quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Capítulo XXI - Varanda

Após um ritual quase metódico de Marinis de café após as refeições. Ele volta a perguntar a Marcelo pelo texto. Marcelo, meio embriagado pelo vinho enche alguns pratos de água na cozinha e olha para o sofá. Marcelo!? Pergunta Marinis. E Marcelo responde. Tá no computador, já pego pra você. Marcelo, trombando ao sair pela porta da cozinha vai em direção ao seu quarto. Volta após alguns segundos com o laptop debaixo do braço. Marinis está na varanda, sentado olhando para o apartamento da vítima. Marcelo chega na sala, liga o computador e olha mais uma vez para o sofá. Marinis percebe a chegada de Marcelo, mas continua na varanda. Marcelo abre o documento no computador. Vai até a varanda e leva o computador até Marinis, que agradece. Muito obrigado, Marcelo. E emenda. Bonita vista você tem daqui. E Marcelo responde: É, mas é tão barulhento! E deixa o corpo cair no sofá. Após alguns minutos, Marcelo está prestes realizar o velho hábito de cochilar depois do almoço. Seus olhos estão quase fechando, mas insistem em fazer girar o teto. Aos poucos Marcelo vai se desconectando do que escuta e do que vê. Vinte minutos mais tarde Marcelo escuta: Marcelo!? E ele se desperta. Era Marinis e insistiu: Marcelo!? E ele respondeu, com a voz meio rouca: Oi! E Marinis, percebendo que Marcelo havia apagado no sofá, se desculpa: Você adormeceu?! Me desculpa! Marcelo pergunta: Quanto tempo eu durmi? E Marinis diz que pouco mais de 20. Marcelo levanta de um só golpe e diz: Já tá bom! Vai até a cozinha, pega uma garrafa de água, abre e dá uma golada. Volta até a sala, empurra o sofá e deita nele. Marinis termina de abrir a porta da varanda e diz: Marcelo, o arquivo que você me passou era o antigo. Marcelo, pergunta: Sério? E Marinis responde que sim. Mas não se preocupe, eu encontrei o outro e já o li também. Acho que temos muito o que conversar. E Marcelo, quase sem fôlego pelo susto, toma um gole de água e fala: Que bom, doutor! Marinis faz uma careta e continua: Eu estive pensando, você descreveu bem a cena que viu aqui, ou pelo menos algumas partes delas. Você falou que ela deu um tapa nele? Não foi? Marcelo diz: Foi, ué? Eu lembro algumas partes pois rolou um strip-tease e ela tava dançando e parecia que ele tava sentado numa cadeira, amarrado, sabe? Essas coisas de sexo sádico, sempre tem, né? Marinis percebendo que as coisas estava começando a fazer algum sentido volta a perguntar a Marcelo. Você se lembra de como ele ou ela eram? Marcelo percebendo que estava dando todas as suas informações e logo seria carta fora do baralho para o detetive retruca à Marinis. Olha só, Marinis. Eu te conto tudo, mas eu quero que você me conte um pouco também. Eu sempre gostei de histórias de polícia. Eu quase fui repórter policial. Mas adoro escrever histórias de detetives, provoca Marcelo. Marinis dá uma gargalhada. E lembra do texto que lera de Marcelo e que havia gostado bastante do conteúdo e da forma como ele escrevia. Para por alguns segundos enquanto pensa: Marcelo mistura várias coisas do seu cotidiano marginal do centro da cidade nas suas histórias, acho que posso ajudá-lo nisso? E Marcelo impaciente pela demora de Marinis começa a pensar: Se eu abri o texto errado, ele mexeu no meu computador? Olha intrigado para Marinis: E ele ainda assume isso! Marinis interrompe seu pensamento, Marcelo, te contarei mais dados assim que os concluir com o que confirmar com você hoje. Seus textos me foram de grande valía. Marcelo, satisfeito lhe pergunta: Qual foi mesmo a sua pergunta, então? Marinis lhe pergunta sobre como eram as pessoas que ele havia visto. Marcelo diz: Ah, claro! Então, eu só lembro da mulher, da vítima, né? A...Marisa Prieta, não é isso? Marinis acena com a cabeça. E ele diz: Então, alta, de cabelo ruivo, com um corpo bem bonito. Ela era puta, não era doutor? E Marinis lhe responde com outra pergunta: Quem? Marisa Prieta? E Marcelo responde que sim. Marinis continua: Era sim, mas sabe de uma coisa, ela não era muito bonita, pelo menos não como ela ficou depois que a conheci. Marcelo faz uma cara de pavor. E tem mais. Marinis continua. Ela tinha um metro e sessenta e um. E tinha o cabelo preto e crespo. E ela tinha marcas de algemas nos tornozelos e nos pulsos. E a marca de um forte tapa na cara. O que me leva a crer, que a mulher que você viu dar um tapa, não era Marisa Prieta, e sim, a assassina! E Marinis se assusta consigo mesmo ao concluir isso em voz alta. Marcelo com cara de espanto diz: Doutor, o senhor é um gênio. Fala mais. E Marinis o interrompe e diz: Agora não, Marcelo. Tem mais coisas que quero saber. Marinis tentando dissuadi-lo completa. Viu como funcionou da primeira vez? Marcelo parou por um segundo e respondeu que sim. Vamos lá, doutor. O que mais o senhor quer saber? Quero saber sobre esse homem vestido de negro que você viu caminhar na rua? Marcelo hesita alguns segundo e diz: Então, Marinis. Eu vi inclusive esse cara pulando o muro. Eu me lembro, porque ele era grande e só vi os olhão verde dele olhando pra mim. Saí apavorado pro Butekim, comprei um cigarro e esqueci o troco. Quando tava voltando, quase tive um troço. O porteiro do prédio que tava tomando um café no bar voltou e me devolveu. Achei até estranho tanta honestidade. Mas isso é algo que eu lembro bem também. Marinis comenta: Ou ela tem um parceiro, ou trabalha sozinha. Mas uma coisa é certa, é ela. Marcelo pergunta: Ela? O assassino é uma assassina? Ou uma dupla de assassinos? Um casal de amantes assassinos? Acho que já vi um filme assim. Marinis dá uma risada de Marcelo e diz: Marcelo, menos, por favor! Olha só, isso é ultra confidencial. Ninguém pode saber ainda que estamos atrás de uma assassina. Marcelo responde sorrindo. Ô Marinis, e eu lá fico contando coisa pros outros? Ainda mais assuntos dessas gravidade! Claro, responde Marinis. Mas me conte, Marcelo, o que mais você lembra dessa pessoa que você viu saltando o muro, você disse que ela era grande? Ah, devia ter quase um metro e oitenta, porque o muro dali é baixinho porque tem porteiro. Acho que faltava tipo meio metro para ele ficar do tamanho do muro. Sei, porque um dia, tava passando por ali, estiquei meu braço pra cima e medi. As pontas dos meus dedos alcançam a ponta do muro. Cheguei aqui em casa e medi. Dois metros e trinta o tamanho do muro. E a mulher que você viu fazendo o strip tease, que mais dela? Segue perguntando Marinis. Doutor, ela também não era pequena. Tá vendo a janela ali, aponta Marcelo. Eu não consegui ver o tampo da cabeça dela quando ela levantava e quando ela sentava no colo da Marisa Prieta, que estranho isso, Marcelo interrompendo a si mesmo, dá uma risada curta e continua. Então, ela tinha o cabelo ruivo, o corpo era bonito, bunda e seios um pouco grandes, magra. Vestia uma roupa com estilo. O cabelo ia até aqui mais ou menos. E Marcelo mostra até que altura das suas costas ia o cabelo da mulher. Marinis o interrompe e pergunta, você se lembra que horas você foi no Butekim? Marcelo diz: Hora eu não sei, doutor, mas foi antes da briga que teve lá naquele dia, isso foi. Que dia movimentado aquele, hein, Marinis? É verdade, Marcelo. Sabe de uma coisa, tô achando que a pessoa que você viu entrando é a mesma que outro informante meu viu saindo. Marcelo, ao ouvir a palavra informante, ficou ofendido de ser colocado apenas como um informante. Quer fazer dupla com o Marinis e desvendar o caso. Marinis, não quero ser só um informante. Quero desvendar esse caso com você? Coloca Marcelo. Mas, Marcelo, o que estamos fazendo aqui essa tarde é desvendar esse caso. Agora, pegar a assassina é outra história. Posso copiar o texto no meu pen drive? Marcelo responde que sim e Marinis fecha o lap top e diz: Que bom, já copiei! E percebendo o quanto havia sido invasivo emenda: Uma ruiva, alta, de olhos verdes, de corpo bonito e forte. É Marcelo, essa varanda te deu história pra contar. Marcelo, parou, pensou, sorriu, colocou um cigarro na boca e acendeu. Deu um trago e ofereceu um a Marinis. Marinis recusou e agradeceu. Levantou-se e despediu-se. Marcelo o acompanhou até a porta. Marinis chamou o elevador e Marcelo ensaiou um tchau quando Marinis disse: Marcelo, lembra hein, sigilo. Marcelo ao escutar aquela palavra pela primeira vez na noite repetiu: Sigilo? E Marinis disse: Ô Marcelo, do que nós conversamos. E Marcelo respirando aliviado diz: Claro, doutor. Desculpa, é a cabeça muito cheia de coisa. Pode ficar tranquilo. E Marinis se coloca bravo e vai em direção a Marcelo: Olha, isso é sério, esses textos seus não podem vazar de forma alguma, ok? Marcelo diz com firmeza: Marinis, fique tranquilo. Tenho minha ética, minha sei lá o quê que me diz o que é certo de fazer. Marinis vê a sinceridade nas palavaras de Marcelo e se acalma, vira-se novamente para o elevador e bate com a cara na porta que está sendo aberta. Do lado de dentro uma voz feminina disse: Ops, desculpe! Marinis diz que não foi nada. E a observa. Tem entre metro e sessenta, metro e setena, tem os cabelos negros e curtos, é bem bonita e se veste bem. Ela, ao ver que o homem a estava analisando, sai do elevador. Marcelo fala: Tchau, Marinis, e antes de bater a porta de casa, vê uma mulher jovem de costas de cabelos negros e curtos sair do elevador. Marinis diz: Tchau! Obrigado pelo almoço. Até mais!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Capítulo XX - Desconexão

Marcelo acordou pela primeira vez em muitos dias sem nenhuma matéria para entregar no jornal. Todo o trabalho havia sido entregue e um tanto ficou para ser distribuído entre as seções dos parados dias que viriam da ressaca da hi society belorizontina. Após um longo café da manhã entre música e computador, Marcelo entra no msn, já mais interessado em conversar com Marina. Lembra de como havia sido interessante sua conversa com ela. Falaram de temas dos mais diversos e mesmo concordando ou discordando de algum ponto, sempre se entediam no final. Marcelo ficou por mais ou menos meia hora conectado na internet e nem sinal de Marina. Impaciente, abriu o texto que reescrevera para Marinis e o leu mais uma vez. Pega o telefone e ligoa para Marinis. O telefone toca até que a secretária eletrônica atende do outro lado. Marcelo pensa em deixar um recado e quando está quase terminando de ouvir a gravação, desliga o telefone e pensa: Deve tá longe do telefone! Coça a cabeça e fala consigo mesmo: Claro que não, né Marcelo! Ele é delegado de polícia, deve tá ocupado. E olha para a varanda. Volta e vê as imagens passarem mais uma vez na sua cabeça. O strip-tease. A dominação. Tudo aquilo lhe soava muito estranho. O assassino estava sendo dominado pela mulher. Não a mataria por levar uma tapa, mataria?, comenta Marcelo em voz alta. E emenda: Ele estava amarrado. Marcelo conseguia ver passar um filme na sua frente quando olhava pela varanda de seu apartamento, tantas haviam sido as vezes em que passara ali exercitando sua memória e lembrando o que ocorrera. O filme que ele via era na verdade pequenas micro histórias que ele construía e as inventava. Despejava um pouco de sua ficção no texto de Marinis sem nem mesmo perceber quando a campainha tocou. Levantou deixando o texto aberto e foi até a porta. Olhou pelo olho mágico e não viu ninguém. Abriu a porta e viu um envelope no chão. Abriu e dentro havia uma convocação do condomínio para uma reunião extraordinária onde decidiriam algumas reformas e reestruturações no edifício. Marcelo olhou no tapete do apartamento da frente e viu um envelope igual o seu. Fechou a porta antes mesmo de se fixar na data. Colocou o papel sobre a mesa e voltou-se para o computador. No texto que estava escrevendo para Marinis, mencionara que vira um homem grande e vestido de negro caminhar pela rua naquela noite e que não se lembrava muito bem da hora.
Mas esse mesmo homem também era o assassino da história que Marcelo escrevia, e disso Marinis já sabia, pois havia lido no texto de Marcelo. E foi justo sobre isso que anotava Marinis, após uma intensta manhã de reuniões. Marinis cruzava aquele homem e outras tantas coisas que encontrara coincidentes no caso, no texto que Marcelo lhe escrevera e na história policial que Marcelo escrevia. Mas também usava a história de Marcelo para filtrar os excessos do outro texto. Mas o homem de negro era algo que ele já buscava. Mas tinha algo que ainda não lhe caía bem. Pensa, Essa história do tapa e amarrado tá me tirando o sono. Nos dois texto do Marcelo tem um fato com uma pessoa amarrada e um tapa na cara. E esse Marcelo que há dias não dá notícias. O telefone do escritório toca e é Adriando chamando a Marinis para irem almoçar. Marinis recusa o convite alegando trabalho por fazer, e realmente necessitava de um tempo para pensar, para colocar algumas idéias no lugar e tirar outras de onde estavam. Não tinha nada para escrever, nem ninguém para conversar. Só queria silêncio e solidão. E foi ficando cada vez mais silencioso à medida que a delegacia se esvaziava em função da hora do almoço. E quando já estava quase toda vazia, Marinis pode ouvir seu celular vibrar no fundo da gaveta. Abre a gaveta e pega o celular debaixo de alguns papéis. Uma mensagem dizendo que havia uma chamda não atendida apitava em intervalos, mas como o telefone estava no modo silêncioso, só vibrava e Marinis não escutava. Viu que a chamada era de Marcelo e se entusiasmou. No mesmo instante ligou para ele.
Marcelo estava na cozinha da sua casa, preparando seu almoço quando o telefone celular tocou. Viu que tocava e estava com as mãos sujas de cebola . Até que secou as mãos depois de lavá-las o telefone já havia desistido de tocar. Pegou o telefone e viu que era o número de Marinis. Ligou de volta.
Marinis escutou o telefone tocar umas sete vezes. Enquanto ligava pensava que Marcelo deveria estar almoçando. Desligou e foi procurar na sua agenda o telefone da casa de Marcelo. Após localizar, hesitou em chamar. Deve tá almoçando perto do jornal dele, pensou Marinis. Mas antes mesmo de concluir esse raciocínio, o telefone começou a vibrar na sua mão escrito: Marcelo chamando. Marinis atendeu rapidamente. Marcelo explicou à Marinis que havia estado trabalhando muito nos últimos dias e por isso do sumiço dele. Marinis entendeu e se desculpou por estar ligando na hora do almoço. Marcelo disse que não importava, pois não estava almoçando e sim preparando o almoço ainda. Mas a que devo essa ligação na hora do seu almoço, então?, já rebate com o mesmo tema a Marinis, pensando que o delegado poderia querer que Marcelo se envolvesse mais no caso. Marinis comenta que não havia almoçado ainda. Marcelo percebendo a oportunidade convida Marinis a almoçar na sua casa com o pretexto de falarem mais a respeito do caso . Comenta ainda que tinha reescrito o texto que lhe enviara. Marinis, do outro lado do telefone abriu um sorriso. Exatamente o que queria era conversar algumas coisas com Marcelo pois alguns dos fatos similares nos dois textos de Marcelo ainda não estavam claros para ele. Sem fazer de difícil aceita o convite de Marcelo. Marcam para que Marinis chegue em 30 minutos. Com um pouco menos Marinis já está na porta do edifício de Marcelo. No interfone o porteiro anuncia a chegada do delegado. Marcelo deixa a porta semi aberta e volta para a cozinha onde está terminando de dar os últimos retoques no almoço. Marinis bate a campainha e empurra a porta. Marcelo grita da cozinha: Entra! E escuta a porta batendo se fechando. Volta até a sala e diz: Caramba, o vento bateu a port... e antes de terminar a frase tromba com Marinis que já estava quase na cozinha quando Marcelo saía dela. Marcelo tinha uma taça de vinho na mão derrama mais da metade em Marinis. Marinis olha para sua camisa e diz a Marcelo em tom irônico: Boa tarde! Almoço e vinho em plena terça-feira? Que beleza! Marcelo, sem graça pelo incidente se desculpa e oferece uma camisa ao delegado. Marinis aceita e vai até o banheiro se trocar. A camisa de Marcelo fica um pouco apertada em Marinis que é forçado a deixar alguns botões abertos. Volta até a sala e comida está servida. Marcelo serve uma nova taça de vinho para si e oferece a Marinis que recusa e se senta à mesa. Ao ver que Marcelo começara a comer muito calado, Marinis percebe o constrangimento em que ele estava. Para não retornar ao tema do vinho e da camisa, pergunta logo a respeito do texto que Marcelo reescrevera. Marcelo levanta a cabeça e os olhos de dentro do prato e olha para Marinis. Sorri e depois dá uma olhada na sua camisa apertada no delegado com metade do peito aberto. Gosta do que vê e diz: Primeiro comemos, senão a comida esfria. Depois, de barriga cheia, trabalhamos. Marinis olhou para comida, que cheirava muito bem e concordou. Enquanto Marinis se servia, Marcelo reparava no delegado, que pela primeira vez não usava terno. Marinis, ao perceber, interrompeu a Marcelo pedindo que lhe passasse a pimenta. Marcelo passou, percebeu que, ainda que estivesse achando Marinis sexy naquele momento, estava misturando relações que não poderia e se recompondo disse: Bom apetite, doutor!