quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Capítulo XVII - Tecnologia

Fazia alguns dias que o celular de Marcelo estava tocando com um som meio estranho. Ele atendia sem conseguir ver quem era. A tela já não acendia mais nenhuma luz depois do banho que o celular tomou dentro do vaso sanitário da casa de Marcelo em uma de suas últimas bebedeiras. Alô, Marcelo? E ele respondeu que sim. E do outro lado Marinis disse: Quanto tempo! Como está? Nem me respondeu a última mensagem que te enviei. O que foi que houve? E Marcelo tratou de pegar uma mentira pra ele em que num dia de bebedeira, achava que tinha mesmo recebido uma mensagem importante, mas não se lembrava de quem pois tinha bebido muito. Tanto que no dia dessa bebedeira, o celular caiu no vaso sanitário e ficou com um som estranho, meio metalizado e sem nenhuma informação na tela. Pela meia verdade de Marcelo. Marinis entendeu que sim. Convidou Marcelo para tomar um café no final da tarde. Marcelo disse que teria muito prazer em tomar, e que inclusive tomaria um chá da tarde, mais apropriado. Marinis segurou o riso do outro lado. Mas hoje não posso!, disse Marcelo. E completou: Tenho uns dias de trabalho pela frente. Muita coisa por preparar, vários eventos e festas acontecendo em diversos segmentos. Tenho que concentrar um pouco no trabalho, doutor. Marinis entendeu que sim. Marcelo lhe pediu o número de seu telefone para que ligasse para ele tão logo tivesse terminado esses compromissos com o trabalho. Nisto ficaram.
Tenho que levar esse celular pra consertar logo. Pensa Marcelo enquanto reacende o cigarro. Como só trabalhava em um turno, Marcelo criava uma rotina de trabalhar sempre pelas manhãs. Dar-se a tarde livre para estar descansado para eventuais baladas na noite. E no começo da tarde não era hora de ninguém falar com Marcelo um assunto sério porque esse momento é só dele. Com as pernas esticadas pra cima, ele escuta o barulho que vem da rua sentado na varanda. A janela à frente de Marcelo o convidava a lembrar novamente da cena do strip tease que tanto o intreteve. Marcelo tem flashs de memória e algumas imagens vem e vão na sua cabeça. Acabado o cigarro, ele resolve colocar uma música. Em baixo volume, ele se estica no tapete da sala. Ali adormece por uma hora. Acorda, estica o braço e puxa o computador. Abre seu e-mail e realmente há muito trabalho por fazer nos próximos dias. 5 festas entre quinta-feira e sábado. Todas com seu merecido direito de serem comentadas na página de Marcelo. Muito trabalho! Pensa Marcelo. Abre o msn ainda off line vê que o e-mail que adicionara algunas dias atrás tinha agora sido substituído por um nome, e ali ele lia Marina. Uma mulher, claro. Comenta consigo mesmo Marcelo. Ri de si mesmo e diz: Isso tá virando um hábito. Muda seu status de off line para on line. Passam-se 10 minutos e o nome de Marina muda de disponível para ausente. Marcelo clica sobre o nome dela e imediatamente uma janela se abre. Começa a digitar, apaga e fecha a janela. Quem será essa mulher? Será aqui do prédio? Ah, mas nem. Que preguiça. Com tanto gato por aí vem justo uma gata. Sai do msn. Aumenta o som da música se levanta e vai arrumar um pouco seu apartamento. Dançando ele dá uma meia faxina na casa. Antes que a tarde termine, Marcelo leva seu telefone celular até uma loja de assistência técnica muito próximo na Afonso Pena. O rapaz diz a Marcelo que o problema não vai ser tão fácil assim de ser consertado e que por isso mesmo vai ficar caro. Mas ao mesmo tempo em que Marcelo pensava que o técnico queria ser oportunista, esse mesmo técnico lhe deu uma dica de ligar para a operadora e como falar com o antendente, ameaçando trocar de operadora, que na loja mesmo da assistência técnica, a atendente, do outro lado da linha estava prometendo uma máximo de 3 dias para que o novo e mais recente lançamento celular de Marcelo chegasse na sua residência. Marcelo saiu satisfeito da assistência técnica. Voltou pra casa, tomou um de seus banhos de banheira de horas. Se aprontou e foi para um coquetel de lançamento de um longa-metragem todo realizado na cidade.

Um microfone inalámbrico instalado no agente da corregedoria estava sentenciando dois policiais em um churrasco na cobertura de um deles. Ali estavam os companheiros da Narcóticos fortalecendo seu laço de irmandade entre eles, dando as boas vindas ao mais novo integrante. Um deles, mais bebado que todos os demais deu a ficha toda, confessando inclusive que tinha ido junto, dirigido, colocado as algemas nos pés e empurrado o Naldo ladeira abaixo. Faltava só o outro depoimento. Mas isso era relativamente fácil de conseguir.
No dia seguinte pela manhã, Marinis aguardava a chegada dos dois detetives. Os dois receberam a notícia do seu delegado que eles deveriam entregar as armas, os distintivos e que eles estavam temporariamente suspensos. Breno foi o que esteve mais fora de si. Mesmo contra sua própria vontade, cumpriram as ordens de seu superior. Ao sairem da sala, foram agarrados por um grupo de 8 policiais, que os algemaram e levaram para salas distintas. Em uma delas, Marinis tenta convencer Breno a assumir sua parcela de culpa, chegando a forçá-lo a falar mostrando o diálogo de seu companheiro, entregando ele. Na outra sala, não tiravam nenhuma informação do companheiro de Breno. Marinis usou a mesma gravação e mentiu dizendo que Breno já havia confessado. E nesse jogo de empurra dali e empurra daqui, os dois acabam que se entregam. Nesse momento, Marinis os coloca frente à frente um com o outro, e ambos escutam uma gravação do outro assumindo o crime e entregando o parceiro. Marinis sai da sala e deixa os dois aí. Eles brigam por uns 5 minutos. Alguns machucados a mais, uns dentes a menos e a camisa branca tinjida de vermelho. Marinis entra na sala, os algema junto com 3 agentes e ordena que sejam levados à penitenciaria. Marinis se dá por satisfeito. Volta a reler tudo o que escreveu a respeito do caso Marisa Prieta. Relê também o texto de Marcelo e começa a fazer suposições fora da sua lógica. Há algumas coisas que não se encaixam no texto de Marcelo. E isso era algo que tinha que resolver diretamente com ele. Olha para o relógio e vê que o tempo está perdido até às 19 horas, quando termina seu expediente. Abre o arquivo do livro que Marcelo está escrevendo e vai ler. Em vinte minutos já está envolvido na história. Tem mais de cem páginas naquele arquivo. Marinis lê tudo por mais de uma vez. É impressionate como é estranha a cabeça de um artista. E esse Marcelo escreve bem. Pensa Marinis. Depois de terminado, cansado e com uma dor de cabeça progredindo, toma um remédio e vai para casa. Encarar, se muito, umas duas cervejas e um amendoim para beliscar enquanto se estirava no sofá. Ali, Marinis dormia mais que na sua cama.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Capítulo XVI - Le Jour

Era pouco mais de 9 da noite quando Marcelo chegou em casa. Ao abrir a porta empurrou um papel dobrado. Pisou nele amassando um pedaço que o prendia debaixo da porta. Pegou o papel no chão e fechou a porta. Acendeu a luz e abriu o papel. Duas linhas: Oi! e um e-mail: ei_mari@hotmail.com. Marcelo lê aquilo e se espanta. Vai até a cozinha com o bilhete na mão lendo e relendo. Pensa: Um 'Oi' e um eMe eSse eNe. Cheirou o papel e tinha cheiro de colônia de flores. Marcelo sentiu-se vigiado, observado. Sendo alvo de alguma paixão platônica, pensa Marcelo. Prepara uma boa macarronada e deixa o bilhete na bancada que separa a cozinha da sala. Abre uma garrafa de vinho e liga o som. Coloca um velho jazz que ainda tocava no vinil. Entre indas e vindas na cozinha. Entre taças de vinho e copos de água, Marcelo leva o computador da sala para a bancada da cozinha. Abre o msn e procura pelo e-mail no papel. Encontra e está on-line. Marcelo hesita, fecha o computador e se volta ao macarrão. Em pouco tempo sai um macarrão com tomate, azeitona, allho e vinho a la Marcelo. Ele contente, come sozinho e se diverte ao tentar dar um nome ao prato. Antes mesmo de poder pensar o primeiro nome a agulha agarrou em um arrando do velho disco, importunando a Marcelo que desliga o vinil e coloca uma música eletrônica lenta diretamente do computador. Senta de volta na mesa e termina de comer o macarrão. Vê o celular em cima da mesa com o sinal de uma nova mensagem. Pega o celular e lê a mensagem. Oi Marcelo, tudo bem? Obrigado pelo café da manhã. Gostei muito do seu texto. Quando puder, gostaria de conversar com você. Marinis. Marcelo se assusta e para de comer. Vai até a varanda e olha a janela mais uma vez. Relembra o quanto pode do que havia visto dali. Na sua cabeça imagens se formam em fragmentos da história. Lembra da mulher tirando a roupa enquanto ele estava sentado. Para Marcelo parecia um caso típico de puta que atendia em casa e o cliente a matou. Tirava conclusões Marcelo porque assim o achava. E seu romance ganhava mais trama. Com as histórias que Marinis lhe contara colocou um pouco mais de violência e suspense na sua história. Duas garrafas mais de vinho, Marcelo já tinha ido 40 páginas mais pra frente, e as quase 3 da manhã se dá por satisfeito e fecha o texto. Vê o texto que escrevera para Marinis, o fecha e lembra de como Marinis havia copiado rápido o texto. Na tela do computador resta a última pesquisa que ele havia feito no msn e aquele e-mail do bilhete que havia sido depositado em baixo da porta estava lá, mas não estava mais on line. Marcelo adiciona e entra no msn. Depois de 5 minutos, desliga o computador e vai dormir.

Na delegacia o trabalho de Marinis não para depois que o corpo de Naldo foi encontrado a pouco mais de 20 km da saída da cidade. Agora sim o caso tinha chegado a ele. E Marinis já tinha seus primeiros suspeitos. Mas antes tinha que recuperar o tempo perdido com o tão prolongado café da manhã. Na delegacia tinha relatórios por preencher sobre as novas informações do caso de Marisa Prieta. Após algumas horas no computador, um almoço frio e atrasado. Marinis pode finalmente concentra-se no caso de Naldo. Seus suspeitos eram fortíssimos candidatos a serem os responsáveis por esse homicídio. Mas que essa abordagem não seria fácil de ser feita, pois os policiais envolvidos não se entregariam facilmente se fossem eles mesmos quem tivessem matado a Naldo. No fim do dia Marinis se reúne com o outro dois delegados, um da corregedoria e outro da narcóticos, a de Gustavo e ainda um agente da corregedoria que irá trabalhar infiltrado na seção de narcóticos para tentar conseguir o depoimento de algum deles. O plano parecia bem e dependia de tempo. Para ajudar ele a ser querido pelos seus colegas, Marinis pediu ao delagado da narcóticos para ele ser duro e repreender ao novato. Todos riram e acharam boa a idéia de Marinis. Após a reunião, Marinis vai até a sua sala. Na tela do computador está o relatório que havia escrito pela manhã. Abre a gaveta e pega o pen drive. Coloca no computador e abre o texto de Marcelo lê as primeiras 20 páginas e gosta do jeito que Marcelo caminha entre o ficcional e o real, o romântico e o concreto. É um texto de linha tênues, pensa Marinis. Abre o texto que Marcelo escrevera para ele e o lê. Com mais atenção em cada detalhe, algumas coisas começam a incomodar a Marinis. Algumas peças começaram a se encaixar aqui e acolá, mas ainda não todas e em nenhum dos dois lugares. Adriano bate na porta entre aberta e ao escutar a voz de Marinis a empurra. Escuta a Marinis terminar uma frase falando sozinho olhando pela janela. Marinis se assusta com a presença de Adriano e um silêncio toma conta da sala do delegado. Adriando irrompe o silêncio depois de algum tempo dizendo: Ô doutor, o senhor tava falando sozinho? Marinis se tranquiliza ao ver que pela pergunta de Adriano ele acabara de chegar e não havia se dado conta do conteúdo que Marinis estava falando. Marinis suspira e atende a demanda de assinaturas em relatórios de Adriano. O coloca a par do caso de Naldo e pede para que ele observe de longe se encontra algo. Já pensando que sua presença pudesse desviar a atenção ainda mais em relação à chegada do novato. Adriando saiu da sala e Marinis pegou o celular. Escreveu uma mensagem para Marcelo. Enviou e ficou ali, parado, esperando por mais de 20 minutos. Colocou o celular no bolso e desceu para falar com o médico legista que estava de plantão. Com a confirmação da causa da morte e do possível horário que Naldo havia morrido, Marinis tinha algo mais concreto para levar esses assassinos para a cadeia e não apenas perderem o distintivo. Sufocado com um saco plástico na cabeça, uma fita crepe e os pés e mão algemados. Cruel, pensou Marinis. Olhou mais uma vez o celular e nenhuma mensagem de Marcelo. Subiu até a sua sala, preencheu mais um pouco de informação, agora no caso Naldo, no computador. E quando se deu conta que já era noite, entendeu o porque de tamanha fome. Desligou o computador e antes mesmo de sair da delegacia, do celular, já ligou para a pizzaria do seu bairro, de um amigo de trilhas de bicicleta e encomendou sua tradicional pizza. Ele sempre a entregava com meia hora. Marinis demorava, sem trânsito, 20 minuto até sua casa, e aquela hora o que ele tinha a seu favor era justamente o trânsito. E Marinis se foi a casa comer pizza e ver filme na televisão.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Capítulo XV - Café de manhã

O ruído do interfone começa a misturar com o do celular de Marcelo, quando ele, meio ressaqueado do domingo e do pós-cinema acorda e olha para o relógio. São quase 9 e meia. No celular o nome de Marinis pisca junto com a melodia. Marcelo atende e pede a ele que suba. Desliga o telefone e se vê com uma preguiça enorme e um cansaço em todo o corpo. Se levanta, coloca um roupão e abre a porta. Vai até a cozinha, abre a geladeira e vê o que tem de opção. Liga o fogão e coloca uma água para esquentar para o café. Marinis toca a campainha na sequência. Marcelo grita que a porta está aberta e abre o armário para ver o que tem de opção pro café da manhã. Se dá conta que Marinis não entrou em sua casa. Vai até a entrada e abre a porta para Marinis. Ele pede licença e entra. Marcelo tem uma cara de quem está com muita ressaca, cabelo meio em pé, olho meio aberto, e cheirava álcool, cigarro e perfume. Marinis logo identificou que a noite anterior havia sido da pesada para Marcelo. Marcelo o convidou para sentar na cozinha. Perguntou o que ele queria comer. Marinis se espantou com a possibilidade de poder escolher e disse: Café, só! Tá ótimo. Marcelo disse: Ai, nem! Que falta de graça. Vou te preparar uns ovos com bacon igual café da manhã de filme americano. Brincadeira, vou fazer uma surpresa. Coisa rápida. Marinis, disse: Claro. Como quiser. E Marcelo saiu da cozinha e disse para Marinis esperar que já voltava. Foi até o banheiro do seu quarto e colocou a banheira para encher. Marinis saiu da cozinha e foi até a varanda. A vista de Marcelo era realmente muito privilegiada em relação ao quarto da vítima. Marcelo voltou e viu Marinis na varanda olhando para a janela. Me desculpa, Marinis, disse Marcelo ao passar pela sala indo em direção a cozinha. E Marinis pergunta porque indo atrás de Marcelo na cozinha. Marcelo está passando o café no coador quando Marinis entra e volta a perguntar o porque do pedido de desculpas de Marcelo. Ele diz: Por ter perdido a hora. Ontem o encontro foi divino. Ah! E Marinis diz: Claro! Não se preocupe com isso. Aliás esse café tá com um cheiro ótimo, hein? Marcelo sorri e diz: Espero que melhor o gosto que o cheiro. E pergunta a Marinis. Marinis, o que mais que o senhor descobriu do caso? Marinis se assusta pela pergunta de Marcelo e lhe responde com outra pergunta: Eu vim aqui para eu ou para você colher mais informações? Marcelo assustado com o tom rispido com o que soaram as palavras de Marinis, disse: Tudo bem, doutor! Marinis percebendo que havia sido indelicado com Marcelo sentou-se em um banco e se calou. Marcelo pergunta descontraindo: Mas queijo você come, né? Marinis sorri e responde que sim. Marcelo serve uma xícara de café a Marinis e outra para ele. Conduz Marinis até a varanda e diz a ele: Vamos às vias de fato. Você veio aqui para saber a respeito do meu texto, não foi? Marinis assente com a cabeça enquanto Marcelo segue falando: Pois eu escrevi ele sim. Tá ali prontinho pra você ler. Mas quero me envolver mais nessa história. Me conta alguma novidade aí, vai? E Marinis lhe diz: Marisa Prieta. Marcelo se empolga: O nome da vítima?! Marinis assente novamente com a cabeça e completa e a briga no bar daquele dia rendeu muita história. Marcelo pediu a Marinis que lhe contasse a história. Marinis reprimiu a Marcelo dizendo que ele quem estava ali para recolher mais informações e onde estava o texto. Marcelo pediu a Marinis para esperar para ler o texto dele enquanto estivesse no banho, pois estava preparando o ovo com bacons a la Marcelo do dia. Marinis achou graça e disse: Como assim, se saímos juntos da cozinha? E Marcelo brincando: Eu tenho meus truques. Os dois se colocam a rir da situação. Marinis resolve atender ao pedido de Marcelo e lhe conta um pouco sobre a história do bar e acaba deixando espacapar algumas informações sobre o porteiro contadas por Giuliani que Marcelo logo confirmou ao lembrar-se do porteiro daquela noite vir do ButeKim de onde tomava uma café. Lembrava porque foi ele quem tinha lembrado a Marcelo do troco que havia esquecido e voltara para pegá-lo. Mas não contou isso a Marinis e interrompeu a conversa quando sentiu o cheiro de queijo tostando. Correu até a cozinha e deixou Marinis na varanda. No balcão que divide a cozinha e a sala, Marcelo coloca dois jogos americanos, uma cesta com umas torradas, geléia de morando, a garrafa de café, uma caixa de leite e um pão de forma integral com queijo, tomate e óregano grelhado tipo misto-quente. Marinis se assutou com o café da manhã de Marcelo. Sentaram e comeram. Marinis ficou ainda mais espantando com a combinação do que ele achou a primeira vista ser um misto-quente, o surpreender com um gosto de pizza marguerita logo no café da manhã, mas que era muito gostoso. Assim como a geléia de morango. Entre mais cafés, Marinis deixou escapar um pouco mais da história de Naldo a Marcelo que as ouviu como fonte de inspiração para seu livro. Terminado de comer o café, Marcelo trouxe o notebook até a sala e o deixou ali aberto para que Marinis pudesse ler o seu texto sobre a noite do assassinato de Marisa Prieta. Pediu licença e entrou para o banho. Mal sabia Marinis que era uma banho de banheira pois não tinha hora certa e menos ainda cedo para chegar ao trabalho, já que já havia feito o trabalho na noite anterior. Marinis foi limpando um resto de café no canto da boca e foi correndo ler o que Marcelo tinha escrito. Pegou o laptop e leu uma vez. Rápido. Com algumas paradas que não chegavam a lugar algum. Levou o computador até a varanda. Sentou-se ali e se fixou nas situações mais concretas do texto. Ela estava sentada sobre ele. Ele provavelmente estava amarrado na cadeira, porque não reagia ao jogo de sedução e provocação que ela aplicava. Nem mesmo a um forte tapa ele reagiu. Talvez por isso ele a tenha matado. E quando Marcelo começava a supor no seu texto, Marinis lia um pouco mais adiante para tentar peneirar a informação no texto. Logo se dava conta: A luz daquele apartamento que propiciara uma noite tão sado erótica permanecia havia permanecido acessa no dia seguinte. E entre histórias pessoais, Marcelo contava o número de vezes que havia visto a luz acesa. O relógio já ia batendo em 10:40 e Marcelo ainda não saia do banheiro. Marinis copia o arquivo em um pen drive. Ao fazer a cópia vê o texto do livro que Marcelo está escrevendo. Copia também. Quem sabe não é legal o que ele escreve. Vamos ver! Pensa Marinis. Chega até a porta do banheiro e não escuta barulho de chuveiro. Vai até a sala, come mais uma torrada com geléia. Volta até a porta do banheiro e diz: Marcelo? Tô precisando ir pra delegacia. Você vai demorar? Marcelo hesita em levantar para passar o arquivo a Marinis quando ele comenta. Posso copiar o teu texto num pen drive? Marcelo aliviado, pensa no seu banho relaxante e responde que sim. Que basta ele puxar porta quando sair que ela tranca sozinha. Marinis sai empolgado e rápido. Marcelo se assusta com a velocidade que supostamente Marinis tinha copiado o arquivo. Em poucos segundo Marcelo escuta o elevedor chegar no seu andar e descer até o térreo. Tranquilo, acende o cigarro ainda na banheira

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Capítulo XIV - La Policía

Marinis está na entrada de um clube de campo, onde o espera Gustavo. Era um clube de tiro, e era o ponto de encontro onde utilizavam para descarregar em alvos de madeira. Marinis estava de plantão. Pois o desaparecimento de Naldo lhe cheirava assassinato. Tudo bem que esse era o papel da corregedoria, mas ainda tinha mais que lhe interessava particularmente para o caso de Marisa Prieta. Em pouco tempo já estavam falando de trabalho. Gustavo preocupado pelas perguntas de Marinis o envolverem no que ele tinha participado mas não tinha concluído, resolve chamá-lo para darem uma volta no campo. Marinis, que adora caminhadas, se apresenta. Saem para uma caminhada de 3 horas entre mata, serras, cachoeiras e montanhas. Na caminhada, Gustavo tenta relaxar e pergunta coisas mais pessoais da vida, do tempo que passou, e Marinis entra no jogo e gosta, responde e também pergunta. Em pouco tempo já estão mais próximos, mais intímos. Gustavo se dá conta que todas as vezes que Marinis voltava ao assunto do trabalho, perguntava coisas que não estavam relacionadas ao Naldo, mas sim ao bar, à rua, aos edifícios. Gustavo pensa entre mergulhos de cachoeira e escaladas e resolve comentar com Marcelo um fato curioso que lhe chamou a atenção. Marinis se espanta e põe-se a ouvir. Olha só, naquela noite, a gente teve lá mesmo, pois quem tava envolvido com a puta era o irmão do Renato, o Breno, meu colega. Nos fomos lá porque o muleque tava arrumando briga doidão com a nata da malandragem. Mas aí no final, quem conduzia a equipe era o Morais e ele mandou a gente levar o Renato pra dar uma volta e depois soltar ele bem longe. E o Naldo?, perguntou Marinis. O Naldo, ele levaram na viatura deles. Mas o que eu quero mesmo te contar, é que lembro de ter visto uma coisa estranha quando colocava o doidão do Renato na viatura. Ele já tava algemado e tentou fugir, nós o pegamos uns metros mais pra frente. Ele caiu, a gente tropeçou nele e o trouxemos carregado de volta. Antes de levantá-lo. Esperamos um pouco e vimos que a puta tinha saído correndo, mas que ela não nos interessava. Eu olhei para o outro lado e vi um pessoa bem alta e forte, dentro de um jaqueta preta de capuz caminhando rapidamente pela rua, me distraí quando meu parceiro deu um chute no estômago de Renato, mas ele bem que merecia, porque tava muido doidão. Quando olhei de novo para aquela grande figura negra que andava rapidamente pelas sombras, não estava mais lá. Na hora achei até que tinha visto coisa que não existia, mas você me perguntando se eu tinha visto alguma coisa estranha nesse dia, te digo que isso foi bem estranho. Marinis gostou da história de Gustavo. Resolveu não mais lhe perguntar a respeito de Naldo, percebeu que dali não poderia contar com Gustavo, e deixou isso claro para ele, tentaria não envolvê-lo mais do que ele mesmo já havia se envolvido. Gustavo assentiu positivamente, quando o telefone de Marinis tocou. Marinis assutado atende o telefone: Alô?! Do outro lado um voz de homem afeminada responde: Marinis, como vai tudo bem? Marinis pede licença a Gustavo, caminha em direção a um lugar mais distante o interrompe e pergunta: Quem é?! Marcelo responde que é ele. A voz de Marinis perde uma tensão incial e com tranquilidade ele comenta a Marcelo que iria anotar o telefone de Marcelo, que já aproveita e fala para ele anotar o celular também. Gustavo relaxa e se sente mais aliviado. Após pouco tempo Marinis está caminhando de volta falando ao celular: As 9 tá ótimo. Tchau! desliga o celular e comenta: Plantão não é moleza. Inclusive, tenho que ir, marquei um encontro hoje as 9, aproveita o gancho para ir resolver outras questões. Se despedem e Gustavo também vai para casa. Marinis, no caminho de casa, passa antes pela Rua Goiás, passou devagar, olhou pra cima e viu as luzes de alguns aprtamentos acesa. Mediu a distância que o Renato poderia ter corrido do Butekim, e reparou em algo. A distância que ele poderia ter corrido dava uma vista ótima da entrada do prédio da vítima. Então aquele ser de negro e truculento poderia ser o assassino. Será? Pensou Marinis. E se ele saltou a grade, porque ela é bem baixinha. Mas o prédio tem porteiro 24 horas. Foi até o prédio e tocou a campainha. Ninguém respondeu. Olhou para guarita, um pouco mais alta e com vidros escuros e não tinha ninguém lá. Um senhor chegou por trás dele, com um pacote de cigarros na mão perguntando: Pois não? O senhor tá procurando alguém? Marinis o identificou pela roupa e se apresentou como delegado de polícia. O porteiro já sabendo do caso do assassinato, abriu o portão e o convidou a entrar, Marinis aceitou e disse que só necessitava entrar na guarita dele e ver o campo de visão que ele tinha. E era realmente um excelente campo de visão, com a ajuda de espelhos tinha uma boa visão da rua. Dava pra ver qualquer um indo e vindo à distância. Marinis agradeceu e saiu do prédio. Caminhou um pouco até o ButeKim e quem estava de plantão não era ninguém menos que Giuliani. Marinis sentou, pediu uma água e um tradicional frango à passarinho. Entre indas e vindas de Giuliani no balcão, Marinis o prende para um conversa. Pergunta se ele conhece um porteiro e foi dizer a palavra porteiro, que Giuliani lhe interrompeu. O seu Tito? Esse é um porteiro que vem muito aqui. Trabalha madrugada e domingo. Vem sempre aqui comprar cigarro e pinga com café. Marinis começa a gostar da forma como as peças do quebra-çabeça começam a se encaixar. O ocorrido daquela tarde de quando ele chegou a entrada do edifício era recorrente com esse tal de seu Tito, porteiro das madrugadas e do domingo. Uma pessoa alta que pularia com facilidade a grade do edifício some às vistas de um policial que tinha visto ele passar correndo. Certamente, esse cara é o assassino. Na mesma noite, um pouco mais cedo. Quando chegar na delegacia amanhã, perguntarei ao Gustavo mais a respeito desse cara. Mas agora tenho mais o que saber. E consegue extrair de Giuliani que corria na boca miúda que o Naldo da briga com o Renato tinha desparecido não, tinha mesmo era sumido do mapa. Marinis disse para que ele se tranquilizasse que tão logo os culpados pagarão pelos seus atos. Pede a conta, agradece paga e vai embora. Tão de repente como entrou. Ao entrar no carro vê Marcelo sai e entrar em um taxi. Entra no carro e o segue. O trajeto de Marcelo é curto, pelos cincos quarteirões da Avenida João Pinheiro. Desce na porta do Belas Artes e encontra um rapazinho de vinte e poucos anos na fila do cinema. Se cumprimentam com abraços e um beijinho. Marinis avança o carro e não o vê mais. Dirige até sua casa juntando todas as informações que tinha coletado naquele dia. Vai começando a se formar o perfil do assassino, um homem alto, forte, que usava um moleton negro com capuz era o único suspeito até então, já que não havia nem mesmo digitais. A forma como ele entraria e sairia do edifício parece ser tranquila tamanha a displicência com que trabalha o tal de seu Tito. Mas o que será que Marcelo tem pra me contar? A janela dele tem uma vista bem privilegiada do apartamento da vítima. Hmm! Amanhã tenho um prato cheio pra corregedoria, só preciso que eles achem o corpo para que constatemos uma assassinato. O tal do Marcelo precisa escrever pra me contar? Bem que o Adriano me advertiu dessa empolgação de jornalista policial do Marcelo. Vou dar corda pra ele, quem sabe ele me surpreende. E nos devaneios de seus pensamentos, lembra da cena de Marcelo beijando um jovem na porta do cinema e responde a si mesmo em voz alta: Ou não, né?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Capítulo XIII - Domingo

Uva, álcool, fumo, assassinos e assassinatos faziam parte da história que Marcelo escrevia e das madrugadas que vivia. Enquanto redigia o texto em que tentaria descrever para Marinis o que tinha visto, se deixa contaminar desse assassinato em sua história, e sua história se mistura no caso. Marcelo, mais criativo que descritivo, termina por florear seu texto à Marinis, enquanto sonhava em serem parceiros de uma história de polícia e repórter possível só no cinema. Em uma semana, o livro de Marcelo ganhara 74 páginas e o texto para Marinis se adequava em layouts e laudas. 2 e meia, para ser mais preciso. O título não estava lá, mas o espaço para ele sim.
Ding! Dong! Traz Marcelo para a realidade às 2:20 da manhã de uma madrugada de sábado para domingo. Ele fecha o laptop, e à meia luz, taciturno, aproxima-se da porta e cola o olho no buraco. Do outro lado, tudo escuro. Ele destranca a porta sem fazer ruídos. Acende a luz e abre a porta de um só golpe. Do outro lado, ninguém. Ele avança pelo corredor, acende a luz e não encontra ninguém. O elevador está parado no térreo. Ele sobe e desce correndo alguns andares e não encontra ninguém. Volta a casa e pega sua agenda, abre na página com um clip e pega o bilhete, lê e relê, como se você encontrar uma pista naquela caligrafia. Pensa que talvez seja alguém do prédio e já associando o evento do bilhete, em que também não encontrara ninguém ao convite do encontro em ser no terraço do próprio prédio. Como no caso de hoje, alguém veio do jeito que foi, sem que eu nem mesmo me desse conta! Comenta Marcelo sozinho. Ri de si mesmo, ao ver que estava falando sozinho. Passa pela cozinha, belisca uns amendoins, serve mais um pouco de vinho em uma taça limpa e volta ao seu quarto. Deitado na cama, abre o laptop e não consegue escrever nenhuma letra. As palavras mais se apagam que se completam. Marcelo coloca uma música e desiste do computador. Uma vizinha, pensa. Um vizinho, hum, que tudo! Mas com aquela letra, ai, certeza que é uma mona. Que coisa estranha! Bater na minha casa às 2 da manhã. Deixar um bilhete e sair correndo. Eu, hein?! Quanta loucura. Vou pensar um jeito de pegar quem quer que seja. Ao concluir esse pensamento, Marcelo se dá conta que enquanto pensava, seu olhar havia sido desviado para a luz do computador. Na tela está o texto que estava escrevendo para Marinis. Toma um gole de vinho, se concentra e relê o texto mais uma vez. Acredita que está muito bom. Corre e pega o cartão de Marinis. Senta na cama, abre o e-mail e quando está anexando o arquivo, pensa que melhor se encontrar com o Marinis, assim pode ter mais informação dele também, inclusive, material para seu livro. Cancela o envio do arquivo por e-mail no momento final. Olha no relógio e já é tarde. Desliga o computador. Toma mais um gole de vinho, vira pro lado e fica sonhando com a dupla de cinema de repórter e xerife. Adormece rapidamente.
O sol não fazia muito que havia nascido e Marcelo já se levantava, as cortinas do quarto que dormiam abertas para facilitar a circulação de ar, favoreciam a entrada dos raios de sol matutinos justo no quarto e na sala do apartamento de Marcelo. Ele nem se incomodava, levantava, fazia uma café e ia aproveitar o dia. E quando já era final da tarde desse dia que Marcelo estava curtindo, entre muita e alta música à experiências culinárias regadas a mais vinho, ele volta a se inspirar ao lembrar da inusitada campainha da madrugada. Leva a garrafa de vinho para a varanda, volta até o quarto para pegar o computador e vê o cartão de Marinis junto dele. Pega o telefone e disca para ele. Antes mesmo do último número bater, desliga. Pensa se seria imprudente ligar no domingo. Pensa melhor e diz: Porque não? Sorri ao falar consigo mesmo, disca novamente e escuta o sinal de chamar. Após alguns toques Marinis atende do outro lado da linha: Alô?! E Marcelo com empolgação pela tarde etílica: Marinis, como vai tudo bem? Marinis o interrompe e pergunta: Quem é?! Marcelo responde que é ele. A voz de Marinis perde uma tensão incial e com tranquilidade ele comenta a Marcelo que iria anotar o telefone de Marcelo, que já aproveita e fala para ele anotar o celular também. Marinis se espanta com tanta presteza de Marcelo em querer se envolver e vai logo as vias de fato, pergunta a Marcelo se ele tem novidades a respeito do texto. Marcelo que já ia se desculpando por ligar no domingo, vê a oportunidade de se envolver cada vez mais, dado o interesse de Marinis ser tão rápido. Ele conta que havia acabado o texto sim, mas que sua internet não estava funcionando. Falava cruzando os dedos, para que ele mesmo se perdoasse da mentira. Marinis se oferece de passar lá depois das 8 da noite para pegar e dar mais uma olhada da janela. Marcelo volta ao tema, e pede desculpas por ligar no domingo, que voltaria a ligar na segunda-feira. Marinis o interrompe e diz que não tem problema e que ele está de plantão. Marcelo engasga, e diz que não pode encontrar com Marinis hoje, porque tem um encontro. Marinis se desculpa e diz para que eles se encontrem na segunda-feira então. Marcelo, suspira com um certo alívio, e diz: Claro, por que não tomamos um café aqui em casa amanhã? Eu posso até chegar um pouco mais tarde no jornal. Marinis concorda, e marcam às 9 horas. Marcelo desliga o telefone empolgado, olha para o lado e vê que aquele realmente não era um dia para um delegado visitar sua casa. No computador, na varanda, vinho, livro com pitadas de romance platônico e secreto, misturando ainda mais a trama da história e ainda os artigos que tinha para entregar na segunda-feira, assim ganhava tempo para poder chegar mais tarde no jornal. O fim de semana tinha sido tranquilo, talvez por ser fim de mês, e a grana andar curta pra muitos. Era hora de inventar umas fofocas, cutucar a vida alheia e ser uma boa dona Fifi da hi society belorizontina. Algumas fotos de belas jovens enchem bem o espaço e são ótimas saídas para esses dias sem assunto. E o fácil era que Marcelo recebia as fotos e o release por e-mail, sem nenhum esforço. A noite caía e Marcelo assistia da sua varanda o claro ficar escuro da cidade. As luzes que se acendiam e se apagavam. No celular uma mensagem de um rolo. Marcelo lê, faz uma cara de preguiça ao olhar a bagunça que está sua casa. É um convite para ir ao Belas ver um filme e comer algumas coisa. Ele responde perguntando a que horas. Em pouco tempo chega uma mensagem dizendo que às 21:30. Marcelo olha o relógio e são quase 8. Escreve uma mensagem pedindo quarenta minutos para resolver umas coisas e dar a resposta. E depois disso, nenhuma mensagem mais. Marcelo se levanta e na metade do tempo já arrumou tudo o que era mais importante para deixar sua casa aprensentável ao delegado de polícia. Na outra metade do tempo toma um banho e enquanto coloca a roupa envia uma mensagem: E o convite, ainda tá de pé? Após longos 4 minutos, o celular de Marcelo apita com a seguinte mensagem: 21:30, no Belas. Beijo.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Capítulo XII - Informações

Alguns dias e uns desencontros depois, Marcelo, ao final de um dia de trabalho terminado mais cedo, consegue organizar-se para falar com Marinis. Pega sua agenda e busca pelo telefone do delegado. Ao abrir a agenda cai o bilhete anônimo que recebera alguns dias antes da morte de seu pai. Como passara uns dias totalmente envolvido com o trabalho na tentativa de não ser nostálgico em relação ao pai, Marcelo havia ocupado seu tempo, sua cabeça e sua rotina com tudo que se podia inventar. Cinema, corridas, notas sociais de gaveta, um pouco mais de conteúdo em seu romance. Vinho. E quando bebia, se permitia eventualmente fumar. Às vezes era o fumo que convidada à beber. Se fechou em si por alguns dias o jornalista recém meio órfão. Revendo conceitos, valores e repassando a vida enchendo-se de atividade, faltou tempo a Marcelo para retornar o tão breve contato que tinha tido com Marinis no dia que soube da morte de seu pai. Voltando aos poucos a vida no seu relativo equilíbrio que levava, seu sangue voltava a fervilhar de vontade de participar mais ativamente no caso do assassinato que havia despertado o interesse do delegado. Marinis já havia tentado encontrar com Marcelo quatro vezes em 20 dias e o encontro não acontecera por parte de Marcelo. Ao pegar o bilhete no chão, Marcelo voltou a se lembrar do mistério que envolvia a pessoa que havia tocado campainha à sua porta e deixado aquele bilhete. O lançou a mesa e já com telefone entre o ombro e a orelha discou os números do telefone de Marinis. Não demorou muito para atender do outro lado, mas mesmo o pouco tempo que demorou foi suficiente para que Marcelo acendera um cigarro. Marinis disse que estava esperando para encontrá-lo sim. E que na verdade adoraria ver a vista que Marcelo tinha do edifício de frente do apartamento de Marcelo. Marcelo já estava de saída do jornal e não demorou em responder que poderiam se encontrar lá dentro de uma hora. E quando já estavam por se despedir, Marcelo grita em um tom de quem acabara de descobrir algo: É mulher! Marinis assustado ao outro lado da linha questiona a frase tão inusitada de Marcelo, que reduz a história dizendo que não era nada, um bilhete romântico que tinha recebido há alguns dias. Marinis riu um pouco desconcertado e foi seguido de uma risada despretensiosa de Marcelo. Se despediram e Marcelo ainda repetiu: Em uma hora.
Com o bilhete nas mãos, Marcelo havia se dado conta que a caligrafia era muito feminina e que só poderia ser de uma mulher. Mas quem? Tocara à campainha sem passar pelo porteiro. Mas também esses porteiros do centro para tudo tem um motivo para dar um pulinho na rua. Inquieto por aquele modesto mistério que envolvia um tom romântico, voltou a guardar o bilhete em sua agenda e agora o prendera com um clip. Foi do jornal até sua casa dividido em pensamentos a respeito do assassinato que voltara a ser assunto dentro da sua cabeça e também do bilhete que tinha um ar que lhe instigava a investigar quem seria aquela indefinida figura que se manifestara tão carinhosamente em relação a ele. Mas quando chegou a sua casa, já estava totalmente envolvido novamente em a janela de luz acesa, do strip tease. Finalmente se envolveria em um caso policial e poderia utilizar seu verdadeiro prazer enquanto jornalista, a investigação atrás da informação, e nesse caso, de um homicídio que o destino havia lançado em seu caminho.
Não tardou para que Marinis chegara depois da hora marcada. Não era britânico no horário por pura educação. Chegou uns 8 minutos depois da hora que tinha marcado com Marcelo. Quando chega cumprimenta a Marcelo e pergunta sobre o pai de Marcelo. Ele responde que foi um susto. Mas que também foi o rito que é a passagem de alguém tão próximo. Que já não tinha mais vontade de falar daquilo, se o delegado não se importasse. Ao ser chamado de delegado, Marinis interrompe a Marcelo e diz: Claro, desculpa por ter perguntado. Mas com uma condição, delegado não é preciso, pode me chamar de Marinis. Marcelo sorriu concordando. Marinis decidiu respeitar o pedido de Marcelo, ainda que uma pulga havia se instalado em sua orelha. Marcelo havia dito que foi um susto, o que não correspondia com seu estado ansioso no café algumas semanas atrás. Mas Marinis não tinha opção de movidas em seu tabuleiro naquele momento e sem muita cerimônia pediu a Marcelo que lhe mostrasse a janela que já haviam falado sobre ela. Marcelo levou Marinis até sua varanda e apontou para a janela. Marinis ficou alguns minutos olhando sem dizer uma única palavra. Marcelo estava contando sobre o número de vezes e o intervalo de horas que havia visto a luz acesa através da janela. Marinis demorou um pouco, mas retornou a si interrompendo Marcelo e dizendo que aquela era a janela do quarto onde haviam encontrado a moça morta. Marcelo diz que tem algo mais que contar e revela que vira um strip tease naquela fatídica noite. Marinis se interessa pela história mas antes confirma com Marcelo se havia sido naquela noite mesmo. Como ele poderia ter tanta certeza? E ele responde que lembra muito bem porque foi no dia que tinha tido uma briga no ButeKim e todo o barraco na rua tinha sido inspiração para um livro que estava escrevendo. Marinis acaba revelando a Marcelo que aquela briga daquele dia tinha aberto um novo caso em sua seção na delegacia e procuravam pelos assassinos de um tipo com algumas passagens pela prisão e delegacia que atendia pelo nome de Naldo. Marcelo disse que nunca tinha ouvido falar. E comenta que haviam sido dois assassinatos no mesmo dia. E Marinis desabafa, pois é, mas o do Naldo pelo menos já sei quem foi. Já o da moça degolada de frente a sua janela, ainda não tenho nenhuma pista de por onde começar a buscar esse assassino. Marcelo o interrompe e diz que se já sabia o assassino do outro logo que pegassem o assassino o caso se daria por encerrado. Marinis, já sentindo-se mais à vontade em conversar com Marcelo, e permitindo-se alguma intimidade na intenção de utilizar o toque investigativo jornalístico de Marcelo, resolve dar-lhe crédito, ignorando as recomendações do detetive Adriano que lhe alertara do excesso de vontade de Marcelo poder fazer parte de suas criações ao invés de ajudar. Marinis resolvera dar esse crédito e acabou revelando a Marcelo todo o caso que suspeitava da equipe da narcóticos. Mas não tinha provas. E o delegado daquela seção já havia solicitado o trabalho da corregedoria no seu departamento. Marcelo percebeu que aquela confissão de questões profissionais por parte de Marinis era um passo que estreitava a relação deles. Marcelo disse a Marinis que tentaria escrever tudo o que tinha de registro daquela noite e daquela janela, inclusive o pouco que havia visto do strip. Ia tentar colocar o máximo de detalhes no papel, onde melhor organizava suas idéias. Marinis se deu por satisfeito, já que estava ali dando um crédito à veia investigativa de Marcelo, tinha que permitir que ele reunisse toda a informação que poderia lhe passar tomando o tempo que lhe fosse necessário para organizá-la e compilá-la. Marinis se despediu de Marcelo e deixou um auto convite, dizendo que seria interessante se pudesse voltar um outro dia para ver a vista da janela de Marcelo e conversar mais sobre aquela madrugada. Marcelo entusiasmou-se e deixou aflorar mais seu lado feminino, mas logo reassumiu sua postura tradicional. Ao ouvir a porta trancar, Marcelo estirou-se no sofá e pensativo escutou o elevador chegar, a porta se abrir, Marinis entrar e o barulho ir tornando-se mais distante a vez que o elevador chegava ao solo. No sofá, Marcelo passou algumas horas vendo escurecer a cidade e também seu apartamento sem acender nenhuma luz. Reflexivo ficou até que adormeceu.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Capítulo XI - Voltas

Marinis acomodou-se na cama e olhou para a mulher. Ela olhou para ele começou a se despir suavemente. Fazia um jogo de strip em que não terminava de ficar totalmente pelada. Marinis olhou-a nos olhos e perguntou: É nova na casa, hein? Ela disse que sim. Ele disse: Ótimo! E onde você esteve esse tempo todo, em gatinha?! Ela, reponde que nas ruas e dando golpes, comenta inocente. Marinis se enche de segurança de ser realmente ela a pessoa que procurava. A descrição batia um pouco com o que lhe havia dito Giuliani então Marinis chamou a moça até a cama, fez com que sentasse e se apresentou como investigador da homícidios e queria saber o que tinha acontecido em uma quinta-feira no ButeKim, em que havia tido gente golpeada com talheres e viatura de polícia. E quando Marinis disse viatura de polícia, a moça respirou em um ritmo mais tranquilo. Ele então lhe perguntou se ela estava bem? Ela disse: O senhor falou, homícidios? Marinis se dando conta confirmou que sim. Ela voltou a ter uma expressão de preocupada e foi quando tomou a iniciativa e disse: Doutor, já que o senhor é da homícidios, agora eu fiquei preocupada. Onde é que tá o Arnaldo? Arnaldo? Marinis respondeu com outra pergunta. Ela disse é, o pessoal chama ele de Naldo, mas o nome dele é Arnaldo. E Marinis se deu conta de que o parceiro de golpes dela era esse tal de Naldo. Algum tempo depois se deu conta que deveria ser o cafetão também, já que ela estava recém chegada ao puteiro. Ela lhe descreveu o Naldo e disse que ele estava completamente desparecido desde aquele dia dessa briga. Que o menino furou ele, mas foi com um garfo e que isso não o mataria. Marinis hesitou suas previsões de estar preso sem registro em uma cadeia qualquer, de ter sido morto e então entendeu a aflição da moça em relação a ele ser da homícidios. Pensou que talvez ela pudesse ajudá-lo a chegar nos policiais que estiveram naquela rua naquela noite. E a verdade é que com interesse dela em saber o paradeiro de Naldo, foi como uma pescaria, isca no anzol, e peixe. Ela não só sabia quem era o policial, irmão de Renato, como também outro membro de sua equipe. Com os nomes bem anotados, Marinis tomou nota também do nome da moça e seu telefone de contato. Disse que se tivesse notícia entraria em contato para informá-la. Se despediram e antes de ir Marinis pode ver os olhos da moça vermelhos e cheios de água.
Saiu e foi direto para a delegacia. No computador verificou os nomes e encontrou os dois detetives. Quando buscou por Arnaldo Naldo, encontrou uma ficha que mereceria respeito para a profissão de bandido. Mas nada nos últimos dias. Tinha sido preso por um dia por ofensa polícial. Esse era o último dos seus delitos. Mas Marinis não se deu por satisfeito e foi ler o boletim de ocorrência da prisão. Nada demais. E havia sido preso na porta da própria casa onde morava. Marinis parou para um café. Café e um pouco de sudoku depois, Marinis senta-se novamente a frente do computador e verifica o resgistro de quem prendera a Naldo, e encontra uma conicidência em ser outro detetive do mesmo setor dos outros dois. Muita concidência é porque há verdade. Marinis tinha três nomes de detetives que estavam envolvidos em desententimentos com um bandidão de nome Naldo e precisava de informação sobre o que eles poderiam ter visto de anormal naquela noite. Difícil processo de abrodagem, mas não demorou para Marinis perceber quem era o grupo. Eram seis, e um deles sempre coordenava a divisão em duplas ou trios. Para Marinis restavam poucas opções, não deveria chegar diretamente a nenhum dos que tinha os nomes. Na verdade não deveria chegar diretamente ao irmão de Renato, o mais envolvido emocionalmente no caso, também não deveria tentar pelo detetive envolvido na prisão. Menos ainda com o delegado que não coincidia com nenhum dos três nomes que tinha. Mas um curiosidade ainda maior era o que lhe aguardava o outro nome de detetive que tinha, era um nome que lhe parecia familiar. Gustavo Berlini. Onde já tinha escutado aquele nome? Se perguntava, foi quando viu passar um velho colega de academia de formação policial se aproximar do grupo com uma xícara de café na mão. Se espantou em ver que havia conhecido e sido colega de um deles. Hesitou alguns segundos antes de aproximar-se dele, e foi quando lembrou que esse nome era um dos que a prostituta tinha lhe dito estar presente naquela quinta-feira. Então, com mais tato e cuidado aproximou-se de Gustavo como que apenas para cumprimentá-lo. Falaram sobre como ia o trabalho, um pouco da família e ficou por isso. Marinis disse que precisava falar com o delegado e que talvez Gustavo pudesse ajudá-lo. Gustavo, assentiu que sim e Marinis foi até a sala do delegado. Chegando lá, fechou a porta se apresentou como delegado da homícidios e explicou o caso que aconteceu no bar para o delegado, que lhe perguntou espantado: Mas se aqui é a Narcóticos e o senhor é da Homícidos, o que agente tem a ver com golpe de prostituta e a briga? Pela reação de espanto do delegado, Marinis se deu conta que ele não participara e talvez até não soubera tudo que sua equipe fazia, foi quando lhe contei sobre o envolvimento de três membros de sua equipe com o desaparecido Naldo. Ele assustado solicitou os nomes e verificou que a última prisão de Naldo tratava-se uma abordagem do detetive que iria prendê-lo como usuário e que ele reagiu e desacatou a autoridade. Os dois delegados conversaram durante algum tempo. Marinis explicou ao colega que aquele era um novo caso e que ainda não se constatava homicídio, pois não tinha um morto. Apenas um desaparecido. Que o caso no qual ele realmente estava envolvido era do assassinato que ocorrera naquela mesma noite e que acha que pode conseguir mais informações com um velho colega. Pediu ao delegado que lhe desse mais alguns dias e que ia tentar conseguir informações com Gustavo e depois tratavam de tentar descubrir o que havia passado com Naldo. O delegado concordou, e aproveitou para ganhar tempo para pensar em como ia seu departamento. Nos homens que tinha ao seu lado trabalhando. Afinal, eram uma equipe. Marinis saiu pela porta e foi em direção a Gustavo que tomava outro café. Pegou uma xícara também e disse: E aí? Muito trabalho hoje? Gustavo disse que não, que estava tomando aquele café e indo embora. Marinis, oportunista, aproveitou o momento e convidou Gustavo para irem tomar uma cerveja, beliscar algo e conversar um pouco mais. Gustavo disse que não, que tinha um compromisso. Depois voltou atrás e disse que sim. Que umas duas cervejinhas dava para tomar antes de ir ao seu compromisso. Marinis disse: Opa, hoje eu convido! Vamos em um bar que tem a melhor porção de frango à passarinho com alho de toda a cidade. Gustavo sorriu com entusiasmo e disse: Então o que estamos esperando? E sairam os dois da delegacia.
Foram no carro de Marinis e em poucos minutos estavam na porta do ButeKim. Desceram do carro, entraram, Marinis cumprimentou a Kim, a Giuliani e sentaram em uma mesa mais ao fundo. Gustavo ficou impressionado com Marinis conhecer ao dono do bar e a um garçom. Acreditou que Marinis era relamente frequentador daquele lugar e relaxou. Três cervejas mais, Gustavo chama Giuliani e diz: Moço, trás mais uma e outra de frango a passarinho. Marinis aproveitou para brincar com o colega: Então, é boa ou não é? E ele disse que sim. Meia porção comida, Gustavo pergunta a Marinis como ele tinha descuberto aquele bar. E Marinis disse que estava investigando um caso que tinha ocorrido em um edifício naquela rua. Gustavo assentiu positivamente e continuou a comer. Marinis lhe interrompeu e disse: Lembra que te disse que talvez você possa me ajudar? Pois sei que você esteve aqui naquela quinta-feira pois frequentadores do bar disseram da presença de policiais e seu nome foi citado e -emendando sem tomar folêgo - queria saber se por acaso você viu alguma de anormal, estranho o que lhe chamasse a atenção na rua que não fosse a briga na porta do bar. Gustavo consertou a expressão incial de susto pensando que Marinis soubesse ou estivesse a procura de Naldo e fez-se pensativo: Hmm! Deixa ver. acho que nad... Marinis o interrompeu e perguntou: Olha, o fato é que não encontrei registo da sua visita aqui e portanto não sei a hora. A que horas foi que esteve aqui mesmo? E Gustavo disse que perto das 3 da manhã. Marinis deu um suspiro incontente que foi logo percebido por Gustavo, que o perguntou o porque dessa reação. Ele disse que sua vítima tinha morrido às 7:30 da manhã, aproximadamentes. Marinis deixou Gustavo na metade do caminho entre o ButeKim e a delegacia. Parecia que seu compromisso era perto da delegacia. Marinis foi para casa com a dupla tristeza de não ter desenvolvido muita coisa na solução do caso de homícidio e confirmando que seu colega estava realmente envolvido no desaparecimento de Naldo. Mas ainda tinha uma pergunta mais: E o tal do Marcelo?

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Capítulo X - Tias

Velório pela tarde. Almoço com defunto em casa é lanche. Ricardo logo se interou com Gabriela do estado que estava seu pai, de suas teimosias em procurar tratamento médico e de se fechar sobre o problema achando que o resolveria a sua maneira. Ricardo teve uma longa conversa com Marcelo. sobre a vida e o futuro. Ao final chegaram ao acordo que os dois também tinha muito da teimosia e do individualismo de seu pai. Que pouco conversavam sobre as coisas pessoais da própria vida. Que na verdade mal se falavam e que pouco sabiam um do outro. A tia Judite interrompeu a conversa com um forte abraço em Ricardo quase obrigando os dois a almoçarem algo. A insistência da tia não precisou ser muito perssuassiva pois a final estavam os dois com fome e depois de um estúpido " daqui a pouco vamos lá" de Marcelo que olhou para Ricardo e disse enquanto sua tia saia e falava para outro canto "Come!" com um ô alongado: Quer saber, que depois que nada, vamos logo e beliscamos algo pelo menos que nem tenho muita fome. Saco vazio não para em pé. E, temos que continuar, né?. Ricardo assentiu com a cabeçå, sorriu com os olhos cheios de lágrimas e disse que Marcelo tinha uma estrela que brilhava. Na cozinha, a tia Judite colocava tampa em algumas panelas e panos de prato sobre algumas vasilhas. A primeira panela que Marcelo abriu tinha feijão com farinha e ovo. A outra tinha salsicha com molho vermelho. Em uma vasilha sobre a mesa Ricardo destampava um pano sobre uma vasilha de arroz, outra com batata pallha e uma cesta com pães e algumas sobra de pão de queijo. Marcelo viu aquilo e disse:Hmmm! tive uma idéia. Pegou um prato, pegou uma salsicha, partiu e comeu dentro de um pão de queijo. Ricardo sorriu emocionado novamente olhando para o irmão e disse que adorava aquela cabeça aberta que Marcelo consegui ter, ainda que insistisse em negá-la. "Você é capaz de absorver a necessidade de adaptação e começar a aplicá-la sem nem mesmo ter consciência." Marcelo soltou um Quê!? E Ricardo falou de como modificou rapidamente sua maneira de pensar depois que a tia chamou para comer. Marcelo riu. Fez outro pão de queijo com salsicha. Olhou para o lado e viu sua tia acendendo o fogo e esquentando a salsicha, o feijão. Disse a Ricardo leventando outro pano de prato desvendando alguns pratos e talheres: E quer saber? Vou mesmo é almoçar! Mal terminava a frase e tia Judite já tinha uma outra panela no fogo enquanto pegava a vasilha com o arroz. Marcelo acompanhou sua tia colocando o arroz na panela e disse: Transmissão, hein tia?

O computador não tinha nenhum relato daquele dia. Mas Marinis não se contentava em mais um dia sem que o caso se desenrolasse. Voltou até o ButeKim e Giuliani ainda não havia chegado. O bar estava em festa. Kim dava uma talagada de cacahaça grátis pra qualquer uma que pedisse algo de comer. Seu primeiro filho nascera, prematuro. Marinis foi até Kim e porção e pinga pra dentro, logo soube do nascimento da pequena princesinha que nascera na casa do anfitrião. Kim explicou a Marinis que era uma menina e nem ele nem sua mulher quiseram saber o sexo do bebê até a hora do nascimento. Como a bebê nascera prematura, ficaria internada alguns dias no hospital e se não fossse trabalhar ficaria louco dentro do hospital. Sua mulher tomou alguns comprimidos para dormir e assim que sua cunhada chegou, foi ao bar comemorar o nascimento da nova cria. Marinis, impaciente teve que esperar toda a euforia de Kim ao contar tudo o que aconteceu. Passando pelo parto ao alarme falso da noite anteriror. Quando Kim enfim contou e recontou algumas partes do fato, Marinis conseguiu um pouco de sua atenção de maneira mais reservada quando ele lhe trouxe a conta. Marins se apresentou como delegado e que precisava do contato com Giuliani. Kim, assustado negou que Giuliani não tinha telefone. Marinis logo percebeu pela cara de Kim quão assustado ele havia ficado sabendo que um delegado da homícidios procurava um funcionário seu. Explicou que tratava-se de um caso que tinha acontecido ali perto em um dia que o rapaz estava trabalhando. Mencionou a nota no jornal e Kim se lembrou de ter lido mesmo algo que fazia referência à rua de seu bar. Kim levou a conta com o dinheiro e pediu licença. Voltou com o troco sobre um pires e deixou sobre o balcão. Marinis olhou para os quarenta e poucos reais sobre o pires, olhou para Kim, sorriu e se despediu. Kim o interrompeu antes de dar o segundo passo em direção à saída. "Doutor, me desculpa. O senhor, sabe, né? Toma aqui" e terminando de anotar o telefone de Giuliani em um papel do bloco de pedidos, se desculpa e se dispõe a ajudar no que puder. Chegam mais frequentadores do bar e Kim volta a eles para contar da novidade de sua filha. Marinis saiu e ligou no telefone celular de Giuliani. Ele muito solicito disse que sabia sim quem era a prostituta. Mas que ela não devia de estar fazendo ponto àquela hora. Indicou ao delegado onde era o ponto delas bem perto dali. Marinis foi até o ponto, mesmo discrente de encontrá-la, mas ainda assim encontrou ali algumas de suas colegas de profissão. Depois de algumas investidas, cantadas e outra onça a menos na sua carteira, descubriu que a tal golpista que o cafetão tinha desaparecido acabava de integrar-se a um puteiro perto dali. Não foi difícil chegar ao puteiro, mas saber quem era a puta seria um pouco mais. Foi logo fazendo-se de cliente e pedindo pra entrar. Quando entrou, com a primeira prostituta no quarto, viu que em um outro quarto, durmiam no chão umas doze prostitutas. Antes de comecar qualquer coisa perguntou à mulher se elas moravam ali. Ela respondeu que só por doze horas, que as outras doze elas ficavam na rua trabalhando para pagar a moradia e a comida ali. Que algumas, como ela faziam hora extra enquanto podiam estar durmindo na própria casa. Alugavam um quarto vazio da cafetina e cobravam pela transa. Marinis inventou uma desculpa sobre os cabelos loiros da mulher e disse que queria uma ruiva. A mulher disse que não podia e ele foi falar com a cafetina. Quando entrou no quarto, a mulher ouvia uma velha canção francesa, só vestia parte debaixo de uma saia e estava sentada fumando ao lado de uma janela. Ela se assustou com a entrada de Marinis e da prostituta que corria atrás dele gritando que ele não poderia entrar ali daquela maneira. Ele se constrangiu ao ver a cafetina, ainda que tivesse seus quarenta e poucos anos, ainda tinha um corpo bem bonito. Ela percebendo seu contragimento ordenou em um tom bravo que a muher se fosse do quarto e no mesmo tombravo ordenou que ele ficasse. "Não é o primeiro, nem o segundo, nem o centésimo que me vê assim. Já tô acostumada. agora espero que seja importante para o senhor entrar aqui dessa maneira", esbravejou a cafetina com Marinis. Ele disse que queria o que ela tivesse de mais novo na casa. Que era a primeira vez que ia uma casa daquelas e que tinha uma tara de que a mulher fosse nova. A cafetina retrucou, perguntando se ele queria uma menina pouco experiente. E disse que assim tinha poucas. Ele disse que não, que sua tara era de como ele fosse frequentador do lugar e agora houvesse uma recém-chegada ali. A cafetina, mais interessada em garantir o dela, disse: Cada um com as suas taras. Mas isso vai te custar um pouco mais caro. Ele aceitou, pagou adiantado a comissão da cafetina e ela se levantou da cadeira e com os peitos de fora foi até o quarto onde durmiam as outras prostitutas. Chamou uma mulher que durmia em um colchonete no meio do quarto. Ela acordou, falou algumas coisas com a cafetina que levantou e levou Marinis até o quarto. Alguns minutos depois entrava a prostituta toda maquiada e com outra roupa no quarto.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Capítulo IX - Colarinho

Estava entre abrir a terceira cerveja para aquele estranho senhor quando ele lhe interrompeu: Você se lembra de mim na outra noite? O garçom, um rapaz magrelo de seus 40 anos tinha um bigode e alguma pasta que deixava o cabelo sempre alinhado e penteado para trás, abriu a cerveja, anotou em um papel logo embaixo do balcão, na direção de Marinis o terceiro palito da conta. Pensou, olhou para Marinis por um momento e disse que não, que não se lembrava dele. Parece difícil, doutor, mas eu me lembraria do senhor. Ainda que aqui venha muita gente, do senhor eu me lembraria. Não é o tipo que vem aqui com muita frequência. Marinis interrompe ao garçom justo no momento em que parava para respirar e lhe pergunta: Mas você trabalha aqui toda noite, não? E com o sim e um pouco mais de prosa fiada, Marinis já tinha conseguido nova informação. Kim tinha saído porque sua mulher reclamava de dores e um possível parto prematuro de seu primeiro filho. E uma porção mais, por conta da casa, doutor! E Marinis perguntou: Mas porque me chama só de doutor. E o garçom espontâneamente responde que ele tinha toda pinta de doutor e de polícia. Um detetive ou mesmo um delegado. Marinis ficou instigado com tamanha perspicácia do garçom. E mudou para o assunto que lhe interessava, se o garçom sabia alguma coisa daquela madrugada de quinta e descubriu que ele descansava nas segundas ou nas terças e seu turno o da noite e da madrugada. Muito cheio de dedos, Marinis lhe perguntou se lembrava de alguma briga que rola por causa da bebedeira e ele disse que sim. Em um quinta feira, de madrugada, faz alguns dias e lhe contou sobre o golpe da puta e do cafetão. Que fazia quatro semanas que rolava e que aquilo já o incomodava. Marinis logo se enterou do golpe pelos relatos do garçom. E entendeu tudo o que havia passado.(.)(.) E logo se deu conta que o garçom conhecia o tal do Renato que mencionara o nome e teria sido detido naquele dia. Estranha história., lhe disse Marinis dizendo que não havia nenhum registro na polícia dessa prisão. E lhe servindo a saideira, o que faltava para Marinis terminar de juntar um dos quebra-cabeças. Renato é irmão de um doutor igual o senhor. , lhe respondeu o garçom. Marinis surpreso com a informação perguntou o nome do rapaz. Giuliani. Respondeu. Marinis pediu a conta e foi a banheiro. Quando voltou estava Giuliani na parte de dentro do balcão onde o atendia. Aqui esta sua conta, senhor. Marinis pagou e saiu. Quando saiu escutou "arrivederci". Entrou no carro, parou por alguns segundos e viu um pequeno filme passar entre imagens e sons a sua cabeça. Um colarinho levava uma bandeira do Brasil e o outro uma da Itália. Giuliani. Não demorou muito para entender que ele falava italiano e portugês. Voltou do carro e perguntou porquê. aproveitou da sua embriaguês e lhe chamou e perguntou com alguma cerimônia: Desculpe a pergunta, mas você é uma garçom bilíngue? E Giuliani respondeu que sim. Filho de mãe e avós italianos aprendeu as duas línguas desde novo e que ele usar aqueles dois pins dava crédito para o bar. Igual Ramón, um uruguaio que falava portugês e espanhol. Levava suas 4 estrelas com muito orgulho pelo grande esforço de toda a equipe. Marinis se pôs pensativo. Pediu uma água e sentou. Giuliani trouxe a água e perguntou se sabia mais alguma coisa de Renato. Giuliani se surpeendeu que ele gaurdara o nome do rapaz mas disse que sim. Renato era playboy. Estudava em faculdade e era cada vez frequentador mais assíduo do bar. Umas vezes vinha o irmão dele busca-lo, mas nunca com carro de polícia. Com o carro, aquele dia tinha sido a primeira vez. Marinis perguntou: Então você sabe quem é o irmão de Renato? E Giuliani disse que o irmão não sabia o nome, mas a prostituta conitnuava fazendo ponto na região, e que quando vinha no bar estava sempre sozinha. Que o nome dela ele descobriría fácil. Marinis agradeceu e disse que voltaria em alguns dias. Foi até o carro e quando entrou sentiu novamente o empesteante perfume de Marcelo. Abriu os vidros, aumentou o volume e resmungando do cheiro no carro foi para sua casa.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Capítulo VIII - No interior, em casa

Já fazia algumas horas que Marcelo havia chegado a sua antiga casa em Ouro Branco. Sua irmã ainda não tinha chegado. Estava no Rio de Janeiro e vinha de carro. Ele não conseguia entender qual era o motivo da morte de seu pai. Ele o tinha visto no final de semana, no dia anterior e sim que ele estava estranho, como nunca. Mas não parecia débil de sua saúde. Fumava mais que o de costume. Também tossia e pigarreava mais vezes, mas nada que o matasse tão da noite pro dia assim. A cabeça de Marcelo dava voltas tentando entender a causa. Lava as mãos e olha no espelho para perguntar a si mesmo um vez mais: De quê? Ao sair do banheiro se encontra com sua tia que o pergunta onde tem mais pão ou biscoito. Marcelo não tinha nem idéia de siquer se teria. E pôs-se a buscar pela casa nos possíveis lugares. E depois de uns vinte minutos encontrava o que queriam. Mas agora era o último do que tinha para servir aos vistantes que vinham prestar seu luto. Marcelo tinha passado o final da madrugada procurando copos. água, café, biscoitos e pão e nem mesmo teve tempo de entender como poderia descobrir o motivo da morte de seu pai. O doutor Fernandes. O médico de seu pai certamente saberia o motivo de sua morte. Marcelo tinha que sair para comprar alguns biscoitinhos e algum refresco para o dia. Uma de suas primas já estava se apresentando à cozinha para fazer uma torta e um bolo para um café da manhã pouco comum. Marcelo percorreu a casa e não encontrava o doutor Fernandes. Certamente não estava ali, afirmou a doutora Débora. Débora era doutora há uns quinze anos ou menos, Marcelo não se lembrava. Era mais nova que ele, mas frequentava a noite de Ouro Branco quando jovem. Noite essa que ele frequentava em demasia. Marcelo acreditou sem hesitar. Até mesmo porque Débora comentou que o doutor Fernandes havia pego o turno depois do plantão dela naquela noite. Marcelo perguntou se ela tinha carro e se poderia levá-lo para comprar algo de comer e beber. Ela disse que seria uma prazer e saíram. Enquanto saíam, Marcelo já pensava na volta que teriam que fazer para passar pelo hospital e conversar com o doutor Fernandes. Ao sair pela porta encontra com sua irmã que lhe pergunta o que tinha acontecido. Marcelo respondeu que não sabia, mas estava indo tentar descobrir naquele momento e que iria comprar algo de comer também. Nesse momento Débora interviu e disse que iria sozinha comprar algo de comer e uns refrescos. Marcelo meio confuso entre o não saber a causa da morte de seu pai e a chegada de sua irmã abraçou seu cunhado e chorou ao ver sua irmã chorando recebendo um abraço e os cumprimentos de Débora: "Meus sentimentos, Gabriela." Direto ao caixão de seu pai Gabriela o olhou por alguns segundos. Virou de costas e tentou sorrir. Seu marido lhe deu um abraço enquanto olhava ao caixão de seu sogro. Chorava e soluçava como um bebê nos braços de Gabriela. E ainda que fosse uns 30 centímetros maior que ela, parecia estar sendo carregado. Gabriela tentava conter as lágrimas e via a Marcelo que a olhava com um choro pouco contído nos olhos. Depois de algum momento com sua mãe, Gabriela e seu marido estavam de volta ao velório. Ele chorava muito e se emocionava quando ouvia ou contava uma caso do seu Gerson. Gabriela percebeu que Marcelo estava inquieto e estranho. Não sabia que ele havia estado ali no fim de semana até que o chamou no quarto e foram conversar. Ele lhe contou do que tinha visto no fim de semana, mas que tão pouco notara algum sinal de uma saúde tão fatal em seu pai. Contou que queria falar com o doutor Fernandes e também do hospital e os biscoitinhos. Gabriela também estava intrigada com a história e disse: "Vamos no meu carro? ... Agora! Sem pensar Marcelo se levantou e foi atrás de sua bolsa. Gabriela atrás da chave do carro. Em poucos minutos estavam de saída. Ao passar pela cozinha, Débora acabava de chegar com uma dúzia de biscoitos, pão de queijo e alguns pães. Disse sorridente: "Passei na padaria, tava saindo um pãozinho quentinho, aí eu trouxe." Marcelo pegou alguns pães de queijo e um dos biscoitos e saiu. Gabriela pegou uma garrafa de água e foi atrás.
Entraram no carro e sairam em direção ao hospital enquanto Marcelo devorava os pães de queijo em sua mão a um velocidade pouco comum. Gabriela achou graça daquilo e disse: "Calma, mastiga antes de engolir." E deu uma risada. Marcelo se deu conta que estava gulosmente matando sua ansiedade. Lhe pediu desculpas e ofereceu um pão de queijo. Ela disse que não, mas aceitava um biscoito. Ele sorriu e abriu o pacote de biscoitos para ela. Enquanto tomava um gole de água, Garbriela pensou e perguntou a Marcelo se o doutor Fernandes estava de turno agora pelo começo da manhã, não haveria de ter sido ele que atestou o óbito de seu pai. Tudo aquilo fazia sentido para Marcelo, mas ele não sabia para onde ir para tentar obter teal informação que não fosse o hospital. Apesar da teimosia inútil de sua irmã em resmungar por desabafo, chegaram ao hospital alguns biscoitos depois. Quando chegaram não conseguiram falar de imediato com o doutor Ferndandes. Ele estava atendendo uma criança com suspeita de cachumba. No balcão do hospital Marcelo se apresentou a enfermeira como filho do seu Gerson e queria saber se ele tinha passado pelo hospital. Para sua pouca surpresa ela disse que sim. Sua irmã de longe perguntou:"Quê?" e calou se aproximando. Ele perguntou onde poderia ter acesso ao atestado de óbito. A enfermeira disse que melhor que eles conversassem com a doutora. Que ela podia explicar melhor o motivo da morte. "Mas que doutora, se nós viemos aqui atrás do doutor Fernandes!", disse Gabriela. Marcelo olha para a enfermeira e pergunta a que horas seu pai tinha falecido e ela diz que havia sido no dia anterior pela manhã. Marcelo fala com Gabriela que o turno deveria ser o do doutor Fernandes mesmo e pergunta a enfermeira: "Que doutora é essa então?"E a enfermeira respondeu um pouco surpreendida: " A doutora Débora Magalhães, ela que era a médica do seu pai há uns dois anos já." Marcelo e Gabriela se olharam e sem demorar muito agradeceram a enfermeira e correram em diração ao estacionamento do hospital. Já no carro o pessimismo da ida muda de assento e Marcelo devolve a pergunta a Gabriela: Mas se a Débora tava de plantão de noite, deve ter sido o doutor Fernandes mesmo que o atendeu." Gabriela retrucou dizendo que melhor saber da médica dele a causa da morte e também o motivo dessa causa. Em um trajeto de mais biscoitos e cigarros, chegaram rápido ao velório. Quando chegaram Débora estava de saída. Pedia desculpas pelo cansaço e que voltaria no final da manhã. Marcelo e Gabriela a interromperam e pediram para falar com ela em particular. Vendo a seriedade com que eles lhe falaram, Débora logo se deu conta que eles talvez não soubessem da grávidade da situação do pai. De portas fechadas em um quarto Débora pôs-se a explicar quando assumiu o pai deles como paciente. Ele levava três anos sem consultar com o doutor Fernandes e com muita insistência do tio de Débora, muito amigo do velho Gerson, ele passou a consultar com ela. Logo ela descobriu que ele tinha sérios problemas cardíacos, o pulmão não funcionva bem, assim como o fígado. Ela o havia advertido que deveria mudar os hábitos de vida, alimentares e de vícios. Fazer mais atividade física, comer coisas mais saudáveis e de fácil digestão e diminuir o cigarro e a cachaça. Mas Ficou seis meses sem aparecer no consultório. Até que uns dias antes do natal marcou uma visita ao consultório da doutora. Débora lhe pediu todos os exames de rotina para acompanhar como estava, mas o que mais lhe preocupava era da dor que Gerson dizia sentir no braço esquerdo. Com medo de um infarto, ela o advertiu dessa possibildade e de como reagir. Mas depois disso, Amanda, mãe de Marcelo e Gabriela, havia procurado a doutora Débora para saber o que estava passando com o marido dela. Débora disse que não podia dizer por questões éticas e agora se arrependia. " Faz cinco dias ela esteve no meu consultório." Marcelo tenta consolar-la e diz que não mudaria nada em cinco dias. Mas enfim que o pai tinha morrido de uma parada cardíaca. Sua saúde vinha mal há mais de cinco anos e ele fazia questão de não dividir essa informação com ninguém. Quando se afastou das sessões com a doutora Débora piorou muito seu estado, e quando voltou a vê-la tinha piorado muito. Nesse momento entra no quarto sua mãe e Ricardo, seu irmão que acabara de chegar de ônibus de São Paulo.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Capítulo VII - Viação Morte

A mochila era pequena. Levava um par de roupas, um livro sobre espiritismo e outro do Ferreira Gular, presente que seu pai lhe dera no último natal. Agenda, discman, celular e cuecas na bolsa. Marcelo saiu tão atônito de sua casa que não se deu conta que tinha colocado os livros na mochila e as cuecas na bolsa. Quando já sentado dentro do ônibus a caminho da estrada para Ouro Branco, buscando pela antologia poética de Gular se deu conta de que havia trocado os obejtos de lugar. Olhando para o que sobrava na bolsa, agenda, celular e discman, só lhe restava uma opção. Discman. A viagem não era muito longa, mas levava seu tempo, pouco mais de uma hora. No discman um único cd. O da volta da viagem do fim de semana. Mas passadas três faixas, a quarta começava e não conseguia adormecer Marcelo. Sua cabeça tentava entender o que podia ter passado. Ainda que de nada adiantava. Assim como também não adiantava seu saudosismo dos momentos com seu pai. Mas seu saudosimo não era de lamento, e ainda que lhe trouxesse saudades antecipadas. Era um lembrança que lhe fazia misturar sorrisos e lágrimas. Ao notar que a música lhe parecia bastante dispensável, tirou os fones do ouvido e pôs-se escutar o ruído do motor do ônibus enquanto subia a estrada. Após alguns minutos, Marcelo se deu conta de que acabava um faixa e começava outra no discman. Olhous para suas mão e percebeu a altura do volume que saia dos fones de ouvido. Abriu a bolsa e em meio a umas cuecas encontrou o discman. Mais ao lado estava a agenda. Desligou o discman e pegou a agenda. Abriu a agenda, pegou uma caneta e anotou o dia da morte de seu pai. Fechou a agenda. Passou alguns segundos com as mãos sobre a agenda pensando. Lembrava outra vez de seu pai e sorria. Abriu a agenda e rabiscou o que tinha escrito. Enquanto rabiscava viu escrito sobre o encontro com o detetive pela tarde e se conectou na outra visita da morte, uma à sua casa e outra à sua janela. E Marcelo distraiu seu pensamento sobre seu pai e voltou a pensar em Marinis e tudo aquilo que presenciara desde sua janela, e ainda que Marinis não soubesse, ele tinha muitas informações do caso. A mulher que ele vira. Mais ou menos a hora. Se podia ajudar, estava mais que nunca seguro que sim. Era a hora em que se envolveria em um caso sério de polícia. "Mórbido, tratando-se de uma morte", pensava Marcelo se autorecriminando,"mas assim é a vida". Se autorespondia. Em uma curva, a agenda em seu colo cai no chão e caem alguns papéis junto. Marcelo junta todos e coloca no meio da agenda. Guarda a agenda na bolsa, pega uma cueca, coloca entre o vidro e o assento, encosta a cabeça e em poucos minutos começa a relaxar. Já acostumado com a estrada há anos, Marcelo tinha sua técnica de relaxar na estrada. Conseguia não olhar para a paisagem e sim inventar algo para contar pelo caminho. E ao invés de carneiros contava, carros, postes, motos, montanhas, nuvens e o que mais lhe convinha. Relaxava e adormecia. Dessa vez não foi diferente. Quando o motorista o chamou e disse: Senhor, ô senhor não vai descer? Marcelo acordou assustado e com a cara amassada e os olhos inchados pergunta: Quê? E olha ao redor vendo que está na rodoviária de Ouro Branco. Desceu, pegou a mochila e pegou um taxo até sua casa. O velório ia ser na própria casa, como de antigo costume do interior. E o enterro no dia seguinte. Pela tarde. Marcelo não gostava da idéia de ser assim, mas era assim. Em sua casa tias, tios, primos, amigos e conhecidos toda à madrugada. Chegavam sem parar. E Marcelo não conseguia se comunicar com sua mãe. Ela chorava compulsivamente. Suas tias não sabiam explicar o motivo da morte de seu pai. Ele não entendia. Seu irmão chegaria pela manhã e sua irmã a qualquer momento.

Na delegacia um telefone toca. Marinis atende: Pode passar! e do outro lado escuta: Doutor Marinis, sou o Kim. Lembrei de uma coisa. Naquele mesmo dia teve uma briga aqui na porta do bar. Sei lá, tô ligando porque o senhor perguntou se eu lembrasse de alguma coisa suspeita, e o senhor sabe, né? Isso não é suspeito, se teve até viatura de polícia. Marinis acena com a cabeça tomando nota e agradece a Kim. Pelo computador busca o boletim de ocorrência pela data e pela rua. Não encontra nada. Pede a um colega que verifique a informação e ele também não encontra nada. Marinis se põe a tentar entender porque Kim mentiria para ele. Já era tarde, mas nunca tarde demais para uma passada ao butequim mais famoso da capital. Já era hora de ir para casa e tentar descansar um pouco. Marinis se despede de poucos, como sempre, e sai como gosta da delegacia, a francesa. Em poucos minutos já está no seu carro a caminho do ButeKuim. Quando coloca a mão atrás do banco para buscar um cd, sente o perfume de Marcelo, exagerado para seu gosto e se lembra que se não é por Kim, por Marcelo esse caso demora para se resolver. Sem nenhum suspeito até agora. O porteiro disse que não viu ninguém. Na rua, no centro e de noite, está todo mundo e ninguém. Marcelo tinha se mostrado muito interessado no caso, mas Adriano já havia alertado a Marinis da vontade de Marcelo ser repórter policial. Marinis tinha ali suas dúvidas de que se Marcelo poderia mesmo ajudar. Era intuição dele e nada mais. Adriano tinha dito que o cara morava no prédio da frente, era colunista social. No caminho do café, Adriano conversando com Marinis sobre Marcelo conta a ele que Marcelo queria ser repórter policial e que seria importante ter cuidado com a empolgação do rapaz. Marinis percebeu que Marcelo estava estranho no café e pensava que era por ansiedade. Tanto que quis ir ver a vista que Marcelo tinha de sua janela. Mas em meio a tudo isso morre seu pai e explica todo seu estranho estado que julgava ser ansiedade. "Com o pai no leito de morte deve ser difícil estar em um estado normal", pensava Marinis enquanto chegava ao ButeKim antes de achar o cd que buscava. "Marcelo estava estranho por seu pai, mas queria falar comigo para me dar informação ou quer receber informação?" Com essa dúvida estaciona o carro e caminha em direção ao bar, olhando o paredão de prédios que fazem a rua parecer um grande corredor. Já no ButeKim, Kim não está. Recebeu uma ligação e saiu. Marinis senta em um banco no balcão e pede uma gelada. Relaxa a gravata, olha o relógio e toma um gole. O garçon pergunta se ele quer comer alguma coisa e ele pede uma porção. Quando o garçom volta com sua porção, Marinis pede outra cerveja e já tem uma expressão mais relaxada. Tinha pensado enquanto esperava a Kim que o melhor era tentar relaxar um pouco para a cabeça tentar encontrar outras saídas para o caso.

sábado, 23 de dezembro de 2006

Capítulo VI - Imprevisibilidade

Após alguns 2 minutos, Marcelo já havia queimado a boca com o chá quatro vezes tamanha era sua ansiedade. Pensava que como ele estava atrasado os dois já teriam ido. Mas que se pensava assim, porque estava ali tomando aquele chá se tinha pago o taxi com umas poucas moedas que inha na bolsa. Parecia que o tempo passava mais rápido para chegar ao futuro, mas não chegava. E tome outra queimadura na boca. E esse chá que não esfria. Então um sombra para ao lado de Marcelo. Outra vindo de trás pousa em seu ombro e um voz de timbre forte pergunta: Senhor Marcelo? E Marcelo com as mãos na xícara se queima com o susto no chá quente. Olha para o lado e viu que conhecia o vulto que fazia sombra, e entre um misto de dor e tranquilidade, grita: Au! Sou si.. oi, Adriano, tudo bem?. E Adriano abre um sorriso e também o cumprimenta. Apresenta o delegado, doutor Marinis e sem muita cerimônia sentam com ele depois de apertos de mão muito simpáticos. Os dois não pareciam policiais e olharam o menu enquanto Adriano começava uma conversa fiada.: E aí Marcelo, e Ouro Branco, faz muito tempo que você não vai lá? Marcelo se assutou com um pergunta que tinha uma reposta tão recente que demorou não pra responder, mas sim pra entender qual era daquela pergunta que o detetive tinha lhe feito. Foi quando tomou um gole do chá, controlou a sua ansiedade e viu que os dois estavam quietos olhando o cardápio. Que depois de dizer esse fim-de-semana, nenhum dos dois disse mais nada. Ele achou estranho tão súbito interesse por Ouro Branco que Marcelo demorou para entender que eles estavam disfaraçando. Doutor Marinis fala com Adriano tranquilamente, melhor conversarmos em um lugar mais reservado. Marcelo entende o que havia passado com um encontro em um lugar tão público para falar de um tema desses. E reponde: Concordo, porque não vamos a minha casa? O garçom chega e pergunta: E os senhores, o que vão querer? Adriando pergunta a Marinis: Você viu se tem shake de capuccino gelado? Marinis balança a cabeça negativamente fechando o cardápio e colocando-o na mesa. Pergunta ao garçom que diz que não. Diz que não quer nada. Adriando faz o mesmo. O garçom recolhe os três cardápios que estavam sobre a mesa e quando estava já de saída escuta Marcelo resmungando pedir a conta: Ah, não, se vocês não vão beber nada eu também não vou. Garçom, a conta por favor. Marcelo abre a bolsa e se dá conta que tinha esquecido a carteira no jornal. Doutor Marinis, astuto saca dois e cinquenta do bolso deixa sobre a mesa e se levanta. Seguido por Adriano e Marcelo que simpáticamene agradece a Marinis, fecha a bolsa se levanta e vai com eles. Entram no carro de Adriano e vão em direção a casa de Marcelo. Chegam em poucos minutos. Marcelo passa, cum primenta o porteiro e sobem. No elevador, Marinis nota que Marcelo aperta o 12. O elevador é antigo e sobe devagar. Adriano pergunta a Marcelo se ele morava ali há muito tempo. Marcelo se pôs a fazer contas com as mãos e enquanto ia dizendo os anos. E disse: Ah, dois anos depois que sai da faculdade! E Marinis comenta com educação: Já fazem 23 anos então que mora aqui. E Marcelo reponde que sim abrindo a porta do elevador e saindo em direção a porta de seu apartamento. Os dois vem atrás e vêem que Marcelo se coloca procurar a chave em sua bolsa. E depois de alguns segundos Marcelo diz que não encontra a chave e que igual a carteira devem ter ficado na sua gaveta no jornal. Marinis pergunta: O Jornal de MInas Gerais? e Marcelo reponde que sim e pergunta se ele lia sua coluna. Marinis disse que não e que o Jornal Minas Gerais era muito perto e eles estavam de carro. Poderiam levá-lo lá para que ele buscasse a carteira e as chaves. Marinis ficou intrigado em saber o que Marcelo poderia contar, mas não poderia crer em Marcelo antes de ver a vista que ele tina do 1102. Voltaram no mesmo elevador, Marinis volta a perguntar a Marcelo se o apartamento era algudo ou dele quando o celular de Marcelo começa a tocar uma das sinfonias de Bethoven. Marcelo diz: Bethoven, minha família! Atende e diz: Alô, oi Mãe? e depois de alguns segundos o elevador chega ao térreo e Marcelo segue perguntando: Tia, fala comigo? Chama o Bernardo aí, tia! Desliga o telefone e chora. Segue até a portaria chorando e diz: Espera, eu preciso que vocês me levem até o jornal. Tenho que pegar chave de casa e carteira. Meu pai morreu. Terminando de falar já com a voz trêmula, volta a chorar. Marinis lhe dá uma abraço e diz: Meus sentimentos. Adriando também o abraça e lhe dá os sentimentos. Levam Marcelo até o jornal para pegar o que precisava. Quando Marcelo chegou ali, viu que também havia esquecido a agenda. Colocou tudo na bolsa, olhou em volta para ver se não esquecia nada e saiu. Antes de sair Marcelo escreveu no verso de uma publicidade de um self-service novo um recado para seu chefe comunicando o falecimento de seu pai e que iria a Ouro Branco. Quando chegou na rua, viu o carro de Adriano e Marinis de pé do lado de fora do carro. Você quer que te levemos à rodoviária? Disse Marinis em tom educado a Marcelo que queria uma carona sim, mas para casa. Que não poderia ir a Ouro Branco sem antes passar em casa e pegar algumas roupas. Os dois policiais deixaram Marcelo na porta do edifício se despediram rápido e deixaram que ele tivesse seu tempo. Ele saiu do carro, se depediu e foi em direção ao porteiro. parou, virou de costas e disse: é, até breve. Passou pelo porteiro com um seco oi e subiu ao seu apartamento.

sábado, 19 de agosto de 2006

Capítulo V - Atipicos dias - familia, morte e fofoca.

Depois de um dia cheio de trabalho, escreveu para todo o fim de semana e por boa política com seu chefe, ficou de enviar algumas notas que sairiam na segunda-feira por internet. O fim de semana era morno, nada de agitos pós carnavalescos na cidade. Sem Pierrots, confete e menos ainda champagne dos patrões, Marcelo aproveitou o fim de tarde de verão e foi a Ouro Branco visitar seus pais.
Da janela do ônibus, com ar condicionado que fazia esquecer o calor que fazia do lado de fora, Marcelo via um jovem em seu carro conversível colocar um cd e subir o volume. O rapaz começou a cantar e sacudir a cabeça de um lado ao outro. Marcelo não escutava nada e tentava adivinhar que música ele poderia estar escutando. Coisa de futriqueiro - pensou Marcelo e pôs a mão tapando os olhos se auto-recriminando. Quando tirou as mãos, viu que o tipo olhava para um linda garota que passava pela calçada. Um freiada alguns segundos depois e já tinha uma batida de carros ao lado. Marcelo ainda teve tempo de ver quem foi aquela mulher causadora da batida do conversível enquanto o ônibus arrancava em passo mais lento. E viu que era uma mulher com um olhar encantador. Marcelo viu que o rapaz tinha uma boa razão pra não estar olhando pra frente quando o sinal se pôs verde. Pé na estrada, e enquanto o ônibus subia a 040, um discman adormecia Marcelo em poucos minutos. A verdade é que perdeu um lindo pôr do sol na estrada.
Como se tivessem passado minutos. Ouro Branco. Para casa da mamãe. Comer comida feita com carinho e não fazer nada. Teoricamente. Marcelo se desentendia em suas filosofias de vida com seus pais e muitas vezes discutiam por nada. Passavam boa parte do dia discutindo política, sociedade, economia e umas quantas bobeiras em que não se entendiam. Sua mãe aglumas vezes se metia também discutia muito. Pensavam muito diferente. Mas naquele fim de semana em especial, Marcelo percebeu que seu pai não estava para muita prosa. na verdade tinha um olhar perdido e distante como nunca. Fumava seu ciagrro de palha na varanda sozinho. Tossia até engasgar. Tomava um pouco de chá e passava. Mas não olhava muito para ninguém. Marcelo percebia que estava sendo observado por ele quando não o olhava. Quando voltava o olhar a seu pai, ele disfarçava, fazia um piadinha, fingia que estava buscando algo ou pedia ajuda para alguma coisa. Não queria muita prosa. A mãe de Marcelo parecia que tinha envelhecido algunos anos depois do Natal. Estava preocupada com a mudança tão sem explicação de seu marido e não sabia como reagir a isso. Marcelo viu que a coisa não ia muito bem por ali. Mas não sabia muito bem o que fazer. Seus pais eram pouco abertos a conversas pessoais e não lhe davam muita possibilidade de diálogo. Marcelo passou um fim de semana inquietante. Um ruga de preocupação voltou com ele em sua testa naquele domingo de noite. No ônibus de volta não conseguiu descansar um só segundo por tão atípico que tinha aquele final de semana em família. Desconectado da capital e sem conseguir conectar-se a sua família, a cabeça de Marcelo vôou em um fim de semana de muito agito na porta da sua casa.
Pela manhã, entre um bom café da manhã cheio de frutas, a cabeça de Marcelo ainda ia pela preocupação com o estranho final de semana em família. Quando corria o ollho no jornal, se assutou quando viu em sua seção favorita o nome da rua onde morava. E umas poucas linhas abaixo a referência a cercania ao automóvel clube. Se despertou do estado de transe que aquele torpe fim de semana tinha lhe causado e voltou ao começo da notícia. Mulher assassinada em edifício de luxo no centro. E a matéria seguia com todo um relato de um porteiro do edifício que encontrou " uma mulher que tentava por quatro dias seguidos chamar em seu apartamento e ninguém respondia". Uma amiga tentava falar por telefone e passou os quatro dias por ali até que no quarto pressionou o porteiro e ao chegarem à porta sentiram um cheiro insuportávelmente estranho. "Depois de chamar por mais de meia hora, ele correu até a portaria e pegou uma maleta de ferramentas e tratou de abrir a porta." Quando entraram viram a dona do apartamento 1102 nua na cama cheia de sangue e alguns mosquitos que sobrevoavam a difunta. A polícia e a perícia estiveram ali no mesmo dia pela tarde. E apesar de estar nua na cama, constaram que ela não tinha tido nenhum tipo de relação sexual antes de morrer.
Marcelo levantou de uma só vez da mesa e foi atrás do celular perdido em algum lugar da casa. Meia hora depois encontrou o aparelho entre duas almofadas do sofá da sala. Buscava o telefone de um velho amigo da delegacia de polícia perto de sua casa. Um detetive da seção de homicídios que Marcelo fazia questão de conservar para estar sempre perto de sua verdadeira paixão jornalística. Por um desses acasos do destino, não era ele quem cuidava do caso e sim um colega. Mas que poderia apresentar a Marcelo sem problemas. O feeling jornalístico incomodava como nunca. Marcaram um café pela tarde com o delegado e o detetive seu amigo. Marcelo disse que morava em frente e o delegado se interessou em conhecê-lo.
Antes de sair para trabalhar, Marcelo reunia uma duzia de coisas na mão buscando sua bolsa. Enquanto buscava viu sobre a estante da entrada o bilhete sem assinatura que lhe esperavam no terraço do prédio. Como a cabeça esteve envolvida com tantas coisas nos últimos dias, acabou se esquecendo do misterioso encontro e ficou com aquilo na cabeça. Quem poderia ter enviado tão intrigante convite? Juntou todas as coisas na bolsa e colocou em meio a sua agenda aquilo que nem sabia a procedência e que bem podia ser uma brincadeira sem nenhuma graça de algum vizinho machista com ressaca de carnaval.
Foi trabalhar com a cabeça dando voltas e voltas sobre o estranho fim de semana. Uma família com um comportamento anormalmente preocupante e um assassinato perto da sua casa. Falar da pouca vida social de um fim de semana sem agito na cidade era resgatar velhas histórias de figurões e fazer fofoca. E isso ele fazia muito bem. O trabalho passou voando e quando se deu conta já estava atrasado para o encontro com seu amigo detetive e o delegado. Saiu apressado do jornal, deixando carteira, agenda e chave de casa pra trás. Chamou um taxi e pediu pressa para chegar ao Café que se encontrava na metade do caminho entre o jornal e sua casa. Um trânsito inexplicável fez com que ele chegasse 10 minutos atrasado. Quando chegou, não viu seu amigo e nem sabia a cara que tinha o tal delegado. Sentou, pediu um chá e pôs-se a esperar.

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Capítulo IV - A ressaca do dia seguinte

O telefone celular não para de apitar. Marcelo, ainda sonolento, foi em busca do intermitente apito que lhe despertara. No celular haviam 12 chamadas não atendidas, 5 mensagens de texto e 3 de voz. Alguém buscava mesmo a Marcelo. Mas não era só uma pessoa, senão várias. Já eram 16:20, se deu conta Marcelo pela hora da última chamada. E foi então que recapitulou que ficou até 9 da manhã escrevendo. O cinzeiro cheio, as garrafas vazias e a cabeça doía. Água, açúcar, carboidrato, banho frio, cama. Era o que passava sem muita lógica pela cabeça de Marcelo. Já tinha perdido os compromissos e o dia de trabalho, que não lhe restou outra coisa que colocar-se a responder o que era de responder no celular e terminar de curtir aquela quinta-feira de ressaca em casa mesmo. A seu chefe disse a verdade, que esteve escrevendo toda a noite e que terminou pela manhã. Como já tinha enviado por mail o material da coluna e tinha moral com o chefe, levou uma bronca de leve que ficou muito barato. Sua mãe também tinha chamado umas quantas vezes, e queria só um pouco de atenção e saber como ele estava. Uns amigos chamando pra sair, que iriam a um café depois do trabalho em um happy hour. Convites para uma noite de festa da alta sociedade em uma boite nova que tinha inaugurado na semana anterior, e que era justo o tema da coluna daquele dia. Marcelo, dando-se por satisfeito, recusou tudo e trancou-se em seu mundo.
Desceu até a vídeo locadora e alugou um lançamento argentino, gênero de filme que ele adorava e cultivava dos 2 anos que morou em Buenos Aires. Levou também uma comédia italiana, por recomendação do atendente. Se trancou, apagou o celular, pipocas no microondas, chá, seu cigarrinho e cortinas fechadas. Dormiu nos primeiros 10 minutos do filme. Acordou já tinha uma hora e 20 e ele voltou tudo ao começo e viu de novo. Achou interessante e intrigante. Se sentou na varanda e pôs-se a fumar e ver a rotina da rua. Butekim enchendo de trabalhadores ao final da jornada de trabalho. Uma mulher reclamando de uma multa com o policial. Um rapaz que levava o cachorro para usar a rua de banheiro. Um casal que se desentendia e se colocavam a brigar na esquina. E Marcelo absorvendo tudo aquilo muito superficialmente, como uma esponja nova. Muita informação se processando ao mesmo tempo dificultava que ele pudesse organizar os pensamentos. Decide voltar e ver o outro filme, a comédia italiana. Mais chá e agora um resto de sushi da festa na geladeira. Filme de comédia pouco arriscado. Ficou beirando o cômico todo o tempo e levou Marcelo a sair do estado de entropia que levava todo o dia de tão surpreendido com a má qualidade do filme. Se levantou revoltado e foi buscar uma verdadeira comédia em sua colecão de Woody Allen. Entre "Desconstruindo Harry" e "Todos dizem eu te amo", se animou mais pelo segundo. Talvez pelo tom musical, talvez pelo tema de sexo, que sempre interessara a Marcelo. Mas enquanto preparava um cigarro para dar boas gargalhadas durante o filme, se deu conta que o apartamento da frente, o mesmo da noite anterior, seguia com a luz acesa. Se deu ao trabalho de prestar atenção e que a janela regulava altura com a que ele tinha visto tão pouco interessante cena de sexo na noite anterior. Mas o que mais chamava sua atenção era que a luz seguia acesa. Uma hora e pouco de Woody Allen bastaram para renovar as energias de Marcelo e colocar a cabeça pra funcionar em ritmo normal.
Decidiu sair para correr. Adorava fazer isso de noite, ainda que o centro não lhe proporcionava a melhor condição de segurança pra isso, ele saia pra correr sem nada de valor, o que facilitava o fato de que quando alguém o abordava na rua na intenção de assaltá-lo - e já tinha passado umas quantas vezes - o ladrão se frustrava porque ele não tinha nada de valor para lhe dar. Correu entre 50 minutos, 1 hora, mais ou menos. Entre suas rotinas diárias, tinha por prática sempre fazer pelo menos 1 hora de esportes. Que fosse a bicicleta em seu apartamento, umas horas na piscina do clube ou corridas noturnas, mas esse era um hábito que sempre teve, desde que era adolescente. Chegou em casa com a cabeça tranquila. A corrida fez muito bem pra cabeça e o fez pensar e organizar os pensamentos. Uma ducha demorada, em que esquecera o tempo e preocupara só com a água batendo forte em suas costas.
Levava um short de pijama de seda negro com detalhes em rosa. Sentou-se na varanda para escrever quando se deu conta que a mesma luz pela janela seguia acesa. Ding, dong! Alguém chamava na porta. Deve ser alguém do prédio, pensou Marcelo, já que não chamaram ao interfone. Foi pôr seu hobby e demorou a encontrá-lo já que a casa estava uma bagunça de uma festa do dia anterior. A campainha não voltou a chamar. Marcelo achou estranho e não abriu a porta. Olhou pelo olho mágico e não viu ninguém. Voltou-se à varanda e intrigado com aquela luz acesa, pôs-se a escrever e a colocar mistério em seu livro. A verdade é que lhe faltava algo de romance e não de mistério no livro e passou boa parte do tempo apagando e escrevendo. Para ao final ter umas poucas páginas mais que nem gostava muito.
"Melhor descansar e recuperar o ritmo normal amanhã. Já é madrugada e amanhã não posso faltar outra vez ao trabalho." - falava sozinho, Marcelo.
Pela manhã, sobre as 10 mais ou menos se levantou. Foi até a portaria para pegar o jornal. Quando abriu a porta, viu um papel no chão do lado de fora. Pegou o papel dobrado, abriu e leu: "Te espero em uma hora no terraço do prédio! Um beijo". Sem entender muito bem do que se tratava, foi até a portaria, pegou o jornal e perguntou ao porteiro se alguém havia procurado por ele no dia anterior. O porteiro respondeu negativamente e colocou Marcelo a pensar que tinha algum admirador no prédio, ou quem sabe, uma menos informada, admiradora. Sentou-se na varanda a ler o jornal e se deu conta que a luz seguia acesa. Olhou para baixo e a rua estava aumentando seu movimento diário. Via a portaria do prédio de frente e ali estava o porteiro controlando a entrada e saída de pessoas. "Coisas da minha cabeça cheia de idéias" - pensou Marcelo. Colocou uma roupa e saiu para trabalhar. Já com um pouco de pressa, esqueceu o computador ligado na varanda e o celular perdido em algum lugar de seu quarto.

terça-feira, 14 de março de 2006

Capítulo III - Sexo, violência e romance

Como em uma vitrine a la holandesa, Marcelo se entreteve e relaxou com uma mulher muito bonita iniciando um strip-tease. Dançava e provocava alguém que parecia estar sentado em alguma cadeira ou um banco. Sentava no colo dele, e tirava cada peça de roupa dela e dele em um ritmo muito lento. Filme porno de graça na janela de Marcelo, que pouco se entretia já que praticamente só via a mulher que dançava, parecia-lhe que o homem estava com os braços amarrados ou algo assim. Fetiches, pensava Marcelo, que também gostava de variar entre quatro paredes. Se entreteve entre um cigarro e mais uns goles nos vinhos que sobravam sem dar muita atenção ao lento processo sexual que se preparava para acontecer. Já desistindo de escrever e sem nenhuma inspiração, foi buscar uma das suas divas da música popular brasileira. Meia luz no quarto, seu digestivo e boa noite cinderela.
Já estava deitado na cama, com a luz apagada e matando a ponta do digestivo quando começou a escutar uma gritaria na rua que não demorou poucos minutos para somarem sirenes, a orquestra cotidiana no Butekim. Marcelo olhava ao longe as luzes vermelhas que se aproximavam e já pensava enquanto suspirava. Mais uma turminha que dorme no xadrez hoje. Mas as sirenes não pararam de soar e em poucos minutos haviam mais dois carros apitando e a gritaria seguia. Marcelo não se conteve na cama e em um salto estava espiando pela espaço entre a cortina e a parede. E podia ver bem o que acontecia, inclusive escutar.
Era um irmão de um policial civil que tinha caído no golpe das prostitutas e estava de volta uma semana depois. Com os olhos vermelhos e um perfume de cachaça da boa, estava discutindo com o cafetão que lhe havia roubado. Chegou no bar lá pelas três da manhã e sentou em uma mesa no fundo. Depois de algum tempo viu chegar a puta que te havida jurado dar amor a ele na semana anterior e logo em seguida, o seu cafetão. E a confusão já podia ter começado aí, porque ela sentou no balcão do bar e ele foi pro fundo do bar também. Mas ele não reconhecia o idiota da semana anterior sentado duas mesas atrás dele. Renato era estudante de direito e queria seguir a carreira do pai, a de juíz ou do irmão, a de polícia civil. Muito mais valente que paciente, se conteve bem, até porque o cafetão era bem truculento e ele não estava em condições de derrubar nem uma mosca de tanta pinga que tinha no sangue. Pegou o telefone, ligou pro irmão e contou que encontrou o cara que lhe havia roubado. Ficou quietinho vendo a cena, e uns poucos 5 minutos depois chegou um outro que vinha empolgado que nem ele na semana anterior, gravata na testa, gritando com Kim que queria um scotch e um cigarro. E nesse momento em que chamava a atenção de todos do bar, Renato percebeu que a puta olhava para o cafetão e sorria com certo sarcasmo. O cafetão acenava positivamente com a cabeça e Renato quebrava uma dúzia de palitos de raiva enquanto começava a entender que o cafetão e a puta faziam um extra de golpistas no fim da noite. Se levanta derrubando o copo vazio e vai ao banheiro. O copo, ao quebrar chamou a atenção de boa parte do bar. Mas os dois golpistas tinham olhos fixos na sua próxima vítima. A puta já começava pedindo fogo ao rapaz e fazendo uma piadinha elogiando a gravata dele. Renato, no banheiro, batia a cabeça contra a porta do mictório e subia a raiva e o álcool. Se não bastasse, encontra no bolso de sua jaqueta um tirinho que ele nunca foi de dispensar. Com o coquetel turbinado pelo desejo de que podia mais que qualquer pessoa no mundo vingar-se dos dois ali e agora, sai do banheiro e vê que o cafetão está de pé e que a puta já não estava e nem o palhaço com gravata na testa. Olhou para mesa do cafetão e viu os talheres com que ele tinha comido a tradicional lasanha do bar. Com garfo e faca em cada uma das mãos, acerta o cafetão quando ele já estava na porta do bar. Renato acertou um garfo em sua nuca e ele caiu de joelhos. Quando viu, do outro lado da rua a puta com o rapaz, gritou e correu em direção a puta como quem não vai para perder a viagem. Mas antes de chegar escutou a voz do cafetão lhe chamando de o idiota da semana passada, e que agora o reconhecia. O cafetão tirou o garfo da nuca e viu que a ferida sangrava muito e que não morreria com um golpe de garfo. Se levantou e foi em direção a Renato, mas tão pouco foi uma briga dessas de muita ação. Renato se defendia com a faca e o cafetão tentava atacar enquanto lavavam toda a roupa suja na rua. Mas a confusão ficou por aí até que chegou um amigo do irmão de Renato em uma viatura e não demorou muito pra chegar o irmão e mais duas viaturas fechando a rua, mas ainda assim não conseguindo conter a briga porque Renato não se afastava muito e queria briga.
Marcelo via pela janela que a puta já havia sido algemada e colocada no banco de trás de uma das viaturas. Mais um pouco de gritaria e discussão, e a polícia sacou as armas e fez com que o cafetão se afastasse, mas Renato ia atrás e seguia insultando e dizendo que queria matá-lo. Seu irmão percebeu que ele estava fora de si e tratou de imobilizá-lo e também o algemou e colocou cada um em uma viatura. Depois daí, Marcelo sabia que o resultado só mesmo em uma nota de rodapé do jornal do dia seguinte como uma dupla de golpistas pegos pela polícia, e que Renato ia se safar e voltaria para casa assim que seu irmão entendesse que ele não estivesse mais sobre os efeitos dos entorpecentes que havia consumido aquela noite. E Marcelo pensou que estava imaginando coisas, fazendo suposições e criando histórias. E gostou, porque estava de volta sua inspiração e foi para a sala escrever um pouco seu romance. Sentou e escreveu pouco mais de dez páginas e parou no meio de uma frase quando se deu conta que o mesmo quarto que te chamou a atenção de madrugada, seguia com a luz acesa.