Marcelo acordou pela primeira vez em muitos dias sem nenhuma matéria para entregar no jornal. Todo o trabalho havia sido entregue e um tanto ficou para ser distribuído entre as seções dos parados dias que viriam da ressaca da hi society belorizontina. Após um longo café da manhã entre música e computador, Marcelo entra no msn, já mais interessado em conversar com Marina. Lembra de como havia sido interessante sua conversa com ela. Falaram de temas dos mais diversos e mesmo concordando ou discordando de algum ponto, sempre se entediam no final. Marcelo ficou por mais ou menos meia hora conectado na internet e nem sinal de Marina. Impaciente, abriu o texto que reescrevera para Marinis e o leu mais uma vez. Pega o telefone e ligoa para Marinis. O telefone toca até que a secretária eletrônica atende do outro lado. Marcelo pensa em deixar um recado e quando está quase terminando de ouvir a gravação, desliga o telefone e pensa: Deve tá longe do telefone! Coça a cabeça e fala consigo mesmo: Claro que não, né Marcelo! Ele é delegado de polícia, deve tá ocupado. E olha para a varanda. Volta e vê as imagens passarem mais uma vez na sua cabeça. O strip-tease. A dominação. Tudo aquilo lhe soava muito estranho. O assassino estava sendo dominado pela mulher. Não a mataria por levar uma tapa, mataria?, comenta Marcelo em voz alta. E emenda: Ele estava amarrado. Marcelo conseguia ver passar um filme na sua frente quando olhava pela varanda de seu apartamento, tantas haviam sido as vezes em que passara ali exercitando sua memória e lembrando o que ocorrera. O filme que ele via era na verdade pequenas micro histórias que ele construía e as inventava. Despejava um pouco de sua ficção no texto de Marinis sem nem mesmo perceber quando a campainha tocou. Levantou deixando o texto aberto e foi até a porta. Olhou pelo olho mágico e não viu ninguém. Abriu a porta e viu um envelope no chão. Abriu e dentro havia uma convocação do condomínio para uma reunião extraordinária onde decidiriam algumas reformas e reestruturações no edifício. Marcelo olhou no tapete do apartamento da frente e viu um envelope igual o seu. Fechou a porta antes mesmo de se fixar na data. Colocou o papel sobre a mesa e voltou-se para o computador. No texto que estava escrevendo para Marinis, mencionara que vira um homem grande e vestido de negro caminhar pela rua naquela noite e que não se lembrava muito bem da hora.
Mas esse mesmo homem também era o assassino da história que Marcelo escrevia, e disso Marinis já sabia, pois havia lido no texto de Marcelo. E foi justo sobre isso que anotava Marinis, após uma intensta manhã de reuniões. Marinis cruzava aquele homem e outras tantas coisas que encontrara coincidentes no caso, no texto que Marcelo lhe escrevera e na história policial que Marcelo escrevia. Mas também usava a história de Marcelo para filtrar os excessos do outro texto. Mas o homem de negro era algo que ele já buscava. Mas tinha algo que ainda não lhe caía bem. Pensa, Essa história do tapa e amarrado tá me tirando o sono. Nos dois texto do Marcelo tem um fato com uma pessoa amarrada e um tapa na cara. E esse Marcelo que há dias não dá notícias. O telefone do escritório toca e é Adriando chamando a Marinis para irem almoçar. Marinis recusa o convite alegando trabalho por fazer, e realmente necessitava de um tempo para pensar, para colocar algumas idéias no lugar e tirar outras de onde estavam. Não tinha nada para escrever, nem ninguém para conversar. Só queria silêncio e solidão. E foi ficando cada vez mais silencioso à medida que a delegacia se esvaziava em função da hora do almoço. E quando já estava quase toda vazia, Marinis pode ouvir seu celular vibrar no fundo da gaveta. Abre a gaveta e pega o celular debaixo de alguns papéis. Uma mensagem dizendo que havia uma chamda não atendida apitava em intervalos, mas como o telefone estava no modo silêncioso, só vibrava e Marinis não escutava. Viu que a chamada era de Marcelo e se entusiasmou. No mesmo instante ligou para ele.
Marcelo estava na cozinha da sua casa, preparando seu almoço quando o telefone celular tocou. Viu que tocava e estava com as mãos sujas de cebola . Até que secou as mãos depois de lavá-las o telefone já havia desistido de tocar. Pegou o telefone e viu que era o número de Marinis. Ligou de volta.
Marinis escutou o telefone tocar umas sete vezes. Enquanto ligava pensava que Marcelo deveria estar almoçando. Desligou e foi procurar na sua agenda o telefone da casa de Marcelo. Após localizar, hesitou em chamar. Deve tá almoçando perto do jornal dele, pensou Marinis. Mas antes mesmo de concluir esse raciocínio, o telefone começou a vibrar na sua mão escrito: Marcelo chamando. Marinis atendeu rapidamente. Marcelo explicou à Marinis que havia estado trabalhando muito nos últimos dias e por isso do sumiço dele. Marinis entendeu e se desculpou por estar ligando na hora do almoço. Marcelo disse que não importava, pois não estava almoçando e sim preparando o almoço ainda. Mas a que devo essa ligação na hora do seu almoço, então?, já rebate com o mesmo tema a Marinis, pensando que o delegado poderia querer que Marcelo se envolvesse mais no caso. Marinis comenta que não havia almoçado ainda. Marcelo percebendo a oportunidade convida Marinis a almoçar na sua casa com o pretexto de falarem mais a respeito do caso . Comenta ainda que tinha reescrito o texto que lhe enviara. Marinis, do outro lado do telefone abriu um sorriso. Exatamente o que queria era conversar algumas coisas com Marcelo pois alguns dos fatos similares nos dois textos de Marcelo ainda não estavam claros para ele. Sem fazer de difícil aceita o convite de Marcelo. Marcam para que Marinis chegue em 30 minutos. Com um pouco menos Marinis já está na porta do edifício de Marcelo. No interfone o porteiro anuncia a chegada do delegado. Marcelo deixa a porta semi aberta e volta para a cozinha onde está terminando de dar os últimos retoques no almoço. Marinis bate a campainha e empurra a porta. Marcelo grita da cozinha: Entra! E escuta a porta batendo se fechando. Volta até a sala e diz: Caramba, o vento bateu a port... e antes de terminar a frase tromba com Marinis que já estava quase na cozinha quando Marcelo saía dela. Marcelo tinha uma taça de vinho na mão derrama mais da metade em Marinis. Marinis olha para sua camisa e diz a Marcelo em tom irônico: Boa tarde! Almoço e vinho em plena terça-feira? Que beleza! Marcelo, sem graça pelo incidente se desculpa e oferece uma camisa ao delegado. Marinis aceita e vai até o banheiro se trocar. A camisa de Marcelo fica um pouco apertada em Marinis que é forçado a deixar alguns botões abertos. Volta até a sala e comida está servida. Marcelo serve uma nova taça de vinho para si e oferece a Marinis que recusa e se senta à mesa. Ao ver que Marcelo começara a comer muito calado, Marinis percebe o constrangimento em que ele estava. Para não retornar ao tema do vinho e da camisa, pergunta logo a respeito do texto que Marcelo reescrevera. Marcelo levanta a cabeça e os olhos de dentro do prato e olha para Marinis. Sorri e depois dá uma olhada na sua camisa apertada no delegado com metade do peito aberto. Gosta do que vê e diz: Primeiro comemos, senão a comida esfria. Depois, de barriga cheia, trabalhamos. Marinis olhou para comida, que cheirava muito bem e concordou. Enquanto Marinis se servia, Marcelo reparava no delegado, que pela primeira vez não usava terno. Marinis, ao perceber, interrompeu a Marcelo pedindo que lhe passasse a pimenta. Marcelo passou, percebeu que, ainda que estivesse achando Marinis sexy naquele momento, estava misturando relações que não poderia e se recompondo disse: Bom apetite, doutor!
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