo percebia que estava sendo observado por ele quando não o olhava. Quando voltava o olhar a seu pai, ele disfarçava, fazia um piadinha, fingia que estava buscando algo ou pedia ajuda para alguma coisa. Não queria muita prosa. A mãe de Marcelo parecia que tinha envelhecido algunos anos depois do Natal. Estava preocupada com a mudança tão sem explicação de seu marido e não sabia como reagir a isso. Marcelo viu que a coisa não ia muito bem por ali. Mas não sabia muito bem o que fazer. Seus pais eram pouco abertos a conversas pessoais e não lhe davam muita possibilidade de diálogo. Marcelo passou um fim de semana inquietante. Um ruga de preocupação voltou com ele em sua testa naquele domingo de noite. No ônibus de volta não conseguiu descansar um só segundo por tão atípico que tinha aquele final de semana em família. Desconectado da capital e sem conseguir conectar-se a sua família, a cabeça de Marcelo vôou em um fim de semana de muito agito na porta da sua casa.
Pela manhã, entre um bom café da manhã cheio de frutas, a cabeça de Marcelo ainda ia pela preocupação com o estranho final de semana em família. Quando corria o ollho no jornal, se assutou quando viu em sua seção favorita o nome da rua onde morava. E umas poucas linhas abaixo a referência a cercania ao automóvel clube. Se despertou do estado de transe que aquele torpe fim de semana tinha lhe causado e voltou ao começo da notícia. Mulher assassinada em edifício de luxo no centro. E a matéria seguia com todo um relato de um porteiro do edifício que encontrou " uma mulher que tentava por quatro dias seguidos chamar em seu apartamento e ninguém respondia". Uma amiga tentava falar por telefone e passou os quatro dias por ali até que no quarto pressionou o porteiro e ao chegarem à porta sentiram um cheiro insuportávelmente estranho. "Depois de chamar por mais de meia hora, ele correu até a portaria e pegou uma maleta de ferramentas e tratou de abrir a porta." Quando entraram viram a dona do apartamento 1102 nua na cama cheia de sangue e alguns mosquitos que sobrevoavam a difunta. A polícia e a perícia estiveram ali no mesmo dia pela tarde. E apesar de estar nua na cama, constaram que ela não tinha tido nenhum tipo de relação sexual antes de morrer.
Marcelo levantou de uma só vez da mesa e foi atrás do celular perdido em algum lugar da casa. Meia hora depois encontrou o aparelho entre duas almofadas do sofá da sala. Buscava o telefone de um velho amigo da delegacia de polícia perto de sua casa. Um detetive da seção de homicídios que Marcelo fazia questão de conservar para estar sempre perto de sua verdadeira paixão jornalística. Por um desses acasos do destino, não era ele quem cuidava do caso e sim um colega. Mas que poderia apresentar a Marcelo sem problemas. O feeling jornalístico incomodava como nunca. Marcaram um café pela tarde com o delegado e o detetive seu amigo. Marcelo disse que morava em frente e o delegado se interessou em conhecê-lo.
Antes de sair para trabalhar, Marcelo reunia uma duzia de coisas na mão buscando sua bolsa. Enquanto buscava viu sobre a estante da entrada o bilhete sem assinatura que lhe esperavam no terraço do prédio. Como a cabeça esteve envolvida com tantas coisas nos últimos dias, acabou se esquecendo do misterioso encontro e ficou com aquilo na cabeça. Quem poderia ter enviado tão intrigante convite? Juntou todas as coisas na bolsa e colocou em meio a sua agenda aquilo que nem sabia a procedência e que bem podia ser uma brincadeira sem nenhuma graça de algum vizinho machista com ressaca de carnaval.
Foi trabalhar com a cabeça dando voltas e voltas sobre o estranho fim de semana. Uma família com um comportamento anormalmente preocupante e um assassinato perto da sua casa. Falar da pouca vida social de um fim de semana sem agito na cidade era resgatar velhas histórias de figurões e fazer fofoca. E isso ele fazia muito bem. O trabalho passou voando e quando se deu conta já estava atrasado para o encontro com seu amigo detetive e o delegado. Saiu apressado do jornal, deixando carteira, agenda e chave de casa pra trás. Chamou um taxi e pediu pressa para chegar ao Café que se encontrava na metade do caminho entre o jornal e sua casa. Um trânsito inexplicável fez com que ele chegasse 10 minutos atrasado. Quando chegou, não viu seu amigo e nem sabia a cara que tinha o tal delegado. Sentou, pediu um chá e pôs-se a esperar.
terça-feira, 8 de agosto de 2006
Capítulo IV - A ressaca do dia seguinte
O telefone celular não para de apitar. Marcelo, ainda sonolento, foi em busca do intermitente apito que lhe despertara. No celular haviam 12 chamadas não atendidas, 5 mensagens de texto e 3 de voz. Alguém buscava mesmo a Marcelo. Mas não era só uma pessoa, senão várias. Já eram 16:20, se deu conta Marcelo pela hora da última chamada. E foi então que recapitulou que ficou até 9 da manhã escrevendo. O cinzeiro cheio, as garrafas vazias e a cabeça doía. Água, açúcar, carboidrato, banho frio, cama. Era o que passava sem muita lógica pela cabeça de Marcelo. Já tinha perdido os compromissos e o dia de trabalho, que não lhe restou outra coisa que colocar-se a responder o que era de responder no celular e terminar de curtir aquela quinta-feira de ressaca em casa mesmo. A seu chefe disse a verdade, que esteve escrevendo toda a noite e que terminou pela manhã. Como já tinha enviado por mail o material da coluna e tinha moral com o chefe, levou uma bronca de leve que ficou muito barato. Sua mãe também tinha chamado umas quantas vezes, e queria só um pouco de atenção e saber como ele estava. Uns amigos chamando pra sair, que iriam a um café depois do trabalho em um happy hour. Convites para uma noite de festa da alta sociedade em uma boite nova que tinha inaugurado na semana anterior, e que era justo o tema da coluna daquele dia. Marcelo, dando-se por satisfeito, recusou tudo e trancou-se em seu mundo.
Desceu até a vídeo locadora e alugou um lançamento argentino, gênero de filme que ele adorava e cultivava dos 2 anos que morou em Buenos Aires. Levou também uma comédia italiana, por recomendação do atendente. Se trancou, apagou o celular, pipocas no microondas, chá, seu cigarrinho e cortinas fechadas. Dormiu nos primeiros 10 minutos do filme. Acordou já tinha uma hora e 20 e ele voltou tudo ao começo e viu de novo. Achou interessante e intrigante. Se sentou na varanda e pôs-se a fumar e ver a rotina da rua. Butekim enchendo de trabalhadores ao final da jornada de trabalho. Uma mulher reclamando de uma multa com o policial. Um rapaz que levava o cachorro para usar a rua de banheiro. Um casal que se desentendia e se colocavam a brigar na esquina. E Marcelo absorvendo tudo aquilo muito superficialmente, como uma esponja nova. Muita informação se processando ao mesmo tempo dificultava que ele pudesse organizar os pensamentos. Decide voltar e ver o outro filme, a comédia italiana. Mais chá e agora um resto de sushi da festa na geladeira. Filme de comédia pouco arriscado. Ficou beirando o cômico todo o tempo e levou Marcelo a sair do estado de entropia que levava todo o dia de tão surpreendido com a má qualidade do filme. Se levantou revoltado e foi buscar uma verdadeira comédia em sua colecão de Woody Allen. Entre "Desconstruindo Harry" e "Todos dizem eu te amo", se animou mais pelo segundo. Talvez pelo tom musical, talvez pelo tema de sexo, que sempre interessara a Marcelo. Mas enquanto preparava um cigarro para dar boas gargalhadas durante o filme, se deu conta que o apartamento da frente, o mesmo da noite anterior, seguia com a luz acesa. Se deu ao trabalho de prestar atenção e que a janela regulava altura com a que ele tinha visto tão pouco interessante cena de sexo na noite anterior. Mas o que mais chamava sua atenção era que a luz seguia acesa. Uma hora e pouco de Woody Allen bastaram para renovar as energias de Marcelo e colocar a cabeça pra funcionar em ritmo normal.
Decidiu sair para correr. Adorava fazer isso de noite, ainda que o centro não lhe proporcionava a melhor condição de segurança pra isso, ele saia pra correr sem nada de valor, o que facilitava o fato de que quando alguém o abordava na rua na intenção de assaltá-lo - e já tinha passado umas quantas vezes - o ladrão se frustrava porque ele não tinha nada de valor para lhe dar. Correu entre 50 minutos, 1 hora, mais ou menos. Entre suas rotinas diárias, tinha por prática sempre fazer pelo menos 1 hora de esportes. Que fosse a bicicleta em seu apartamento, umas horas na piscina do clube ou corridas noturnas, mas esse era um hábito que sempre teve, desde que era adolescente. Chegou em casa com a cabeça tranquila. A corrida fez muito bem pra cabeça e o fez pensar e organizar os pensamentos. Uma ducha demorada, em que esquecera o tempo e preocupara só com a água batendo forte em suas costas.
Levava um short de pijama de seda negro com detalhes em rosa. Sentou-se na varanda para escrever quando se deu conta que a mesma luz pela janela seguia acesa. Ding, dong! Alguém chamava na porta. Deve ser alguém do prédio, pensou Marcelo, já que não chamaram ao interfone. Foi pôr seu hobby e demorou a encontrá-lo já que a casa estava uma bagunça de uma festa do dia anterior. A campainha não voltou a chamar. Marcelo achou estranho e não abriu a porta. Olhou pelo olho mágico e não viu ninguém. Voltou-se à varanda e intrigado com aquela luz acesa, pôs-se a escrever e a colocar mistério em seu livro. A verdade é que lhe faltava algo de romance e não de mistério no livro e passou boa parte do tempo apagando e escrevendo. Para ao final ter umas poucas páginas mais que nem gostava muito.
"Melhor descansar e recuperar o ritmo normal amanhã. Já é madrugada e amanhã não posso faltar outra vez ao trabalho." - falava sozinho, Marcelo.
Pela manhã, sobre as 10 mais ou menos se levantou. Foi até a portaria para pegar o jornal. Quando abriu a porta, viu um papel no chão do lado de fora. Pegou o papel dobrado, abriu e leu: "Te espero em uma hora no terraço do prédio! Um beijo". Sem entender muito bem do que se tratava, foi até a portaria, pegou o jornal e perguntou ao porteiro se alguém havia procurado por ele no dia anterior. O porteiro respondeu negativamente e colocou Marcelo a pensar que tinha algum admirador no prédio, ou quem sabe, uma menos informada, admiradora. Sentou-se na varanda a ler o jornal e se deu conta que a luz seguia acesa. Olhou para baixo e a rua estava aumentando seu movimento diário. Via a portaria do prédio de frente e ali estava o porteiro controlando a entrada e saída de pessoas. "Coisas da minha cabeça cheia de idéias" - pensou Marcelo. Colocou uma roupa e saiu para trabalhar. Já com um pouco de pressa, esqueceu o computador ligado na varanda e o celular perdido em algum lugar de seu quarto.
Desceu até a vídeo locadora e alugou um lançamento argentino, gênero de filme que ele adorava e cultivava dos 2 anos que morou em Buenos Aires. Levou também uma comédia italiana, por recomendação do atendente. Se trancou, apagou o celular, pipocas no microondas, chá, seu cigarrinho e cortinas fechadas. Dormiu nos primeiros 10 minutos do filme. Acordou já tinha uma hora e 20 e ele voltou tudo ao começo e viu de novo. Achou interessante e intrigante. Se sentou na varanda e pôs-se a fumar e ver a rotina da rua. Butekim enchendo de trabalhadores ao final da jornada de trabalho. Uma mulher reclamando de uma multa com o policial. Um rapaz que levava o cachorro para usar a rua de banheiro. Um casal que se desentendia e se colocavam a brigar na esquina. E Marcelo absorvendo tudo aquilo muito superficialmente, como uma esponja nova. Muita informação se processando ao mesmo tempo dificultava que ele pudesse organizar os pensamentos. Decide voltar e ver o outro filme, a comédia italiana. Mais chá e agora um resto de sushi da festa na geladeira. Filme de comédia pouco arriscado. Ficou beirando o cômico todo o tempo e levou Marcelo a sair do estado de entropia que levava todo o dia de tão surpreendido com a má qualidade do filme. Se levantou revoltado e foi buscar uma verdadeira comédia em sua colecão de Woody Allen. Entre "Desconstruindo Harry" e "Todos dizem eu te amo", se animou mais pelo segundo. Talvez pelo tom musical, talvez pelo tema de sexo, que sempre interessara a Marcelo. Mas enquanto preparava um cigarro para dar boas gargalhadas durante o filme, se deu conta que o apartamento da frente, o mesmo da noite anterior, seguia com a luz acesa. Se deu ao trabalho de prestar atenção e que a janela regulava altura com a que ele tinha visto tão pouco interessante cena de sexo na noite anterior. Mas o que mais chamava sua atenção era que a luz seguia acesa. Uma hora e pouco de Woody Allen bastaram para renovar as energias de Marcelo e colocar a cabeça pra funcionar em ritmo normal.
Decidiu sair para correr. Adorava fazer isso de noite, ainda que o centro não lhe proporcionava a melhor condição de segurança pra isso, ele saia pra correr sem nada de valor, o que facilitava o fato de que quando alguém o abordava na rua na intenção de assaltá-lo - e já tinha passado umas quantas vezes - o ladrão se frustrava porque ele não tinha nada de valor para lhe dar. Correu entre 50 minutos, 1 hora, mais ou menos. Entre suas rotinas diárias, tinha por prática sempre fazer pelo menos 1 hora de esportes. Que fosse a bicicleta em seu apartamento, umas horas na piscina do clube ou corridas noturnas, mas esse era um hábito que sempre teve, desde que era adolescente. Chegou em casa com a cabeça tranquila. A corrida fez muito bem pra cabeça e o fez pensar e organizar os pensamentos. Uma ducha demorada, em que esquecera o tempo e preocupara só com a água batendo forte em suas costas.
Levava um short de pijama de seda negro com detalhes em rosa. Sentou-se na varanda para escrever quando se deu conta que a mesma luz pela janela seguia acesa. Ding, dong! Alguém chamava na porta. Deve ser alguém do prédio, pensou Marcelo, já que não chamaram ao interfone. Foi pôr seu hobby e demorou a encontrá-lo já que a casa estava uma bagunça de uma festa do dia anterior. A campainha não voltou a chamar. Marcelo achou estranho e não abriu a porta. Olhou pelo olho mágico e não viu ninguém. Voltou-se à varanda e intrigado com aquela luz acesa, pôs-se a escrever e a colocar mistério em seu livro. A verdade é que lhe faltava algo de romance e não de mistério no livro e passou boa parte do tempo apagando e escrevendo. Para ao final ter umas poucas páginas mais que nem gostava muito.
"Melhor descansar e recuperar o ritmo normal amanhã. Já é madrugada e amanhã não posso faltar outra vez ao trabalho." - falava sozinho, Marcelo.
Pela manhã, sobre as 10 mais ou menos se levantou. Foi até a portaria para pegar o jornal. Quando abriu a porta, viu um papel no chão do lado de fora. Pegou o papel dobrado, abriu e leu: "Te espero em uma hora no terraço do prédio! Um beijo". Sem entender muito bem do que se tratava, foi até a portaria, pegou o jornal e perguntou ao porteiro se alguém havia procurado por ele no dia anterior. O porteiro respondeu negativamente e colocou Marcelo a pensar que tinha algum admirador no prédio, ou quem sabe, uma menos informada, admiradora. Sentou-se na varanda a ler o jornal e se deu conta que a luz seguia acesa. Olhou para baixo e a rua estava aumentando seu movimento diário. Via a portaria do prédio de frente e ali estava o porteiro controlando a entrada e saída de pessoas. "Coisas da minha cabeça cheia de idéias" - pensou Marcelo. Colocou uma roupa e saiu para trabalhar. Já com um pouco de pressa, esqueceu o computador ligado na varanda e o celular perdido em algum lugar de seu quarto.
terça-feira, 14 de março de 2006
Capítulo III - Sexo, violência e romance
Como em uma vitrine a la holandesa, Marcelo se entreteve e relaxou com uma mulher muito bonita iniciando um strip-tease. Dançava e provocava alguém que parecia estar sentado em alguma cadeira ou um banco. Sentava no colo dele, e tirava cada peça de roupa dela e dele em um ritmo muito lento. Filme porno de graça na janela de Marcelo, que pouco se entretia já que praticamente só via a mulher que dançava, parecia-lhe que o homem estava com os braços amarrados ou algo assim. Fetiches, pensava Marcelo, que também gostava de variar entre quatro paredes. Se entreteve entre um cigarro e mais uns goles nos vinhos que sobravam sem dar muita atenção ao lento processo sexual que se preparava para acontecer. Já desistindo de escrever e sem nenhuma inspiração, foi buscar uma das suas divas da música popular brasileira. Meia luz no quarto, seu digestivo e boa noite cinderela.
Já estava deitado na cama, com a luz apagada e matando a ponta do digestivo quando começou a escutar uma gritaria na rua que não demorou poucos minutos para somarem sirenes, a orquestra cotidiana no Butekim. Marcelo olhava ao longe as luzes vermelhas que se aproximavam e já pensava enquanto suspirava. Mais uma turminha que dorme no xadrez hoje. Mas as sirenes não pararam de soar e em poucos minutos haviam mais dois carros apitando e a gritaria seguia. Marcelo não se conteve na cama e em um salto estava espiando pela espaço entre a cortina e a parede. E podia ver bem o que acontecia, inclusive escutar.
Era um irmão de um policial civil que tinha caído no golpe das prostitutas e estava de volta uma semana depois. Com os olhos vermelhos e um perfume de cachaça da boa, estava discutindo com o cafetão que lhe havia roubado. Chegou no bar lá pelas três da manhã e sentou em uma mesa no fundo. Depois de algum tempo viu chegar a puta que te havida jurado dar amor a ele na semana anterior e logo em seguida, o seu cafetão. E a confusão já podia ter começado aí, porque ela sentou no balcão do bar e ele foi pro fundo do bar também. Mas ele não reconhecia o idiota da semana anterior sentado duas mesas atrás dele. Renato era estudante de direito e queria seguir a carreira do pai, a de juíz ou do irmão, a de polícia civil. Muito mais valente que paciente, se conteve bem, até porque o cafetão era bem truculento e ele não estava em condições de derrubar nem uma mosca de tanta pinga que tinha no sangue. Pegou o telefone, ligou pro irmão e contou que encontrou o cara que lhe havia roubado. Ficou quietinho vendo a cena, e uns poucos 5 minutos depois chegou um outro que vinha empolgado que nem ele na semana anterior, gravata na testa, gritando com Kim que queria um scotch e um cigarro. E nesse momento em que chamava a atenção de todos do bar, Renato percebeu que a puta olhava para o cafetão e sorria com certo sarcasmo. O cafetão acenava positivamente com a cabeça e Renato quebrava uma dúzia de palitos de raiva enquanto começava a entender que o cafetão e a puta faziam um extra de golpistas no fim da noite. Se levanta derrubando o copo vazio e vai ao banheiro. O copo, ao quebrar chamou a atenção de boa parte do bar. Mas os dois golpistas tinham olhos fixos na sua próxima vítima. A puta já começava pedindo fogo ao rapaz e fazendo uma piadinha elogiando a gravata dele. Renato, no banheiro, batia a cabeça contra a porta do mictório e subia a raiva e o álcool. Se não bastasse, encontra no bolso de sua jaqueta um tirinho que ele nunca foi de dispensar. Com o coquetel turbinado pelo desejo de que podia mais que qualquer pessoa no mundo vingar-se dos dois ali e agora, sai do banheiro e vê que o cafetão está de pé e que a puta já não estava e nem o palhaço com gravata na testa. Olhou para mesa do cafetão e viu os talheres com que ele tinha comido a tradicional lasanha do bar. Com garfo e faca em cada uma das mãos, acerta o cafetão quando ele já estava na porta do bar. Renato acertou um garfo em sua nuca e ele caiu de joelhos. Quando viu, do outro lado da rua a puta com o rapaz, gritou e correu em direção a puta como quem não vai para perder a viagem. Mas antes de chegar escutou a voz do cafetão lhe chamando de o idiota da semana passada, e que agora o reconhecia. O cafetão tirou o garfo da nuca e viu que a ferida sangrava muito e que não morreria com um golpe de garfo. Se levantou e foi em direção a Renato, mas tão pouco foi uma briga dessas de muita ação. Renato se defendia com a faca e o cafetão tentava atacar enquanto lavavam toda a roupa suja na rua. Mas a confusão ficou por aí até que chegou um amigo do irmão de Renato em uma viatura e não demorou muito pra chegar o irmão e mais duas viaturas fechando a rua, mas ainda assim não conseguindo conter a briga porque Renato não se afastava muito e queria briga.
Marcelo via pela janela que a puta já havia sido algemada e colocada no banco de trás de uma das viaturas. Mais um pouco de gritaria e discussão, e a polícia sacou as armas e fez com que o cafetão se afastasse, mas Renato ia atrás e seguia insultando e dizendo que queria matá-lo. Seu irmão percebeu que ele estava fora de si e tratou de imobilizá-lo e também o algemou e colocou cada um em uma viatura. Depois daí, Marcelo sabia que o resultado só mesmo em uma nota de rodapé do jornal do dia seguinte como uma dupla de golpistas pegos pela polícia, e que Renato ia se safar e voltaria para casa assim que seu irmão entendesse que ele não estivesse mais sobre os efeitos dos entorpecentes que havia consumido aquela noite. E Marcelo pensou que estava imaginando coisas, fazendo suposições e criando histórias. E gostou, porque estava de volta sua inspiração e foi para a sala escrever um pouco seu romance. Sentou e escreveu pouco mais de dez páginas e parou no meio de uma frase quando se deu conta que o mesmo quarto que te chamou a atenção de madrugada, seguia com a luz acesa.
Já estava deitado na cama, com a luz apagada e matando a ponta do digestivo quando começou a escutar uma gritaria na rua que não demorou poucos minutos para somarem sirenes, a orquestra cotidiana no Butekim. Marcelo olhava ao longe as luzes vermelhas que se aproximavam e já pensava enquanto suspirava. Mais uma turminha que dorme no xadrez hoje. Mas as sirenes não pararam de soar e em poucos minutos haviam mais dois carros apitando e a gritaria seguia. Marcelo não se conteve na cama e em um salto estava espiando pela espaço entre a cortina e a parede. E podia ver bem o que acontecia, inclusive escutar.
Era um irmão de um policial civil que tinha caído no golpe das prostitutas e estava de volta uma semana depois. Com os olhos vermelhos e um perfume de cachaça da boa, estava discutindo com o cafetão que lhe havia roubado. Chegou no bar lá pelas três da manhã e sentou em uma mesa no fundo. Depois de algum tempo viu chegar a puta que te havida jurado dar amor a ele na semana anterior e logo em seguida, o seu cafetão. E a confusão já podia ter começado aí, porque ela sentou no balcão do bar e ele foi pro fundo do bar também. Mas ele não reconhecia o idiota da semana anterior sentado duas mesas atrás dele. Renato era estudante de direito e queria seguir a carreira do pai, a de juíz ou do irmão, a de polícia civil. Muito mais valente que paciente, se conteve bem, até porque o cafetão era bem truculento e ele não estava em condições de derrubar nem uma mosca de tanta pinga que tinha no sangue. Pegou o telefone, ligou pro irmão e contou que encontrou o cara que lhe havia roubado. Ficou quietinho vendo a cena, e uns poucos 5 minutos depois chegou um outro que vinha empolgado que nem ele na semana anterior, gravata na testa, gritando com Kim que queria um scotch e um cigarro. E nesse momento em que chamava a atenção de todos do bar, Renato percebeu que a puta olhava para o cafetão e sorria com certo sarcasmo. O cafetão acenava positivamente com a cabeça e Renato quebrava uma dúzia de palitos de raiva enquanto começava a entender que o cafetão e a puta faziam um extra de golpistas no fim da noite. Se levanta derrubando o copo vazio e vai ao banheiro. O copo, ao quebrar chamou a atenção de boa parte do bar. Mas os dois golpistas tinham olhos fixos na sua próxima vítima. A puta já começava pedindo fogo ao rapaz e fazendo uma piadinha elogiando a gravata dele. Renato, no banheiro, batia a cabeça contra a porta do mictório e subia a raiva e o álcool. Se não bastasse, encontra no bolso de sua jaqueta um tirinho que ele nunca foi de dispensar. Com o coquetel turbinado pelo desejo de que podia mais que qualquer pessoa no mundo vingar-se dos dois ali e agora, sai do banheiro e vê que o cafetão está de pé e que a puta já não estava e nem o palhaço com gravata na testa. Olhou para mesa do cafetão e viu os talheres com que ele tinha comido a tradicional lasanha do bar. Com garfo e faca em cada uma das mãos, acerta o cafetão quando ele já estava na porta do bar. Renato acertou um garfo em sua nuca e ele caiu de joelhos. Quando viu, do outro lado da rua a puta com o rapaz, gritou e correu em direção a puta como quem não vai para perder a viagem. Mas antes de chegar escutou a voz do cafetão lhe chamando de o idiota da semana passada, e que agora o reconhecia. O cafetão tirou o garfo da nuca e viu que a ferida sangrava muito e que não morreria com um golpe de garfo. Se levantou e foi em direção a Renato, mas tão pouco foi uma briga dessas de muita ação. Renato se defendia com a faca e o cafetão tentava atacar enquanto lavavam toda a roupa suja na rua. Mas a confusão ficou por aí até que chegou um amigo do irmão de Renato em uma viatura e não demorou muito pra chegar o irmão e mais duas viaturas fechando a rua, mas ainda assim não conseguindo conter a briga porque Renato não se afastava muito e queria briga.
Marcelo via pela janela que a puta já havia sido algemada e colocada no banco de trás de uma das viaturas. Mais um pouco de gritaria e discussão, e a polícia sacou as armas e fez com que o cafetão se afastasse, mas Renato ia atrás e seguia insultando e dizendo que queria matá-lo. Seu irmão percebeu que ele estava fora de si e tratou de imobilizá-lo e também o algemou e colocou cada um em uma viatura. Depois daí, Marcelo sabia que o resultado só mesmo em uma nota de rodapé do jornal do dia seguinte como uma dupla de golpistas pegos pela polícia, e que Renato ia se safar e voltaria para casa assim que seu irmão entendesse que ele não estivesse mais sobre os efeitos dos entorpecentes que havia consumido aquela noite. E Marcelo pensou que estava imaginando coisas, fazendo suposições e criando histórias. E gostou, porque estava de volta sua inspiração e foi para a sala escrever um pouco seu romance. Sentou e escreveu pouco mais de dez páginas e parou no meio de uma frase quando se deu conta que o mesmo quarto que te chamou a atenção de madrugada, seguia com a luz acesa.
sexta-feira, 25 de julho de 2003
Capítulo II - O Butekim
Cigarro, cigarro e cigarro. Essas eram as únicas palavras que se passavam na cabeça ainda alucinada de Marcelo. Se ele não fosse comprar um maço novo logo seria impossível escrever qualquer linha naquela noite. Sobretudo nas costas e sandália franciscana, passou a mão em algumas moedas sobre a escrivaninha do quarto e lá foi ele ao bar mais próximo aberto àquela hora: o Butekim.
Tradicional por funcionar das 18 horas até às 6 da manhã, o Butekim seguia a tradição de servir os clientes do happy hour ao café da manhã há 50 anos. Administrado atualmente pela terceira geração da família Souza, Marcos Souza Junior, o Kim, filho único, assumiu os negócios do pai aos 24 anos, quando o pai morreu baleado no próprio bar em uma tentativa de assalto às 5:30 da manhã de uma terça-feira, primeira vez que o bar fechara antes das seis em 40 anos de funcionamento. Com a herança deixada pelo pai, algumas dívidas e um lote no Espírito Santo, Marcos reformou o bar e mudo o nome de Bar da Hora para Butekim com a intenção de homenagear seu pai e criar uma nova identidade para o bar. Nova identidade que por azar foi assimilada pela ralé do centro. O movimento mais freqüente era o de viaturas policiais separando brigas de bêbados altas horas da madrugada. Algumas prostitutas e cafetões freqüentavam o bar na tentativa de conseguir descolar alguns universitários embriagados que insistiam em passar por lá para tomar a saideira.O golpe era simples, elas ofereciam seus serviços de graça e na casa delas, quando o iludido rapaz topava, era roubado pelo cafetão que chegava em casa alegando ser o marido dela e colocando o rapaz pra correr só de cuecas. O lugar não era mais barra pesada porque o Kim não admitia de forma alguma o uso de drogas lá. Um dia, uma turma chegou lá exalando cheiro de maconha. Na mesma hora o Kim colocou todo mundo pra fora e pela segunda vez em 50 anos fechou o bar antes das 6 da manhã. Após esse fato, os próprios freqüentadores passaram a proibir e não aceitar drogados no bar.
Era para esse lugar tão hostil que Marcelo se encaminhava. Já sabia que não seria bem vindo se percebessem que estava completamente drogado. No elevador pode perceber que seus olhos estavam muito vermelhos e que seria facilmente expulso do butekim. Por sorte encontrou em seu bolso um velho frasco de colírio. Ouro Branco é uma cidade muito fria e Marcelo sempre levava aquele sobretudo e o colírio para disfarçar os efeitos da maconha. Antes de chegar ao primeiro andar pingou duas gotas em cada olho, o que deu uma leve embaçada na sua visão.
O Butekim era no mesmo quarteirão em que Marcelo morava, porém do outro lado da rua. Enquanto atravessava notou algo estranho. No edifício Helena Ribas, ao lado do automóvel clube, quase de frente para o prédio de Marcelo, havia um estranho homem, forte e bem vestido tentando pular a grade do portão. Devido ao seu estado alucinógeno e graças à embaçada que o colírio lhe proporcionara, Marcelo não pode identificar muita coisa. Notou que o homem percebeu que era observado. Nesse momento Marcelo apressou o passo. O estranho homem era forte o suficiente para agredi-lo e estava tão drogado que não conseguiria reagir. Sem olhar pra traz deu uma pequena corrida até o bar. Enquanto corria, pensou ainda, que o prédio era de alto luxo e tinha porteiro 24 horas, provavelmente o porteiro impediria a entrada dele. Chegou lá meio ofegante assustado. Comprou dois maços de cigarro e foi embora. Quando saiu do bar viu que o homem não estava mais lá. Andou apressadamente até a porta do prédio e tentou ver pela grade se conseguia falar com o porteiro. Enquanto tentava olhar sentiu uma mão truculenta em seu ombro. Virou assustado e deparou-se com o porteiro do prédio que disse que também estava no Butekim tomando um café e que o jornalista havia esquecido o troco do cigarro. O porteiro levava apenas o recado do Kim, que estranhou o modo rápido e assustado como Marcelo entrou e saiu do bar, esquecendo inclusive de pegar o troco.
Marcelo, ainda tremendo do susto, agradeceu e retornou ao Butekim para pegar o troco de pouco mais de 5 reais. Quando voltou, queria se desculpar pela maneira como reagiu ao porteiro, mas ele já havia entrado e já era tarde.
Marcelo retornou para o seu apartamento e a imagem daquele homem não saía da sua mente. Sentou-se na varanda e ainda nervoso acendeu um cigarro. Fumou rapidamente. Acendeu o segundo cigarro ainda no final do outro e retornou ao notebook. Não conseguia escrever nada que tivesse alguma coerência. Só pensava na imagem daquele homem e no que poderia ter lhe acontecido se o homem tivesse ido atrás dele na rua. No mesmo instante em que acendia mais um cigarro, algo no edifício Helena Ribas chamou sua atenção. Em um apartamento, que deveria estar no 11º andar, uma luz se acendeu às quatro horas da manhã.
Tradicional por funcionar das 18 horas até às 6 da manhã, o Butekim seguia a tradição de servir os clientes do happy hour ao café da manhã há 50 anos. Administrado atualmente pela terceira geração da família Souza, Marcos Souza Junior, o Kim, filho único, assumiu os negócios do pai aos 24 anos, quando o pai morreu baleado no próprio bar em uma tentativa de assalto às 5:30 da manhã de uma terça-feira, primeira vez que o bar fechara antes das seis em 40 anos de funcionamento. Com a herança deixada pelo pai, algumas dívidas e um lote no Espírito Santo, Marcos reformou o bar e mudo o nome de Bar da Hora para Butekim com a intenção de homenagear seu pai e criar uma nova identidade para o bar. Nova identidade que por azar foi assimilada pela ralé do centro. O movimento mais freqüente era o de viaturas policiais separando brigas de bêbados altas horas da madrugada. Algumas prostitutas e cafetões freqüentavam o bar na tentativa de conseguir descolar alguns universitários embriagados que insistiam em passar por lá para tomar a saideira.O golpe era simples, elas ofereciam seus serviços de graça e na casa delas, quando o iludido rapaz topava, era roubado pelo cafetão que chegava em casa alegando ser o marido dela e colocando o rapaz pra correr só de cuecas. O lugar não era mais barra pesada porque o Kim não admitia de forma alguma o uso de drogas lá. Um dia, uma turma chegou lá exalando cheiro de maconha. Na mesma hora o Kim colocou todo mundo pra fora e pela segunda vez em 50 anos fechou o bar antes das 6 da manhã. Após esse fato, os próprios freqüentadores passaram a proibir e não aceitar drogados no bar.
Era para esse lugar tão hostil que Marcelo se encaminhava. Já sabia que não seria bem vindo se percebessem que estava completamente drogado. No elevador pode perceber que seus olhos estavam muito vermelhos e que seria facilmente expulso do butekim. Por sorte encontrou em seu bolso um velho frasco de colírio. Ouro Branco é uma cidade muito fria e Marcelo sempre levava aquele sobretudo e o colírio para disfarçar os efeitos da maconha. Antes de chegar ao primeiro andar pingou duas gotas em cada olho, o que deu uma leve embaçada na sua visão.
O Butekim era no mesmo quarteirão em que Marcelo morava, porém do outro lado da rua. Enquanto atravessava notou algo estranho. No edifício Helena Ribas, ao lado do automóvel clube, quase de frente para o prédio de Marcelo, havia um estranho homem, forte e bem vestido tentando pular a grade do portão. Devido ao seu estado alucinógeno e graças à embaçada que o colírio lhe proporcionara, Marcelo não pode identificar muita coisa. Notou que o homem percebeu que era observado. Nesse momento Marcelo apressou o passo. O estranho homem era forte o suficiente para agredi-lo e estava tão drogado que não conseguiria reagir. Sem olhar pra traz deu uma pequena corrida até o bar. Enquanto corria, pensou ainda, que o prédio era de alto luxo e tinha porteiro 24 horas, provavelmente o porteiro impediria a entrada dele. Chegou lá meio ofegante assustado. Comprou dois maços de cigarro e foi embora. Quando saiu do bar viu que o homem não estava mais lá. Andou apressadamente até a porta do prédio e tentou ver pela grade se conseguia falar com o porteiro. Enquanto tentava olhar sentiu uma mão truculenta em seu ombro. Virou assustado e deparou-se com o porteiro do prédio que disse que também estava no Butekim tomando um café e que o jornalista havia esquecido o troco do cigarro. O porteiro levava apenas o recado do Kim, que estranhou o modo rápido e assustado como Marcelo entrou e saiu do bar, esquecendo inclusive de pegar o troco.
Marcelo, ainda tremendo do susto, agradeceu e retornou ao Butekim para pegar o troco de pouco mais de 5 reais. Quando voltou, queria se desculpar pela maneira como reagiu ao porteiro, mas ele já havia entrado e já era tarde.
Marcelo retornou para o seu apartamento e a imagem daquele homem não saía da sua mente. Sentou-se na varanda e ainda nervoso acendeu um cigarro. Fumou rapidamente. Acendeu o segundo cigarro ainda no final do outro e retornou ao notebook. Não conseguia escrever nada que tivesse alguma coerência. Só pensava na imagem daquele homem e no que poderia ter lhe acontecido se o homem tivesse ido atrás dele na rua. No mesmo instante em que acendia mais um cigarro, algo no edifício Helena Ribas chamou sua atenção. Em um apartamento, que deveria estar no 11º andar, uma luz se acendeu às quatro horas da manhã.
segunda-feira, 23 de junho de 2003
Capítulo I - Descoberta
Marcelo Albuquerque, é assim que o jornalista da coluna "Sociedade Alta" do Jornal de Minas Gerais assina seu nome. Marcelo de Oliveira Silva Gomes adotou o Albuquerque de sua avó materna porque achava que soava melhor para um colunista social. Requisitado nas mais badaladas festas e eventos da alta sociedade e amigo íntimo de todos os figurões de Belo Horizonte.
Escreve notícias e fofocas em sua coluna por dois motivos: interesse e dinheiro. Nada que algumas cifras não comprem o bom grado do jornalista. Aliás, jornalista por profissão, homossexual por opção e colunista social para sobreviver. O grande sonho de Marcelo sempre foi ser repórter policial, mas nunca se deu bem na redação pela sua preferência sexual. Logo que se formara, no final da década de 70, mais precisamente em 1978, ainda havia um grande preconceito nas grandes empresas e nos grandes jornais não era diferente.
Começou no jornalismo na seção de astrologia, aos poucos ganhou espaço no rádio, em um programa onde entregava a fofoca e os babados da noite de BH. Logo recebeu alguns avisos para que calasse a matraca. Os primeiros eram por escrito, alguns com boas quantias de dinheiro e alguns com ameaças diretas e violentas.
Em virtude de um olho roxo e algumas costelas quebradas, resolveu amenizar seu discurso na rádio. Na mesma época começou a perceber que poderia ganhar algum dinheiro se amigando para o lado dos figurões. E deu certo, falava bem deles e eles lhe retribuíam como podiam, dinheiro, acesso às festas mais importantes da cidade e algumas trocas de experiências até mesmo físicas.
Devido ao grande sucesso na rádio, Marcelo foi convidado em 1983 para assinar a coluna do Jornal de Minas Gerais sobre a alta sociedade.
Marcelo é natural de Ouro Branco, cidade próxima de Belo Horizonte aproximadamente 100 Km. Mudou-se para a capital aos 21 anos, quando iniciou os estudos em jornalismo. Descobriu-se no sexo e na vida no 2º período do curso superior, quando em uma festa em uma república de estudantes na Rua Tupis, no quinto andar de um prédio antigo, se embriagou de vodka barata e vinho, se entorpeceu com cocaína e muita maconha e experimentou no meio da noite sexo com Juliana, uma caloura da faculdade e com Diogo, um colega de sala com quem acordou abraçado e pelado pela manhã.
Revelou-se sua opção por rapazes e assumiu publicamente, mas somente na capital. Filho de mãe beata e pai repressor, jamais teve coragem de assumir para eles que optara pelo homossexualismo. Até porque não aparenta sê-lo. Veste-se, fala e age como um homem, apenas na cama que se comporta como uma donzela. Mas assume publicamente seus namorados, eis o motivo de tanto preconceito quando começou na profissão.
Dono de um apartamento na Rua Goiás, no centro de Belo Horizonte, bem próximo do jornal e da antiga república onde acontecia as festas e orgias de faculdade, Marcelo adora passear a noite pela região central. Não possui carro, muito menos carteira de motorista, opção própria. Acha carro muito perigoso e preferiu investir todo seu dinheiro no seu apartamento. Com uma decoração de altíssimo luxo, Marcelo promove festas freqüentes no 12º andar do velho prédio de frente ao automóvel clube.
Geralmente termina as festas embriagado de vinho tinto seco, um vício que trouxe de Ouro Branco, e muita maconha na cabeça. Algumas das vezes só, outras acompanhado, mas isso nunca lhe foi algum problema. Na verdade até gostava de terminar só, achava que no final da festa era o melhor momento para trabalhar, pois a mente estava aberta pelas drogas e pelo vinho. Acendia um cigarro, vício esse que adquiriu na faculdade, abria seu notebook na varanda de seu apartamento e começava a redigir, ora as matérias de sua coluna, ora se dedicava a um projeto pessoal: um romance policial.
Na noite de 12 de fevereiro de 2003 tudo caminhava para mais uma noitada de trabalho pós-festa, nenhum rapaz interessante naquela noite em seu apê e a cabeça pensado com muito entusiasmo em algumas idéias novas para o seu livro. Aproximadamente às 2:30 da manhã, dispensou os últimos convidados alegando sono. Pegou seu notebook, posicionou-se na varanda, como de costume, pegou o maço de cigarros todo amassado do bolso e quando pegou o cigarro verificou que era o último. Sem cigarro, não dava para escrever, era como energia essencial para alimentar sua inspiração.
Escreve notícias e fofocas em sua coluna por dois motivos: interesse e dinheiro. Nada que algumas cifras não comprem o bom grado do jornalista. Aliás, jornalista por profissão, homossexual por opção e colunista social para sobreviver. O grande sonho de Marcelo sempre foi ser repórter policial, mas nunca se deu bem na redação pela sua preferência sexual. Logo que se formara, no final da década de 70, mais precisamente em 1978, ainda havia um grande preconceito nas grandes empresas e nos grandes jornais não era diferente.
Começou no jornalismo na seção de astrologia, aos poucos ganhou espaço no rádio, em um programa onde entregava a fofoca e os babados da noite de BH. Logo recebeu alguns avisos para que calasse a matraca. Os primeiros eram por escrito, alguns com boas quantias de dinheiro e alguns com ameaças diretas e violentas.
Em virtude de um olho roxo e algumas costelas quebradas, resolveu amenizar seu discurso na rádio. Na mesma época começou a perceber que poderia ganhar algum dinheiro se amigando para o lado dos figurões. E deu certo, falava bem deles e eles lhe retribuíam como podiam, dinheiro, acesso às festas mais importantes da cidade e algumas trocas de experiências até mesmo físicas.
Devido ao grande sucesso na rádio, Marcelo foi convidado em 1983 para assinar a coluna do Jornal de Minas Gerais sobre a alta sociedade.
Marcelo é natural de Ouro Branco, cidade próxima de Belo Horizonte aproximadamente 100 Km. Mudou-se para a capital aos 21 anos, quando iniciou os estudos em jornalismo. Descobriu-se no sexo e na vida no 2º período do curso superior, quando em uma festa em uma república de estudantes na Rua Tupis, no quinto andar de um prédio antigo, se embriagou de vodka barata e vinho, se entorpeceu com cocaína e muita maconha e experimentou no meio da noite sexo com Juliana, uma caloura da faculdade e com Diogo, um colega de sala com quem acordou abraçado e pelado pela manhã.
Revelou-se sua opção por rapazes e assumiu publicamente, mas somente na capital. Filho de mãe beata e pai repressor, jamais teve coragem de assumir para eles que optara pelo homossexualismo. Até porque não aparenta sê-lo. Veste-se, fala e age como um homem, apenas na cama que se comporta como uma donzela. Mas assume publicamente seus namorados, eis o motivo de tanto preconceito quando começou na profissão.
Dono de um apartamento na Rua Goiás, no centro de Belo Horizonte, bem próximo do jornal e da antiga república onde acontecia as festas e orgias de faculdade, Marcelo adora passear a noite pela região central. Não possui carro, muito menos carteira de motorista, opção própria. Acha carro muito perigoso e preferiu investir todo seu dinheiro no seu apartamento. Com uma decoração de altíssimo luxo, Marcelo promove festas freqüentes no 12º andar do velho prédio de frente ao automóvel clube.
Geralmente termina as festas embriagado de vinho tinto seco, um vício que trouxe de Ouro Branco, e muita maconha na cabeça. Algumas das vezes só, outras acompanhado, mas isso nunca lhe foi algum problema. Na verdade até gostava de terminar só, achava que no final da festa era o melhor momento para trabalhar, pois a mente estava aberta pelas drogas e pelo vinho. Acendia um cigarro, vício esse que adquiriu na faculdade, abria seu notebook na varanda de seu apartamento e começava a redigir, ora as matérias de sua coluna, ora se dedicava a um projeto pessoal: um romance policial.
Na noite de 12 de fevereiro de 2003 tudo caminhava para mais uma noitada de trabalho pós-festa, nenhum rapaz interessante naquela noite em seu apê e a cabeça pensado com muito entusiasmo em algumas idéias novas para o seu livro. Aproximadamente às 2:30 da manhã, dispensou os últimos convidados alegando sono. Pegou seu notebook, posicionou-se na varanda, como de costume, pegou o maço de cigarros todo amassado do bolso e quando pegou o cigarro verificou que era o último. Sem cigarro, não dava para escrever, era como energia essencial para alimentar sua inspiração.
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