terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Capítulo XVIII - Do lado de lá

Marcelo tinha seu tempo para conduzir as coisas. Assim o fazia com o trabalho, e o fazia muito bem. Mas assim o é para tudo, metódico em suas rotinas que ele faz questão de administrar seu tempo para fazer as coisas. E entre muitas baladas, notas, fotos, mais baladas e eventos, Marcelo passava horas acordado trabalhando. E parte delas era na frente do computador. E arrumava tempo para escrever mais sua história. Cuidava da casa, e esse tempo para ele era essencial. São plantas por cuidar e coisas a desfrutar, pois a Marcelo há ainda o tempo em que não há nada melhor que curtir que suas bebedeiras em seu apartamento, seja nas frequentes, já nem mais tanto, baladas que promove Marcelo ou seja sozinho, o que vinha acontecendo muito, pois Marcelo encontrava-se em um fase introspectiva. E bebia seus espumantes e vinhos ao som de variadas músicas. Também tinha seus porres de banheira que duravam horas. E entre esses tantos de tempo que Marcelo tinha que administrar, ele ainda pensava na noite do assassinato que vira de seu apartamento. Algumas imagens iam e vinham. Enquanto outras se perdiam. Ia contruindo com as imagens que tinha uma idéia do que tinha visto. Nossa, se eu soubesse desenhar! Pensa Marcelo. Podia mostrar pro Marinis, emenda. E volta aos poucos a dispensar seu tempo a reescrever o texto que havia enviado a Marinis. Em um dia que a inspiração tinha dado uma travada, Marcelo pensou e falou ao mesmo tempo: Já acho que tenho algo novo pra apresentar ao Marinis. E riu. Abre o e-mail e vê algumas funções do trabalho. São inevitáveis, resultados de uma época do ano que as festas davam uma aumentada e o trabalho de Marcelo se fazia mais puxado, inclusive na parte de computador, recebia fotos de fotógrafos digitais do jornal que o acompanhavam e resenhas de um trio de estagiárias que mereciam um posto mais elevado, mas o maior diferencial era exatamente o intuito delas em estarem se esforçando ainda nos primeiros períodos do curso de jornalismo. Faziam rodízios nas festas e Marcelo fazia questão de sempre passar em todas elas ficar um pouco, e deixar a turma trabalhar depois. No dia seguinte, tem o trabalho de um editor com todo o material que recebe. Quase 3 horas depois. Marcelo fecha o e-mail e abre o msn. Sem se dar conta, entra diretamente com a opção que havia deixado a última vez que havia entrado, ocupado. Marcelo já correu o olho na lista e viu algumas pessoas. Entre elas está Marina. Ele clica no nome dela e aparece uma foto junto com a janela que se abre. Ela é bonita!, pensa Marcelo, e tem 25 anos, lê nas suas informações. Marcelo escreve. Oi! E nenhuma resposta. Só o perfil que havia mudado para ocupado.
Do outro lado do computador, Marina conversava com Beatriz e vê saltar uma janela dizendo da entrada do Marcelo. Ela clicou no nome dele. Um ícone do msn vermelho dizia que ele estava ocupado. Na janela menor via sua própria foto. Voltou a conversar com Beatriz. Uma das tantas amigas recém feitas de Marina. Marina adorava conversar no msn. Tinha suas manias e essa era uma delas. Marina era desse tipo. Tinha um monte de amigos, todos virtuais. Os amava, odiava, conversava, se entendia, se desentendia, brigava, deixava de ser amigo e depois voltava. Mas com Marcelo tinha um negócio estranho que ela sentia que lhe faltava coragem. Sempre adicionava e já puxava assunto. Mas com ele, ela tinha até medo de misturar amor com paixão, pois ele era tão desatento, que ela era vizinha de frente dele. E sabia que ele era gay, mas quando foi seu último aniversário tinha tido que depois de 3 anos ia se declarar pra ele. E foi quando resolveu tocar campainha um dia de madrugada, bebada na casa de Marcelo. Marina contava essa história a Beatriz quando a janela com o nome de Marcelo muda de um bonequinho verde para sua foto. Marina vai se despedindo de Beatriz com uma desculpa de trabalho, muda seu status para ocupado e lê algumas informações do perfil de Marcelo. Ela vê que Marcelo está digitando algo, sente que seu coração pulsa mais devagar e lê suspirando: Oi! Marina sente uma emoção forte e começa a chorar. No playlist do computador ela busca algo para pensar e vê o perfil de Marcelo mudar de ocupado para off-line. Ela clica e escreve. Ei!
Marcelo, já no modo off line, mas ainda conectado no msn recebe uma mensagem de Marina. Ainda off line responde: Tudo bem? Marina responde que sim, buscando se tranquilizar começa a conversar temas que encontrara no perfil dele. Falam de trabalho, de jornalismo e de arquitetura. De cidades. De serem do interior. De Belo Horizonte. Das cidades que gostariam de ir. E as histórias das já visitadas. Contam casos. Discutem cinema, comentam de livros, sugerem vinhos, falam de viagens, de música, e de mais muita coisa. Marcelo se deu conta de quanto tempo esteve conversanso com Marina quando percebeu que o céu começava a clarear e o dia a nascer. Se despediram e Marcelo foi dormir.
Marina também mudou para o modo off line. Abre o texto onde estava toda a conversa que tinha tido com Marcelo e relê tudo. Fica encantada. Sai cantarolando e prepara um café. Boa noite! diz olhando em direção ao apartamento de seu vizinho, fato esse que não conversaram no msn. Coloca uma bandeja de pão-de-queijo no forno e toma a primeira taça de café antes que eles assem. Marina morava sozinha ali também e por uma sorte do destino, seu pai trabalhava como investidor de imóveis e entre seus investimentos, conquistou apartamentos de patrimônio para a família. Havia se dedicado bastante na faculdade e antes de formar já fazia muitos e bem pagos projetos arquitetônicos. Ganhava bem, saia, se divertia, ia ao cinema e tinha relativa vida social. Mas sua maior rede de relação, de níveis mais profundos era toda contruída no universo virtual. Para Marina aquele momento era histórico. Estava conseguindo misturar os dois universos, levando o real ao virtual. E Marcelo havia conversado por muito tempo com ela e não tinha a menor idéia que ela morava no apartamento da frente. E sentiu-se segura e confiante. Marina é uma mulher bonita. E ainda é muito vaidosa. Academia e salão de beleza fazem parte da sua rotina. Entre uma mordida e outra no pão-de-queijo Marina pensa no dia que tem pela frente como se tivesse acabado de acordar. Por ser muito viciada em tudo que era de relacionamento do mundo virtual, tinha desenvolvido um lado insônico meio zumbi que passava até 2 noites sem dumir. E foi tomar banho. Pouco tempo depois estava quase pronta e abriu a internet. Abriu alguns sites, leu alguma informação aqui e ali. Mandou um e-mail pro seu melhor amigo, um senhor argentino que morava em Florianópolis. Marina contou a ele coisas que estava sentindo em relação ao Marcelo e que sentia que o estava enganando. Era pouco mais de 10 horas quando Marina saiu de casa. Olhou para a porta de Marcelo, chamou o elvador e sorriu olhando para a sua porta. Saiu e foi direto para um reunião com um cliente. Com direito a almoço com outro cliente e um pouco de escritório pela tarde. E pela noite, muito trabalho demandado dessas duas reuniões. E assim como Marina ficava muito no mundo virtual quando estava por conta do à toa, ela simplesmente desaparecia de todas as pessoas que conhecia quando o trabalho apertava. E assim ficou seis dias sem dar notícias.

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